quinta-feira, 14 de abril de 2022

CITAÇÕES

 
Poderá a China, a maior beneficiária da globalização, manter a ponte entre esses dois mundos que se estão a separar? Não, não pode e provavelmente não quer. 

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O Governo de Pequim parece estar a mostrar a sua radical descon­fiança em relação ao reforço da relação entre a UE e os EUA, com o alargamento da NATO e a expansão das suas ambições.

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Xi Jinping também sabe que, se disputa a futura liderança mundial, não pode recuar perante Washington.

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O líder chinês não pode deixar de notar a formação de uma aliança militar dos EUA com a Austrália e o Reino Unido para o Pacífico.

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Ninguém aposta na continuidade de Biden e, mesmo que este tenha adotado a mesma política que Trump para a China, estar um ou outro a comandar a Casa Branca poderia implicar diferenças notáveis, pela imprevisibilidade da chefia republicana.

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[A China] não tem uma estratégia de colocação de tropas em bases no estrangeiro, ao contrário de Washington, e expande a sua influência por relações económicas.

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Mas talvez a evolução mais notável seja a redução da relação financeira com os EUA.

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Como se verifica pelo gráfico [acima], ao longo da primeira década do século a relação mútua baseava-se no uso dos excedentes comerciais chineses para comprar dívida pública norte-americana.

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A China sabe que está a construir a sua outra metade do planeta. Não quer deixar ao seu adversário a livre escolha da forma de a enfrentar na economia e na política.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Os resultados da primeira volta das eleições francesas contrariaram mais uma vez as sondagens, mesmo que não de forma tão assustadora como outras recentes.

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A abstenção foi a segunda maior desde 1958, o que pode ter beneficiado Macron e prejudicado Le Pen.

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Mélenchon, que desempenhou uma campanha brilhante com a sua proposta republicana e socialista, ficou a uma distância de Le Pen que demonstra que, a ter havido maior concentração de votos, poderia tê-la ultrapassado e desencadeado um terramoto na direita.

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[A situação que agora se coloca para Macron] pode ser um pesadelo em que nada lhe está garantido.

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Macron é visto no seu país como incapaz, e aliás desinteressado, de cuidar da vida das pessoas e de lhes responder.

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[Agora Macron] não faz ideia do que quer propor.

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Todos os desastres são possíveis.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Rússia faz a guerra com o dinheiro da energia que vende à Europa. 

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Para a Rússia, é mais fácil transferir a venda de carvão e petróleo para outros destinos do que o gás, que depende de infraestruturas fixas.

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Quando a guerra começou, metade das suas importações de carvão, [da Alemanha] um terço do petróleo e metade do gás vinham da Rússia.

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A Alemanha depende dela para um terço de consumo de energia.

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Havia, no início dos anos 90, a sensação de que a paz era um dado adquirido. 

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A crença no milagre pacificador do comércio internacional estava nos píncaros como falácia moral em defesa da globalização desregulada.

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Nestes anos [00], não foi apenas a paz que pesou, como se viu pela transferência de Gerhard Schroeder para presidente do conselho da Rosneft, maioritariamente detida pelo Governo russo. 

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Mesmo depois da invasão da Crimeia, a Alemanha manteve-se surda aos alarmes.

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Até ao fim, a Alemanha acreditou que a dependência russa face ao seu mercado impediria Putin de ir demasiado longe.

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E a Rússia acreditou que a dependência alemã impediria as sanções ao gás. 

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Compreendemos a catástrofe que seria um corte repentino na compra de gás. Não queremos ver na Alemanha o que assistimos em França, com a AfD [extrema-direita] a subir. 

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[Na Alemanha] um pequeno abanão é sentido como um terramoto. 

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Como esta partilha do risco [considerando que “o gás disponível deve ser tratado como um recurso europeu”] não teve precedente na crise financeira, tem de vir com novas condições de equidade no funcionamento da UE.

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[É estimado] que o resultado do embargo imediato por agora necessário corresponderia a uma queda de 1,4% a 3% do PIB.

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Tudo muito abaixo da queda que foi imposta a Portugal pela troika e nem vagamente comparável ao que aconteceu à Grécia. 

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Só que, no caso grego e português, tudo tinha de ser feito sem partilha de riscos — a Alemanha até lucrou com os programas de austeridade.

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A escolha de [a Alemanha] se pôr nas mãos de Putin foi consciente, informada e reiterada. 

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Não pode vingar sempre a ideia de que quando a crise é nossa é nossa, quando é deles é nossa.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

A invasão russa na Ucrânia gerou mais refugiados nas primeiras três semanas do que qualquer outro conflito recente durante um ano.

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Face a esta enorme crise humanitária, a Europa tem mostrado uma solidariedade sem precedentes.

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Também em Portugal foram criadas medidas especiais para o acolhimento rápido de cidadãos ucranianos.

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Segundo o SEF, neste momento é possível uma pessoa pedir proteção e obtê-la no mesmo dia.

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Enquanto sociedade, é urgente fazermos uma reflexão conjunta sobre o modo como temos tratado os refugiados não-ucranianos.

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Quando as notícias nos mostraram famílias sírias, iraquianas e afegãs lançando-se em barcos de borracha numa tentativa desesperada de encontrar segurança nas costas europeias, inúmeras vozes levantaram-se contra o acolhimento.

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No conflito dos dias de hoje o consenso é de tal forma grande que até os partidos de extrema-direita, (…), procuram atabalhoadamente justificar a mudança repentina de posição.

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Desta vez não ouvimos ninguém questionar a sustentabilidade do Estado social. Não vemos ninguém dizer que a criminalidade vai aumentar. E ninguém a invocar a ameaça do terrorismo.

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[E porquê?] Porque estas objeções não passam de mitos.

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No entanto, importa dizer que, quando falamos apenas da mobilização da sociedade civil, as diferenças não são assim tão grandes.

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O Programa de Recolocação falhou espetacularmente, e não foi só porque alguns países se recusaram a receber fosse quem fosse.

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Foram os processos burocráticos e as decisões dos governos europeus e da UE que impediram (e continuam a impedir) que isso acontecesse.

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Neste momento há milhares de refugiados mantidos em campos na Grécia que esperam meses a fio por uma resposta aos seus pedidos de asilo.

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Note-se que a relutância em acolher bem não tem nada que ver com falta de recursos.

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Provámos nos últimos dias que conseguimos acolher refugiados ucranianos com dignidade. Façamos o mesmo com todos os outros.

Miguel Duarte, “Público” (sem link)


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