(…)
Conseguir apanhar um voo confirmado tornou-se uma lotaria.
(…)
O mercado, como agora delicadamente se chama às empresas que
dominam o setor, cumpriu de modo exemplar o seu desígnio, manobrou para
aumentar a margem de lucro da operação.
(…)
[Durante a pandemia] as companhias aéreas foram financiadas
para despedir 20% dos seus trabalhadores.
(…)
Ao mesmo tempo que garantiam que tudo voltaria ao normal
depois da emergência sanitária, as administrações e os seus ministros davam luz
verde a um dos mais radicais despedimentos coletivos num setor das últimas
décadas.
(…)
Acabada a restrição, fizeram a conta e decidiram restabelecer
o nível anterior de oferta com menos funcionários, além de manterem os cortes
salariais.
(…)
Esta decisão provocou duas consequências. A primeira, a
origem essencial do caos atual, é que há falta de trabalhadores.
(…)
E não é fácil substituí-los, considerando as condições agora
oferecidas.
(…)
Um atraso provoca outros e, quando já são muitos, a crise
agiganta-se e torna-se imparável.
(…)
Quem trabalha no setor pressiona as administrações, usando o
poder negocial que agora aumentou.
(…)
[Os governantes] explicam que os salários devem manter-se
comprimidos porque haveria uma crise que a realidade e os seus próprio
discursos desmentem.
(…)
Algumas empresas começam a ceder.
(…)
As greves vão continuar.
(…)
Para os clientes, este é um cenário de horror.
(…)
O problema é quando se precisa de falar com alguém. As
pessoas desapareceram deste paraíso digital.
(…)
Não existe vivalma, é como se o cliente tivesse aterrado num
planeta deserto e só tivesse náufragos à sua volta.
(…)
Diga lá que isto não é um sucesso do mercado? Os trabalhadores
reduzidos a robôs, os clientes conduzidos como gado, os pagamentos já foram
feitos, deixe estar que isto há-de passar.
Francisco Louçã, “Expresso” online
[As vítimas do massacre de Melilla] morreram asfixiados
ou esmagados entre os muros e as barras da fronteira, morreram depois de cair
da cerca que separa o território marroquino do europeu, naquele enclave
espanhol.
(…)
133 conseguiram [alcançar território europeu], cerca de mil
estão detidas, mais de 300 foram hospitalizadas depois do tratamento cruel e
desumano das autoridades.
(…)
Os mortos foram enterrados sem autópsias, sem identificação,
sem informar as famílias.
(…)
Na sequência da tragédia, Pedro Sanchez, chefe do Governo
espanhol liderado pelos socialistas, felicitou o trabalho da polícia
marroquina.
(…)
[Na sequência de Sanchez ao apoiar as pretensões do rei de
Marrocos relativamente ao Saara Ociental, trata-se de] puro comércio de
princípios, com decisões políticas para as quais os Direitos Humanos valem
zero.
(…)
Se o primeiro-ministro espanhol não dirigiu uma única crítica
a Marrocos, o primeiro-ministro português também nada disse sobre o seu
congénere espanhol.
(…)
Como outros governos europeus, também o nosso tem os direitos
humanos na boca, mas engole em silêncio se as vítimas estiverem em Melilla ou
em Ceuta.
(…)
Portugal, que Pessoa apresentou como rosto da Europa, figura
jazendo virada para o oceano, (…), não tem vista, afinal, para estes crimes.
José Soeiro, “Expresso” online
O
aumento da polarização política, as perdas económicas generalizadas e a corrida
ao rearmamento são perturbadores e vão aumentar muitos dos abismos sociais
existentes.
(…)
[o alarme dos últimos
dias] teve
origem em estranhas liturgias no bananal em que o Governo se transformou, isto
é, nos atropelos de Pedro a Costa e de Costa a Pedro.
(…)
[Foi deixada] bem à vista a
irresponsabilidade e o amadorismo com que o Governo tratou um assunto de tão
grande interesse nacional [como a solução para o aeroporto de Lisboa].
(…)
Somos o terceiro país da Europa a despender mais recursos
financeiros privados (39% da despesa total).
(…)
Na
Educação, desde que António Costa é primeiro-ministro, aboliram-se os
mecanismos fiáveis de avaliação de resultados e a produção de dados
comparáveis.
(…)
A escola imprepara as crianças e arruína os professores,
enquanto crescem as medidas sem lógica nem critério.
(…)
Professores com doenças graves foram tratados como lixo.
(…)
O problema [da falta de professores] é o acumular de erros,
desde Maria de Lurdes Rodrigues, tornando a carreira docente cada vez menos
atractiva.
(…)
Os indicadores das provas de aferição não são coerentes com
os dados das reprovações e abandono.
(…)
Donde,
a pergunta legítima: o que mede o sucesso? O que os alunos realmente aprendem,
ou a estatística (construída) sobre os chumbos?
(…)
[Aquilo que é apresentado aos portugueses] é, antes, a
perspectiva, naturalmente interessada e ficcionada, que o Governo tem sobre
esses factos.
Santana Castilho, “Público” (sem link)
Seria uma grande novidade [Luís Montenegro cortar com o
Chega], sobretudo depois de ter demonstrado tanta ambiguidade relativamente ao
partido durante toda a campanha.
(…)
Reparem que L.M. não garante que não se associará ao partido
xenófobo e racista, mas sim a “políticas” [xenófobas e racistas].
(…)
A
curta história do Chega é um jogo contínuo de avanços e recuos no seu
posicionamento em questões como o racismo, a xenofobia e o próprio fascismo.
(…)
As linhas vermelhas estão estabelecidas. Mas têm servido para
saltar à corda.
(…)
A direita tradicional também não costuma ser clara quando
fala da sua ligação ao partido.
(…)
O
líder do principal partido da direita portuguesa dança com as palavras, e nós
sabemos o que isso significa, mas, na verdade, ninguém reage.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário