Veio esta tarde a público a informação de
que o PS rompeu com o PSD relativamente à aprovação da nova Lei de Bases da
Saúde (LBS). O que fica desta e de outras tomadas de posição em que os “socialistas”
se envolveram ultimamente tem a ver com a aproximação das legislativas de
outubro e a sua obcecação pela maioria absoluta. O PSD deixou de poder vir a
servir de muleta para os objectivos do PS em termos de aprovação da LBS. Este
episódio configura mais um exemplo do desnorte em que o PS se encontra e das
contradições internas que o envolvem. Não há volta a dar à ideia que se vai
cimentando nos portugueses de que a perdição “de amores” deste partido pelo
poder lhe pode trazer muitos desgostos políticos nos próximos tempos.
O seguinte artigo de opinião assinado por
Domingos Lopes no “Público” de hoje faz uma crítica muito certeira ao actual
posicionamento do PS no xadrez político actual de Portugal.
Havia um PS perdido de amores por mandar
em tudo. Mandou na PR, na AR, no governo, nos principais municípios; era um
mandarim. Foi o que se viu.
O rasto desse tempo não deixa saudades.
Figuras proeminentes desse tempo aguardam julgamentos. Quem em tudo manda (o
verbo é de Carlos César) ilude-se com o poder e, por isso, Portugal é um país
cheio de casos de corrupção que por sinal atingem sobretudo o PS e o PSD, os
dois partidos que mais gostam de mandar e distribuir pelos seus apaniguados os
proveitos da sua “mandação”.
A vocação de um partido político é ser
poder, mas o exercício desse poder, se for livre e destemperado, é a volta ao
tempo velho que Costa tanto criticou antes de ser primeiro-ministro, tendo até
anunciado um tempo novo.
Aliás por amor à verdade, só foi
primeiro-ministro porque teve a coragem política de acabar com o arco da
governança e fazer um acordo com BE e PCP. O PS nem sequer foi o partido mais
votado. Os resultados desse acordo estão à vista, tendo sido invertido o ciclo
de empobrecimento levado a cabo pelo PSD e CDS.
Costa afirmou múltiplas vezes que no que
funciona bem não se mexe, e mesmo que tivesse maioria absoluta, voltaria a
governar com a equipa ganhadora.
Desde o congresso do PS que apareceram à
luz do dia inúmeras “preocupações” quanto a um novo acordo com as esquerdas
devido à moeda única, à UE, à NATO e ao posicionamento histórico e original do
PS; como se o PS, fundado em abril de 1973, não tivesse entrado para um governo
em maio de 1974 com o PCP, o MDP, o PSD, com o país na NATO e em plena guerra
fria.
Nas jornadas
parlamentares do PS o partido parece ter deixado cair o tempo novo
para se lançar na voracidade do tempo velho - abocanhar todo o poder e enxamear
de familiares, amigos e camaradas de confiança em bons lugares públicos, em
suma, regredir aos anos negros do tempo velho.
Seria uma desgraça para o país e não
apenas em Barcelos, Santo Tirso e Castelo Branco, no IPO no Porto, um fartote
para a clientela.
O PS falou claro nas jornadas
parlamentares. As coisas correram bem. Mas tendo corrido bem, então mudar
porquê? Alguém acredita que o BE quer mandar na país? Mesmo que quisesse… O
problema é outro e não é revelado. É o negocismo, os compromissos neoliberais
com Bruxelas, a gula, o clientelismo, a atração ”fatal” por uma maioria muito
grande que dê para mandar. É o regresso ao tempo velho, quando o tempo novo bem
precisava de continuar para melhorar o SNS, a Escola e a Justiça e as condições
de vida de tantos milhões de portugueses.
Quando Costa,
entrando no tempo velho, afirma que a culpa da demora da obtenção da renovação
do cartão de cidadão é dos portugueses que vão para as filas antes de abrirem
as portas dos serviços, está perdido no nevoeiro desse tempo. Terão as portas
do tempo novo sido emperradas definitivamente?
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