(…)
A União Europeia mergulhou num mapa de fragmentação (…), de
promessas falsas (…) e de incapacidade de decisão estratégica (…).
(…)
Uma das raízes deste processo de degradação democrática é a
evolução das lideranças políticas norte-americanas, que sobredeterminam o nosso
continente. É aí que está o mando.
(…)
A turbulência criada pela compra do Twitter por Elon Musk é sinal
de aceleração da luta política poucos meses antes das eleições intercalares
[nos EUA].
(…)
Musk é um aventureiro que um dia apoia a extrema-direita do seu
país e outro dia condena a política sanitária, e que se propõe usar o
poder algorítmico a bel-prazer.
(…)
Não é o único, esta cultura autoritária está profundamente
ancorada entre os campeões da economia da internet.
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Também o frenesim da Amazon para impedir a sindicalização dos seus
trabalhadores evidencia as bases históricas desta forma de poder.
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Assim sendo, tire da ideia qualquer noção de que a internet seja o
espaço de democratas que querem promover a liberdade de expressão para toda a
gente.
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Segundo as contas [ de Dani Rodrik, professor de Economia em
Harvard], desde 1979 os ganhos salariais são um terço dos ganhos em
produtividade (os salários reais terão crescido 17,5% e a produtividade 61,8%),
o que gera a acumulação de capital que elevou Trump.
(…)
15 mil milhões de dólares em financiamento de empresas a campanhas
eleitorais. O capital manda e só cuida de manobrar as democracias.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
A transformação económica impulsiona uma mutação política.
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O caso da Flórida tem sido o mais evidente.
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A proibição de 54 livros de Matemática das escolas públicas, quase
metade dos utilizados, sob a acusação de incluírem problemas com um contexto
racial.
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No Wyoming e Oklahoma discutem-se leis para proibir as
bibliotecas públicas de disponibilizarem livros sobre sexualidade.
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Uma escola de Tennessee exigiu a retirada de “Maus”, a novela
gráfica sobre o Holocausto que recebeu o Prémio Pulitzer.
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Obras da Nobel da literatura Toni Morrison são condenadas.
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O livro [“The 1619 Project”] lembra que a história moderna
dos EUA não começou em 1620, com o desembarque do “Mayflower”, mas sim no ano
anterior, quando um barco negreiro, o “White Lion”, aportou à Virgínia.
(…)
Trump, então Presidente, denunciou o livro e cinco Estados
proibiram que fosse usado nas escolas.
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O que o livro investiga é a necropolítica, que, na base do
racismo, constituiu territórios de exclusão e de privilégio.
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[No livro] “These Truths”, de Jill Lepore, são documentados 6500
linchamentos desde o fim da escravatura.
(…)
Mas, para o partido trumpista [de extrema-direita], estudar factos
não é admissível, nem em livros de Matemática.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Com um país destruído e com uma sociedade civil armada e
militarizada, a Ucrânia não terá, depois desta guerra, melhores condições para
o exercício democrático do que tinha antes dela.
(…)
Não duvido, aliás, que os mesmos que têm sido condescendentes
com as violações de regras democráticas nestes países venham a estar na linha
da frente na defesa da entrada rápida e quase incondicional da Ucrânia.
(…)
A operação de charme liderada pela Comissão Europeia, que
respondeu com uma celeridade nunca vista a um pedido de adesão, é resposta ao
sentimento de culpa de quem, em nome do negócio, esteve disposto a fechar os
olhos para a crescente agressividade de Putin.
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A Ucrânia não cumpre nem cumprirá com brevidade os critérios
económicos, institucionais e políticos exigidos pela União e Bruxelas sabe-o
melhor do que ninguém.
(…)
No primeiro mês da guerra, a Europa gastou quatro vezes mais a comprar
energia à Rússia do que com todo
o apoio que tem concedido à Ucrânia.
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Há vícios difíceis de mudar na União Europeia, até porque já
vimos este filme noutras crises: muitos milhões anunciados com palavras
solidárias, mas tostões quando chega a hora de apoiar um país que precisa de
ajuda.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(27/4) (sem link)
Ao aceitar ser o mandatário nacional da candidatura de Jorge Moreira da
Silva, Balsemão dá o braço ao candidato para fazer caminho.
(…)
E é paradigmático que o faça quando
o PSD não tem, a curto prazo e com a maioria estabelecida do PS, qualquer
vislumbre de poder pela frente.
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Há um toque de "déjà vu" na
corrida eleitoral laranja que culminará nas directas de 28 de Maio.
(…)
Mas ao contrário do ainda líder do
partido, Moreira da Silva aparenta ser inclusivo internamente e já traçou
linhas vermelhas com a extrema-direita.
(…)
Um PSD tal como ele é e está seria
substituível e negligenciável, condenado a ser uma sombra que lentamente avança
e se consome, seco por um eucalipto rosa.
Devia
ser uma prática comum o Presidente de um país invadido pedir armas para
combater o invasor. Aliás, essa prática impediria tais crimes.
(…)
Imaginemos
o Presidente da Autoridade Palestiniana a pedir armas no Parlamento português
devido ao facto de os territórios palestinianos estarem militarmente ocupados
por Israel, violando resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
(…)
Ou
imaginemos o representante do Iémen a condenar o inferno vivo em que os
sauditas, com o apoio dos EUA, transformaram aquele país da península arábica.
(…)
Antes
de Zelenskii discursar no Parlamento imaginámos o que poderia dizer. A surpresa
vai direitinha para o facto de não ter feito a menor menção a qualquer proposta
de paz.
(…)
Quantas vezes os vietnamitas propuseram
conversações de paz aos EUA, mesmo debaixo dos terríveis bombardeamentos de
Hanói e Haiphong?
(…)
Segundo
as palavras de Blinken a guerra é para continuar, porque os EUA querem
enfraquecer a Rússia. É bom meditar nas palavras.
(…)
A
guerra vai continuar e os EUA vão combater a Rússia, dando armas e os
ucranianos à morte. É verdade que foi a Rússia que criou esta situação, mas a
guerra deve continuar em escalada? A quem serve?
(…)
Nesta
situação o que se está a passar em solo europeu é uma guerra entre o mandatário
dos EUA e a Rússia.
(…)
Se a
Rússia não desistir e se sentir enfraquecida, poderá estar em aberto a escalada
do conflito para um patamar nuclear.
(…)
A
Ucrânia será seguramente, num primeiro momento, o centro do braseiro nuclear e
por isso é estranho não ouvir de Zelenskii um arremedo de proposta de paz.
(…)
O
melhor para todo o mundo, a começar na Ucrânia e na Europa, é negociar uma
solução que seja aceite por todas as partes.
(…)
Louvada seja a iniciativa de António Guterres.
Domingos Lopes, “Público” (sem link)
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