sexta-feira, 16 de março de 2012

PRESIDENTE SENIL?

O Presidente da República parece ter sido atacado por uma senilidade aguda e súbita. Mesmo para quem nunca nutriu grande simpatia por ele e nem sequer lhe confiou o voto há atitudes do Prof. Cavaco completamente inexplicáveis para um político com a tarimba que ele tem. É que, além do mais, é a instituição “Presidência da República” que sai desprestigiada não só interna como externamente. Ou será que o Prof. Cavaco está a mostrar a sua verdadeira face?
Mesmo incondicionais apoiantes seus vêm agora criticá-lo abertamente, o que é sintomático. É o caso do Prof. Carlos Amaral Dias, Diretor do Instituto Superior Miguel Torga, autor do seguinte artigo de opinião que transcrevemos do Diário de Coimbra de ontem.

Espelho quebrado
Dir-se-á nos tempos de crise em que vivemos, falar de Cavaco Silva em vez de falar da troika é regressar a um mundo de “coisas pouco importantes” em vez de falar do essencial.
Nada de mais falso, já que a progressiva impopularidade do atual Presidente da República tem uma dimensão política incontornável por uma simples e única razão. Envolve a primeira figura do Estado, eleita diretamente pelo povo que avaliou e votou, ou vetou, o conteúdo do seu discurso.
O problema que se passa com o atual Presidente da República é curioso.
Em janeiro, mês das primeiras desgraças presidenciais, o professor Cavaco Silva afirmou-se em Famalicão como “o provedor do povo”, visto que, segundo as suas palavras, recebe, mensalmente, mais de três mil cartas em que os portugueses se lamentam, diz ele, das suas incertezas e das suas angústias.
Segundo as suas palavras, é destas que o PR é provedor, sendo também provedor das suas ambições.
Mas, quase em simultâneo, veio a sua maior gafe, a saber, a da penúria das suas reformas, o que naturalmente escandalizou os portugueses.
Claro que Cavaco que, diga-se de passagem, nunca se explicou bem aos portugueses, aprendeu aí uma lição a que chamaria, para simplificar, o magistério do bunkar.
Para quem não acredite, sugiro uma revisitação ao que se passou nos meados do passado mês na escola António Arroio, em Lisboa.
Cavaco Silva comprometera-sena visita à escola referida. À sua espera, prevista pela manhã, aguardavam-no muitos jovens, concentrados numa manifestação contra as medidas escolares. Ao que parece, a contestação tinha por base os cortes nos passes sociais dos estudantes e as fracas condições escolares bem como a ausência de refeitórios e a falta de material.
Pouco depois das 11 horas, a PSP confirmava aos jornalistas que a presença do chefe de estado tinha sido cancelada.
Bem bradaram as vozes oficiais, garantindo que o cancelamento só poderia ter por base uma razão, um imponderável. Ninguém sabe qual.
Os alunos tinham sido instruídos pela direção da escola para serem bem comportados, mas decidiram-se por manifestar as suas reivindicações.
O Presidente da República, ao não comparecer, desmentiu pela sua própria prática o seu autoproclamado desígnio de provedor do povo.
Em vez de dar voz às incertezas e às angústias, Cavaco Silva (o provedor do povo) refugiou-se num imponderável. A este, chamo eu bunker presidencial.
Agora, no prefácio do VI volume dos seus Roteiros, Cavaco fez um ajuste de contas com José Sócrates. Ou seja, quebra o bunker da pior forma.
É pouco relevante que as vozes de Belém neguem o evidente, afirmando que o texto não passa de uma explicação objetiva. Nada mais falso. Cavaco mostra a sua verdadeira face por de trás da máscara da presidência. Designa as novas leis do divórcio, da paridade e do casamento homossexual como temas chocantes e que serviram, segundo ele, para iludir os “cidadãos de opções essenciais”.
A reformada modernidade é para Cavaco uma retórica de segundo plano, esquecendo-se que em muitos países europeus, liderados por governos bem longe da chamada esquerda, essas mesmas questões foram resolvidas, bem, como outras que ainda estão por resolver, como por exemplo, a eutanásia.
Mas Cavaco obteve “os maiores elogios” de que aliás o Expresso da semana passada se deu conta. Adão e Silva afirmou que o texto do Presidente da República não tem a elevação que se espera de quem ocupa tal cargo. Henrique Raposo afirma Cavaco “dono de uma verdade faraónica”. Martim Silva intitula a sua opinião de uma forma contundente: “O presidente da junta”.
Exmo. Sr. Presidente da República, afirmei há pouco tempo que Vª Exa. quebrou o espelho onde se refletia a sua imagem pública. Parece determinado em continuar a quebrá-lo.
Lamento que assim seja.

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