(…)
[A mais visível das problemáticas é] a falta de compreensão
sobre o que significa ser a favor da escolha.
(…)
As pessoas contra o aborto dizem-se pró-vida quando na verdade
são anti-escolha.
(…)
Quem é a favor da legalização do aborto é a favor da opção,
da escolha e, escolhendo fazer uma IVG, que esse procedimento seja feito de
forma segura.
(…)
Há muitas mulheres que o fazem por questões económicas e de
saúde.
(…)
Importa referir que numa coisa ele [um indivíduo conhecido
como Numeiro] acertou: aborto não é contraceptivo, porque já aconteceu a
concepção.
(…)
Quem defende que a vida existe desde a concepção, comparando
um embrião a um bebé, digo o que está a ser dito pela internet fora: para um
embrião ser conservado, precisa de ser congelado, quando o mesmo cuidado não
pode ser dado a um bebé.
(…)
Assim sendo, um embrião não é equiparável a um bebé.
(…)
Quanto ao aborto voluntário, trata-se de um ato obstétrico de
Planeamento Familiar.
(…)
Para além de todos os métodos contracetivos terem falhas,
ainda temos a questão da violação.
(…)
Ora, para quem defende que se deveria proibir o aborto e
apenas abrir exceções para casos particulares como as violações, lembre-se de
como são, muitas vezes, difíceis de provar.
(…)
Além disso, fazer uma IVG não tem apenas a ver com não querer
ser mãe — o que já seria razão suficiente —, mas também com o facto de não
querer, ou não poder, estar grávida.
(…)
Para além das razões económicas, que levam muitas mulheres já
mães de outros filhos a escolher uma IVG, há razões de saúde que impossibilitam
prosseguir com uma gravidez.
(…)
Há mulheres que engravidam e descobrem depois que têm cancro,
cujo tratamento não lhes permite continuar com a gravidez.
(…)
O que começou por limitar o acesso à IVG [nos EUA] com
abertura de exceções, abriu o caminho a uma desumanização extrema nos cuidados
de saúde das mulheres.
(…)
As mulheres não são meras incubadoras, são pessoas e merecem
dignidade.
(…)
O óvulo não se fecundou sozinho, mas quem carrega o peso
emocional e físico da gravidez é a mulher.
(…)
Contam-se mais de vinte grandes incómodos físicos e
emocionais que vêm no pacote da gravidez que nos é vendido como um estado de
graça.
(…)
Importa referir que quem é culpada se aborta é a mulher.
(…)
Quem é
“pró-vida”, na verdade, não só é anti-escolha como é só meramente
pró-nascimento e não pró-vida.
(…)
Se só zelam pelo nascimento, não querendo saber do bem-estar
da grávida ou do crescimento da criança, o seu raciocínio tem por base uma
culpabilidade da mulher.
O
Governo escolhe condicionar o apoio à meta de redução de pelo menos 90% das
emissões líquidas e a própria ambição climática europeia a um rol de excepções
e subterfúgios.
(…)
Este é um recuo alarmante num momento que
exige, mais do que nunca, compromisso e responsabilidade.
(…)
A
exclusão das emissões dos incêndios florestais, por exemplo, ignora que a
vulnerabilidade do território ao fogo está intrinsecamente ligada a escolhas de
ordenamento do solo, de prevenção e de restauro ecológico.
(…)
Particularmente
preocupante é a defesa de um “tratamento especial” para a agricultura, que, em
vez de impulsionar a transição do sector, perpetua um modelo intensivo e
emissor líquido.
(…)
A ciência é clara: atrasar os cortes de
emissões apenas agrava os custos sociais, económicos e ambientais.
(…)
Portugal tem condições únicas para ser um
exemplo europeu [como, entre outras possuir] uma sociedade atenta à
urgência climática.
(…)
O
Governo deve comprometer-se claramente com a integridade das metas europeias e
a necessidade de acção imediata – sem atalhos nem excepções que
desresponsabilizem o país.
(…)
Portugal
ainda vai a tempo de, pelo menos, remendar esta postura, com a grande
responsabilidade democrática que a ciência e a história exigem.
(…)
A credibilidade de Portugal e a justiça
climática global correm o risco de ser ainda mais comprometidas.
Bianca Mattos, “Público”
(sem link)
A vaga neoliberal instalou-se dentro dos
regimes democráticos e sangra-os.
(…)
Os partidos que governam têm nas questões
decisivas para o seu desenvolvimento económico uma pauta única.
(…)
A
discussão sobre os grandes problemas do país, da UE e do mundo está a cargo de
comentadores com 90% de opiniões idênticas ou muito parecidas.
(…)
Os partidos governantes não serão iguais, mas
alinham na busca dos mesmos fins.
(…)
O mundo das brutais desigualdades instalou-se.
(…)
As
outrora chamadas linhas vermelhas de tanto se desbotarem passaram a incolores
em quase todos os associados de Bruxelas para evitar a invocada
ingovernabilidade.
(…)
Os
donos disto tudo não veem problema no Chega ser a alternativa, tal como em
Itália com Meloni, toda repimpada entre Bruxelas e Washington.
(…)
Os votos no Chega não são só protesto e raiva,
talvez sejam uma espécie de linha S.O.S.
(…)
Quando tudo em redor está mal, pode ser
atrativo experimentar o pior.
(…)
Em
termos de psicologia de massas, o sentimento pode ser irracional, mas a ideia
punir o statu quo
“precisa” do voto em Ventura.
(…)
O PS
português faz de conta que não vê o desaparecimento de outros
"pê-ésses" noutros países, exatamente por não fazerem diferente.
(…)
O PCP dirige-se a uma parte da sociedade que,
no essencial, já não o ouve ou já não existe.
(…)
Fica contente com ir perdendo votos e deputados
a conta-gotas.
(…)
O BE acantonou-se no seu identitarismo e
fechou-se.
(…)
É
necessário um exercício de grande humildade para compreender e ajustar os
estilos, as propostas e dar maior clareza estratégica quanto aos objetivos.
(…)
Como é
possível que estes dois partidos, ao cabo de todos estes anos, estejam de
costas voltadas, como competidores incapazes de forjar algo comum, (…) ?
Domingos Lopes, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário