(…)
O
Governo de Pequim parece estar a mostrar a sua radical desconfiança em relação
ao reforço da relação entre a UE e os EUA, com o alargamento da NATO e a expansão
das suas ambições.
(…)
Xi
Jinping também sabe que, se disputa a futura liderança mundial, não pode recuar
perante Washington.
(…)
O
líder chinês não pode deixar de notar a formação de uma aliança militar dos EUA
com a Austrália e o Reino Unido para o Pacífico.
(…)
Ninguém
aposta na continuidade de Biden e, mesmo que este tenha adotado a mesma
política que Trump para a China, estar um ou outro a comandar a Casa Branca
poderia implicar diferenças notáveis, pela imprevisibilidade da chefia
republicana.
(…)
[A
China] não tem uma estratégia de colocação de tropas em bases no estrangeiro,
ao contrário de Washington, e expande a sua influência por relações económicas.
(…)
Mas
talvez a evolução mais notável seja a redução da relação financeira com os EUA.
(…)
Como
se verifica pelo gráfico [acima], ao longo da primeira década do século a
relação mútua baseava-se no uso dos excedentes comerciais chineses para comprar
dívida pública norte-americana.
(…)
A
China sabe que está a construir a sua outra metade do planeta. Não quer deixar
ao seu adversário a livre escolha da forma de a enfrentar na economia e na
política.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Os
resultados da primeira volta das eleições francesas contrariaram mais uma vez
as sondagens, mesmo que não de forma tão assustadora como outras recentes.
(…)
A abstenção
foi a segunda maior desde 1958, o que pode ter beneficiado Macron e prejudicado
Le Pen.
(…)
Mélenchon,
que desempenhou uma campanha brilhante com a sua proposta republicana e
socialista, ficou a uma distância de Le Pen que demonstra que, a ter havido
maior concentração de votos, poderia tê-la ultrapassado e desencadeado um
terramoto na direita.
(…)
[A
situação que agora se coloca para Macron] pode ser um pesadelo em que nada lhe
está garantido.
(…)
Macron
é visto no seu país como incapaz, e aliás desinteressado, de cuidar da vida das
pessoas e de lhes responder.
(…)
[Agora
Macron] não faz ideia do que quer propor.
(…)
Todos
os desastres são possíveis.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Rússia
faz a guerra com o dinheiro da energia que vende à Europa.
(…)
Para a
Rússia, é mais fácil transferir a venda de carvão e petróleo para outros
destinos do que o gás, que depende de infraestruturas fixas.
(…)
Quando
a guerra começou, metade das suas importações de carvão, [da Alemanha] um terço
do petróleo e metade do gás vinham da Rússia.
(…)
A
Alemanha depende dela para um terço de consumo de energia.
(…)
Havia,
no início dos anos 90, a sensação de que a paz era um dado adquirido.
(…)
A
crença no milagre pacificador do comércio internacional estava nos píncaros
como falácia moral em defesa da globalização desregulada.
(…)
Nestes
anos [00], não foi apenas a paz que pesou, como se viu pela transferência de
Gerhard Schroeder para presidente do conselho da Rosneft, maioritariamente
detida pelo Governo russo.
(…)
Mesmo
depois da invasão da Crimeia, a Alemanha manteve-se surda aos alarmes.
(…)
Até ao
fim, a Alemanha acreditou que a dependência russa face ao seu mercado impediria
Putin de ir demasiado longe.
(…)
E a
Rússia acreditou que a dependência alemã impediria as sanções ao gás.
(…)
Compreendemos
a catástrofe que seria um corte repentino na compra de gás. Não queremos
ver na Alemanha o que assistimos em França, com a AfD [extrema-direita] a
subir.
(…)
[Na
Alemanha] um pequeno abanão é sentido como um terramoto.
(…)
Como
esta partilha do risco [considerando que “o gás disponível deve ser tratado
como um recurso europeu”] não teve precedente na crise financeira, tem
de vir com novas condições de equidade no funcionamento da UE.
(…)
[É
estimado] que o resultado do embargo imediato por agora necessário
corresponderia a uma queda de 1,4% a 3% do PIB.
(…)
Tudo
muito abaixo da queda que foi imposta a Portugal pela troika e nem vagamente
comparável ao que aconteceu à Grécia.
(…)
Só
que, no caso grego e português, tudo tinha de ser feito sem partilha de riscos —
a Alemanha até lucrou com os programas de austeridade.
(…)
A
escolha de [a Alemanha] se pôr nas mãos de Putin foi consciente, informada e
reiterada.
(…)
Não
pode vingar sempre a ideia de que quando a crise é nossa é nossa, quando é
deles é nossa.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A invasão russa na Ucrânia gerou mais
refugiados nas primeiras três semanas do que qualquer outro conflito recente
durante um ano.
(…)
Face a esta enorme crise humanitária, a Europa tem mostrado
uma solidariedade sem precedentes.
(…)
Também em Portugal foram criadas medidas especiais para o
acolhimento rápido de cidadãos ucranianos.
(…)
Segundo o SEF, neste momento é possível uma pessoa pedir
proteção e obtê-la no mesmo dia.
(…)
Enquanto sociedade, é urgente fazermos uma reflexão conjunta
sobre o modo como temos tratado os refugiados não-ucranianos.
(…)
Quando
as notícias nos mostraram famílias sírias, iraquianas e afegãs lançando-se em
barcos de borracha numa tentativa desesperada de encontrar segurança nas costas
europeias, inúmeras vozes levantaram-se contra o acolhimento.
(…)
No
conflito dos dias de hoje o consenso é de tal forma grande que até os partidos
de extrema-direita, (…), procuram atabalhoadamente justificar a mudança
repentina de posição.
(…)
Desta
vez não ouvimos ninguém questionar a sustentabilidade do Estado social. Não
vemos ninguém dizer que a criminalidade vai aumentar. E ninguém a invocar a ameaça
do terrorismo.
(…)
[E
porquê?] Porque estas objeções não passam de
mitos.
(…)
No entanto, importa dizer que, quando falamos apenas da
mobilização da sociedade civil, as diferenças não são assim tão grandes.
(…)
O Programa de Recolocação falhou espetacularmente, e não foi
só porque alguns países se recusaram a receber fosse quem fosse.
(…)
Foram
os processos burocráticos e as decisões dos governos europeus e da UE que
impediram (e continuam a impedir) que isso acontecesse.
(…)
Neste
momento há milhares de refugiados mantidos em campos na Grécia que esperam
meses a fio por uma resposta aos seus pedidos de asilo.
(…)
Note-se que a relutância em acolher bem não tem nada que ver
com falta de recursos.
(…)
Provámos nos últimos dias que conseguimos acolher refugiados
ucranianos com dignidade. Façamos o mesmo com todos os outros.
Miguel Duarte, “Público” (sem link)
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