(…)
O PIB
é uma agregação que ignora a estrutura da produção e a distorção da
distribuição, desconhece a qualidade de vida ou a sua sustentabilidade, só
registando transações (…), por usar o único critério do preço.
(…)
[O
PIB] esquece os bens não-mercantis e outras funções sociais.
(…)
Ir
além [do PIB como uma medida do progresso e bem-estar humanos], mas como?
(…)
A
primeira [alternativa proposta por Jayati Ghosh, professora na Universidade de
Amherst, EUA] seria medir o trabalho, usando o produto do salário mediano pela
taxa de emprego.
(…)
Em
alguns dos países mais desenvolvidos, em 2009-2020, o PIB cresceu mais depressa
do que este indicador, o que sugere um agravamento da desigualdade.
(…)
A
segunda seria a percentagem da população com uma dieta adequada.
(…)
Na
Índia, o Banco Mundial regista um nível de pobreza até 22%, mas 71% da população
não tem acesso aos bens alimentares essenciais.
(…)
A
terceira alternativa será o uso de parâmetros do tempo de trabalho, incluindo
as várias formas de contrato, mas também o trabalho não-pago, nomeadamente nos
cuidados sociais.
(…)
A
quarta alternativa seria indicar o nível de emissões de CO2 per capita.
(…)
Segundo
os dados da ONU, os 1% mais ricos gastam 30 vezes o padrão de consumo
sustentável para um limiar de aumento da temperatura até 1,5°C em 2030.
(…)
[A
incorporação dos principais objetivos definidos para o bem-estar] requer a
visibilidade das escolhas da economia — e esse busílis é a última coisa que é
desejada por quem manda.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
Há
três explicações possíveis para o salto da inflação a que estamos a assistir.
(…)
A
primeira, a de uma parte da direita, é que se trata do efeito do excesso de
procura, agravada pelos Governos gastarem demais em apoios sociais durante a
pandemia.
(…)
A
segunda, mais tradicionalista, é que a oferta caiu, dadas as ruturas nas
cadeias de produção e sobretudo com o efeito da guerra ucraniana nos preços da
energia.
(…)
A
terceira, mais crítica, é que as margens das empresas que condicionam os preços
dispararam.
(…)
Este
impulso inflacionário é simplesmente a tradução do poder de empresas, e é por
isso que alguns países decidiram taxar os lucros extraordinários obtidos por
esta via.
(…)
Em
Portugal isso nunca acontecerá. Pelo amor da santa!
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
No terramoto político de ontem em
Portugal, Pedro Nuno Santos marcou-se como seguro.
(…)
É muito difícil acreditar no acto de
contrição do ministro das Infraestruturas quando tudo soa a tacticismo e
sobrevivência. O desconforto é evidente.
(…)
Quando os portugueses entregaram uma
maioria absoluta a António Costa, não pensaram na instabilidade que iriam criar
na luta interna pela sucessão no PS.
(…)
É totalmente entendível que António Costa
o queira manter por perto, diminuído.
(…)
Há um primeiro-ministro que não hesitará
em simular negociações [com o PSD], mesmo quando o futuro líder da oposição
delas se distancia e a solução a propor já aparece em envelope lacrado.
(…)
O ministro das Infraestruturas conseguiu
afundar um porta-aviões em plena pista de aterragem de aeroporto.
(…)
Este espectáculo de assincronismo, com
António Costa a cuidar das ambições europeias e os potenciais candidatos à
sucessão em roda livre, não pode permitir a vitória do esquecimento perante o
caos e o desastre que se anuncia para o SNS.
(…)
A dimensão megalómana de construir dois
aeroportos (…) é completamente incompreensível.
Ao
longo das últimas décadas, a globalização impôs o comércio livre e a livre
circulação de capitais aos países em vias de desenvolvimento.
(…)
Os maiores grupos multinacionais são um retrato eloquente
dessa realidade [através de políticas públicas que incluem o direito de não
pagar impostos].
(…)
Algumas das empresas mais lucrativas do mundo pagam níveis
mínimos de imposto colocando as suas entidades constituintes em paraísos fiscais.
(…)
Todos
os países têm sido crescentemente colocados perante um dilema: baixar os
impostos sobre os rendimentos de capital (coletivos e singulares) ou ver esses
rendimentos desaparecer através de operações contabilísticas pelas
multinacionais.
(…)
Registou-se assim uma “corrida para o fundo” da taxa de IRC
efetiva.
(…)
A perda de receita fiscal leva a uma transferência de carga
fiscal para os rendimentos do trabalho.
(…)
A consequência é um colapso do investimento e serviços
públicos.
(…)
Para
lá das fábulas, o acordo da OCDE [assinado por
137 países no final de 2021] é possível apenas pela pressão de
vários Estados nacionais, com a França à cabeça, que se mostraram
crescentemente indisponíveis para aceitar a expropriação da sua receita fiscal.
(…)
Sem estas medidas unilaterais, o acordo global teria ficado
em águas de bacalhau para toda a eternidade.
(…)
Tem sido falsamente anunciado que se concretizará uma
tributação sobre as multinacionais justa, justamente distribuída e efetiva.
(…)
Não é uma tributação generalizada sobre as multinacionais,
uma vez que só uma [pequena] parte será abrangida.
(…)
Não é efetivo porque está cheio de exclusões, deduções e
exceções.
(…)
O Observatório Fiscal Europeu mostra que só na primeira década se perde 23% de
receitas fiscais na UE.
(…)
O
imposto não é justo porque será aplicada uma taxa muito mais baixa do que é
aplicado na maior parte dos países e para a maior parte das empresas.
(…)
Finalmente não é justamente distribuído, porque o mundo
desenvolvido fica com uma fatia esmagadora dos lucros tributados.
(…)
É
preciso, finalmente, preparar o terreno para dois cenários crescentemente
plausíveis. Em primeiro lugar, uma recusa dos Estados Unidos em implementar o
acordo ou fazê-lo de forma incompleta.
(…)
Em segundo lugar, ainda há a possibilidade de algum
Estado-membro vetar a sua implementação na EU.
(…)
Ainda falta um longo percurso para que este modesto
precedente possa ver a luz do dia.
José Gusmão, “Público” (sem link)
Em
face da reação pública de António Costa, manifestamente
humilhante para o seu ministro, é incompreensível que Pedro Nuno Santos venha falar de uma “falha de
articulação e comunicação” e nos premeie com a farsa de permanecer
no Governo.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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