À medida que se vão sentindo com mais força, por via da proteção que recebem dos governos, as grandes empresas e, nomeadamente, o grande capital financeiro vão perdendo a vergonha face a atitudes até há pouco impensáveis.
Os exemplos vêm de fora como aquele que há dois dias chegou até nós proveniente, imagine-se, da pátria da liberdade e da defesa dos direitos humanos: nos EUA está a generalizar-se a prática de muitas empresas pedirem os nomes de utilizador e as passwords aos seus candidatos e atuais funcionários. Trata-se da mais descarada violação da privacidade daqueles que usam redes sociais como o Facebook e o Twitter.
O texto seguinte, da autoria de Daniel Oliveira, que hoje podemos ler no “Expresso”, revela o desplante de uma entidade bancária perante a Universidade Lusófona quando está a ser renegociado com o BES o financiamento daquela empresa de ensino.
O NEGÓCIO DA CHANTAGEM
A Universidade Lusófona fez um apelo pouco ortodoxo aos seus colaboradores: que passassem a ser clientes do Banco Espírito Santo e que, além disso, aderissem a um determinado cartão daquela entidade bancária. A razão deste ‘pedido’ é simples: a Universidade em causa está a renegociar o financiamento do BES e sete exige, em troca, cem novas contas. E esta chantagem foi explicada, em carta e sem rodeios e secretismos, aos que trabalham para a Lusófona. A Universidade tinha oito dias para angariar cem novos clientes para o BES.
Não discuto aqui a legalidade desta forma de ‘marqueting’, que passa por fazer chantagem sobre empregadores para estes fazerem chantagem sobre empregados. Se é legal, não devia ser. Porque é imoral. Mas já nada me espanta. A crise económica deu todo o poder aos chantagistas. Na Europa e em Portugal, já quase todos aceitam a cobardia como um comportamento aceitável e até merecedor de louvor. A Europa faz chantagem sobre Portugal, o Governo faz chantagem sobre os portugueses, aos bancos fazem chantagem sobre as empresas, as empresas fazem chantagem sobre os trabalhadores. E o medo é a máquina que faz Portugal funcionar. O que o BES exige à Lusófona e a Lusófona exige aos seus colaboradores é apenas mais um episódio da nossa degradação moral. Quem pede, aproveita-se da crise. Quem deve, aceita e cala-se. E o exemplo, no abuso e na cobardia, vem de cima.
sábado, 31 de março de 2012
CAMINHAMOS PARA ONDE?
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