Já aqui referimos que a destruição da Escola Pública se encontra em plena velocidade de cruzeiro. Todas as medidas apontam nesse sentido, a última das quais é o chamado cheque-ensino.
Infelizmente uma parte
significativa da população mais pobre ainda não se apercebeu (ou não deixam que
se aperceba) de que a única via para a sua ascensão social é a educação. A direita
sabe que assim é e envida todos os esforços para impedir que os pobres sejam
promovidos a outros patamares da sociedade. O Governo actual, representante da
direita mais retrógrada, é o parceiro ideal para levar a cabo o ajuste de
contas com a Escola Pública, uma das maiores conquistas de Abril no sentido da
promoção de uma maior igualdade de oportunidades e onde, apesar de tudo, se
verifica um menor desnivelamento entre pobres e ricos.
Para ilustrarmos esta
situação nada melhor que um texto de Ana
Benavente que podemos ler no Público
de hoje.
Estamos
na estação de todos os incêndios. Terríveis e destruidores, abrem e fecham as
notícias. Uma tragédia. E a causa principal está na falta de prevenção.
Mas há um incêndio - uma tragédia - que
dura desde que o Governo PSD/CDS tomou posse ao serviço da troika: a destruição da escola
pública.
Medidas atrás de medidas aparecem de modo
avulso e vão-se impondo. Não me interessa cada medida em si mesma, o que
interessa é que todas, mas todas, fazem parte dum mesmo mandato para tornar a
sociedade portuguesa mais desigual e para destruir a escola pública.
É o aumento do número de alunos por turma,
é o despedimento de milhares de professores, é a precarização docente, é o
regresso a um currículo empobrecido, são os exames à moda antiga em todos os
graus de ensino, é o fim da educação de segunda oportunidade, são os
mega-agrupamentos. Tratam-se as pessoas como números, considerando a Educação
com um gasto do Estado e não como um Investimento.
O nosso país sofreu de falta de escola
durante décadas. Pouca escola para muitos e muita escola para poucos. Já a
Espanha de Franco tinha 10 anos de escolaridade obrigatória no final dos anos
sessenta, e ainda, entre nós, se preparava, penosamente, a passagem de quatro
para seis anos de escolaridade obrigatória. Chegámos a 1974 com analfabetismo e
baixos níveis de literacia.
A Educação é um bem individual e colectivo.
Os países com níveis de qualificação mais elevados resolvem melhor os seus
problemas colectivos, constroem democracias mais participativas e as pessoas
ficam muito menos facilmente prisioneiras do medo e da manipulação pelos
discursos dominantes de quem governa.
Lendo o artigo 74.º da Constituição da
República Portuguesa, não restam dúvidas:
"1. Todos têm direito ao ensino com
garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito
escolar.(...)"
E seguem-se as responsabilidades do Estado,
bem detalhadas.
A Educação para Todos (definida pela UNESCO
e o 2.º Objectivo do Milénio da ONU) é uma obrigação dos Estados democráticos.
Aquilo a que assistimos nestes dois últimos
anos é um golpe que, sob a capa da democracia formal, vai contra a
Constituição, contra a democracia e contra a grande maioria dos cidadãos.
A direita odeia a ascensão social dos mais
pobres através da escola.
Não é por acaso que uma das últimas
bandeiras do actual Governo é o "cheque-ensino" ligado à chamada
liberdade de escolha. E quem comenta cita a OCDE.
Porquê? Porque no final dos anos 2000, esta
organização publicou um importante trabalho, longamente construído e
participado, sobre cenários para a Escola de Amanhã. Afirmando que a manutenção
da escola que herdámos, reprodutora e não adequada aos desafios dos tempos
actuais, é um cenário provável mas não desejável, que a "refundação"
da escola que herdámos, através de inovações graduais será um cenário difícil
mas desejável e, havendo inteligência, o cenário mais provável, a OCDE afirma
que aceitar que o Estado assegure uma quantia para a educação dos mais novos
(cheque-ensino) e deixe de assegurar uma escola pública de qualidade, é um cenário
improvável e não desejável, dado o aumento de desigualdades que provocaria.
Cenário a recusar. Mas é isso que estamos a viver. Um retrocesso manhoso que,
sob a capa da racionalização de meios, destrói, em pouco tempo, o trabalho de
décadas de uma Educação para Todos, bem precioso que não se pode perder.
Assembleia da República, partidos, (PS, é
tempo de rever as vossas posições, ultimamente tão conservadoras na área da
Educação), associações, cidadãos, vamo-nos organizar para esta luta? É uma
questão maior. A Educação está a arder. E é preciso intervir antes que só
fiquem cinzas da escola pública.
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