(…)
Hoje, invocando os impactos da guerra, [os
lideres patronais] viraram tenores do coro que proclama: "Um aumento dos
salários agora desencadearia uma espiral inflacionista".
(…)
Estranhamente, António Costa desencadeou
este coro.
(…)
A inflação de hoje nasceu no quadro da
pandemia.
(…)
Ao contrário do que se passava nos anos
oitenta, os níveis de emprego e crescimento até são razoáveis.
(…)
Se o país ficar sujeito a uma política
monetária de aumento de taxas de juros e de contração salarial, cairemos numa
crise profunda.
(…)
A atualização salarial em contexto de
inflação não é necessariamente inflacionista. Mas a falta dessa atualização é
um esbulho.
(…)
Defender a estagnação salarial em
contexto de inflação é o mesmo que propor a redução do peso dos salários (e o
aumento do peso dos lucros) no produto interno bruto.
(…)
Os salários devem ser atualizados pelo
menos com o valor da inflação mais os acréscimos de produtividade.
(…)
Será que o Governo estará disposto a
corrigir o erro, ou preferirá alinhar na patranha interesseira?
O papel da ANMP tem que ultrapassar o de
uma congregação baptista de feudos, interesses particulares proto-regionais ou
de um centro de manutenção de recursos.
(…)
[Já em 2018 Rui Moreira fez] o executivo
da Câmara aprovar uma moção que propunha que o município não se vinculasse,
desde aí, a qualquer decisão passada ou futura da ANMP.
(…)
Neste país, a descentralização será
sempre uma mentira.
(…)
[A boa solução é] ter a coragem de fazer
a regionalização eternamente adiada pelos interesses, bloqueios e hegemonias
centrais.
(…)
O Governo já anunciou que está disposto a
avaliar as preocupações manifestadas e que o Orçamento do Estado tem margem
para corrigir verbas da descentralização.
(…)
A reversibilidade do que se passou nas
áreas da saúde e da educação, em que o Estado entregou às autarquias os
encargos e as obrigações, sem dotação orçamental capaz ou poder de decisão
política para tomar opções, é - justamente - o ponto decisivo.
As últimas eleições legislativas mostraram alterações
significativas na nossa ecologia política.
(…)
Mantendo a minha posição de fundo, a de que conceitos como
esquerda e direita não são heurísticos (…)
(…)
Está em curso também uma radicalização identitária do
espaço público, mais do que na sociedade, mas vai lá chegar.
(…)
A
radicalização é um processo difícil de travar, embora os seus limites sejam
sempre os grandes números, os eleitores, a democracia.
(…)
O país
está centrista — veja-se a vitória do PS, de que ninguém verdadeiramente quer
tirar consequências, com a ilusão de que é um partido de esquerda.
(…)
Em conjunto
com a derrocada do CDS, houve também uma vítima colateral neste novo “tempo”: a
direita moderada, um dos principais alvos da direita radical.
(…)
A nova
ecologia [política] mostra que a direita radical está na ofensiva, dominando grande
parte do espaço público, com uma presença na comunicação social cada vez mais
significativa.
(…)
A direita, porque cresce, está arrogante e persecutória e a
esquerda está na defensiva, moralista, encurralada e ineficaz.
(…)
O
moralismo torna pecadilhos de gente da esquerda escândalos de dimensão nacional
que a direita usa com sanha muito para além da sua real importância.
(…)
A dinâmica política dá hoje o poder de classificar à direita
radical, que aponta a alvos demasiado passivos.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Para o
povo ucraniano, a invasão russa é um pesadelo real, uma catástrofe humanitária
com uma dimensão aterradora.
(…)
No
entanto, a guerra está também a tornar-se rapidamente numa questão de vida ou de morte para as pessoas mais
vulneráveis em todo o mundo.
(…)
Esta
crise poderá arrastar até 1,7 mil milhões de pessoas – mais de um quinto da
humanidade – para a pobreza, para a miséria e para a fome, a uma escala nunca
vista em décadas.
(…)
A
Ucrânia e a Federação Russa fornecem 30% do trigo e da cevada de todo o planeta,
assim como um quinto do milho e mais de metade do óleo de girassol de todo o
mundo.
(…)
Desde
o início de 2022, os preços do trigo e do milho aumentaram 30%.
(…)
O
Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou que está perante uma escolha
impossível: deixar de apoiar aqueles que passam fome para poder alimentar os
que morrem à fome.
(…)
Enquanto
grande parte do mundo se solidarizou com o povo da Ucrânia, não há sinal de um
apoio semelhante aos outros 1,7 mil milhões de vítimas desta guerra.
(…)
Em
relação aos alimentos, pedimos a todos os países que mantenham os mercados
abertos, (…) e disponibilizem reservas para os países com maior risco de entrar
numa situação de fome.
(…)
Há alimentos
suficientes para todos os países superarem esta crise se atuarmos em conjunto.
(…)
Não
podemos simplesmente permitir que as pessoas morram à fome no século XXI.
(…)
Em
relação à energia, (…) a única solução de médio e de longo prazo é acelerar a
adoção de energias renováveis, que não é afetada pelas flutuações do mercado.
(…)
Já em
relação às finanças, (…) é necessário que encontrem formas de aumentar a
liquidez e a margem de manobra fiscal para que os governos dos países em
desenvolvimento possam investir nos mais pobres e mais vulneráveis, e nos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
(…)
Este
deve ser um primeiro passo para reformas profundas no nosso injusto sistema
financeiro mundial, que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
(…)
A
única solução duradoura para a guerra na Ucrânia e a sua ameaça aos mais pobres
e vulneráveis de todo o mundo é a paz.
António Guterres, Sec-Geral da ONU, “Expresso” (sem link)
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