domingo, 18 de março de 2012

UM EXEMPLO ELUCIDATIVO

A reabilitação do parque escolar foi das poucas medidas do anterior que devem merecer elogio. Não só serviram para reabilitar imensas escolas que estavam em estado de degradação como proporcionaram algum ânimo à nossa debilitada economia criando os tão ambicionados postos de trabalho. Para o atual governo parece ter constituído uma ação criminosa que é preciso denunciar aos quatro ventos na suposição de que terá havido gastos exagerados. Mas a questão de fundo não é essa até porque os exemplos recentes do que aconteceu com a Lusoponte, a EDP e outros são bem elucidativos. O que principalmente se pretende é criar a ideia de que todos os gastos públicos são mal orientados mesmo que para isso se tenha de manipular os resultados de uma auditoria feita à Parque Escolar. Se quisermos fazer uma análise mais profunda, facilmente encontramos nesta ação o caráter ideológico do atual governo. A sua orientação vai no sentido de destruir tudo o que é público, mesmo que funcione bem e seja benéfico para a maioria da população. Veja-se o que acontece, para além da educação, com a saúde e a segurança social, para citarmos apenas duas grandes e importantes áreas que afetam todos os portugueses.
Mas voltemos ao que sucedeu com os investimentos nas escolas e, para isso vamo-nos socorrer do excerto de um artigo de opinião que o sociólogo Pedro Adão e Silva assina na última edição do “Expresso” sobre “a discussão em torno da Parque Escolar

(…)“A história conta-se com relativa simplicidade. Contaminado pela cultura de facilitismo que nunca se cansou de criticar, o Ministro Nuno Crato declarou a reabilitação do parque escolar como um caso de desperdício e de má gestão de recursos públicos. Para exemplificar, falou em derrapagens astronómicas, alegadamente apuradas pela Inspeção-Geral de Finanças. Numa altura em que a auditoria ainda não era pública, a imprensa, sugestionada pelo ministro, avançou com um desvio na ordem dos 450%.
A estratégia parece-me clara. Em lugar de assumir a sua desconfiança política face à escola pública, o ministro da Educação optou por encontrar um bode expiatório que lhe permitia sugerir que o investimento no parque escolar é exemplar da ineficiência genérica do Estado. Pelo caminho, ocultou a relevância deste esforço na resposta à contração do investimento privado no início da crise, a necessidade de reabilitar edifícios em acelerado estado de degradação, quando não em ruínas, e o potencial de geração de receitas próprias de muitas das escolas reabilitadas. Acima de tudo, manipulou uma auditoria que não só não identifica desvios colossais, como vai ao ponto de elogiar o conselho de administração da Parque Escolar por ter adotado “boas práticas de gestão (e) garantido o controlo das derrapagens de custo das empreitadas”.
Além de nos dizer alguma coisa sobre o perfil do ministro Crato, a sensação com que se fica deste processo é que, no fundo, o objetivo passa por encontrar uma cortina de fumo para substituir uma administração de uma empresa pública que tinha dado provas. (…)”

De realçar ainda “o papel da comunicação social neste processo” que, sem qualquer espírito crítico se limita a reproduzir aquilo que os governos querem que seja dito mesmo que se trate de uma falsidade. No caso aqui citado, bastava ler o relatório para se perceber a diferença entre o que este dizia e o que o governo pretendia que fosse passado para a opinião pública.

Luís Moleiro

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