O impacto das alterações climáticas está a
crescer a um ritmo impensável ainda há pouco tempo e fica a sensação de que o
que está a ser feito para o diminuir é pouco comparado com a emergência em que
se vive. Se toda a humanidade não percepcionar rapidamente desta emergência,
chegará o momento em que a catástrofe se tornará irreversível se é que isso
ainda não está a acontecer em alguns pontos do planeta. As gerações mais jovens
serão as mais atingidas no médio prazo mas todo o futuro da espécie humana está
completamente em causa.
Na sua globalidade, o mundo está a ser
governado por forças poderosas e extremamente egoístas que colocam à frente de
tudo o lucro, sem olharem aos efeitos nefastos que esse objectivo está em
desacordo com as necessidades de sobrevivência de milhares de milhões de seres
humanos.
Começa agora a sentir-se a
consciencialização de sectores cada vez maiores da população mundial no sentido
de que algo tem de ser feito muito rapidamente para que a destruição da vida na
Terra não entre numa espiral irreversível. E é a juventude que parece estar a
tomar nas suas mãos este combate difícil mas necessário.
Está nesta linha o seguinte artigo de
opinião assinado pelo jovem Noah Zino, um dos organizadores da greve climática
estudantil e de outras iniciativas na mesma área, que veio à estampa numa das
edições do “Público” da passada semana e que, pela sua importância, o
reproduzimos aqui.
Ou o idealismo tem sido cada vez menos
ambicioso ou o ser humano tem perdido a sua humanidade. Julgava que o direito à
vida era evidente, mas enganei-me, vivemos num mundo de sociopatas
involuntários.
A tecnologia aproxima-nos da informação,
mas afasta-nos da sua fonte primária: a experiência directa. Vivemos com cada
vez mais informação mas cada vez menos empatia, com cada vez mais dados, mas
com cada vez mais facilidade em descartá-los por superficialidades. O ser
humano não evoluiu para a sobrecarga sensorial do quotidiano urbano, então
filtramos tudo exceptuando os títulos sensacionalistas, ignorando até os jovens que
protestam pelo clima à frente do nosso nariz. O que acontecerá se
nos tornarmos imunes ao choque? Seremos a derradeira bactéria multirresistente?
Apercebi-me da causa disto: a progressão
dos meios de comunicação é paralela à progressão da barbaridade humana. Há doze
mil anos tínhamos pouco mais que conflitos rudimentares enquanto comunicávamos
a cavalo, o jornal trouxe consigo as armas de fogo, a metralhadora surgiu
próxima da disseminação do rádio e a televisão tornou-se num meio de divulgação
chave na mesma altura que a bomba atómica foi inventada.
O aumento da informação expôs as
fragilidades do que era mais fácil de aniquilar, que é hoje toda a humanidade,
à distância de um botão. Considerando que actualmente temos acesso a
ferramentas que tornam instantânea a partilha de informação, estará a
humanidade próxima de produzir a sua última arma? A resposta é não. A
derradeira arma do século XXI já existe e é uma ameaça intrínseca ao ser
humano, um pecado moderno que já perdura desde a antiguidade: a apatia.
A média para as horas de
trabalho num dia é relativamente igual há centenas de anos, mas actualmente há
uma produção infinitamente maior. Naturalmente, todos nós, ao alimentar como
escravos um cadáver adiado, chegamos a casa cansados e sem paciência para o
mundo, caindo na apatia. Contudo, tal como o esforço laboral de há 200 anos não
serve para a sociedade actual, a apatia de há 200 anos não serve para os dias
de hoje, muito menos se queremos resolver ameaças à nossa espécie. Num mundo
infinitamente mais exigente, mantemo-nos infinitamente iguais ao que éramos
há 12 mil anos.
A máquina partidária sabe
disto e aproveita-se desta arma para chegar a consensos fáceis e irrelevantes
com palavras suaves. É assim que decorre a democracia actual e é por isso
que hoje vivemos em
emergência climática mundial e grande parte do mundo nem quer saber.
Teríamos a mesma posição com a escravatura?
Há quem diga que “o mundo tem 12 anos
até aos impactos das alterações climáticas serem irreversíveis e a sociedade
colapsar”. Mas é facto que uma única morte é irreversível e que a sociedade já
colapsa em mais que um local do planeta. Há países que são atingidos por
furacões incessantemente, outros sofrem
secas que privam adultos e crianças das suas necessidades mais
básicas durante meses e, mesmo assim, a meta mais ambiciosa para tornar
qualquer país 100% descarbonizado é o ano de 2050.
Como activista, apelo diariamente à razão pela qual os jovens quebraram a sua
aparente rotina de apatia constante, à luta contra o maior roubo da
história da humanidade, um roubo consciente e propositado: o roubo do nosso
futuro. O quão indiferentes poderemos todos ser para com isto? Levantemo-nos e
lutemos pelo clima como se o fim da sociedade fosse amanhã porque, para muitos,
é.
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