(…)
Se a
escola não substitui a família, ela não é um mero prolongamento da vontade
individual de pais que se vejam como proprietários dos seus filhos.
(…)
[O
debate] é sobre a forma de continuarmos a viver numa sociedade cada vez mais
polarizada, quando o individualismo extremo e o ultraconservadorismo religioso
contestam todas as formas de autoridade democrática do Estado.
(…)
A
escola não se serve à la carte, onde os que não gostam do que se ensina [tiram de lá
os seus filhos].
(…)
Isto
não impede que se escrutine o currículo de cada disciplina.
(…)
Reconheço
o direito a outros contestarem a existência das aulas de Cidadania, sabendo que
o que ali é lecionado corresponde a princípios constitucionais.
(…)
Não
existe, por mais que tentem, educação neutra. Vivemos em sociedades plurais e
tudo será sempre contestado.
(…)
[Uma
das formas de os pais lidarem com estas discordâncias é incutindo aos filhos] o
hábito de ter um olhar crítico em relação ao que ouvem e leem.
(…)
Mas
ninguém pode decidir que os alunos vão ou não vão às aulas conforme a
concordância ou discordância dos pais com os currículos de cada disciplina.
(…)
Todas
as exceções possíveis para que os alunos não fossem prejudicados por uma
escolha que não é sua foram exploradas [pelo Ministério da Educação].
(…)
[Aquele
pai apenas usa os filhos] - e exibe-os no palco mediático — para uma agenda
ultraconservadora que tem como único objetivo uma cedência do Estado às suas
exigências políticas individuais.
(…)
Sabemos,
olhando para os EUA, para onde estas cruzadas nos querem levar.
(…)
[Há um
adulto que usa] os seus filhos para a defesa das suas convicções, fazendo-os
pagar por escolhas que são suas.
(…)
Compreende-se
o raciocínio de quem não pode transigir [leia-se Ministério Público] perante a
ideia de que há uma lei à escolha, (…), para impor ao Estado democrático as
suas regras.
(…)
No dia
em que assim for não é só a escola pública que se torna inviável. É a vida em
sociedade.
Um conjunto de lutas sindicais e laborais vêm-se desenvolvendo em vários
setores de atividade.
(…)
O atual quadro político convoca
entrosamento entre as agendas social e política e muita atenção ao mundo do
trabalho.
(…)
[Precisamos de] um governo com qualidade
(está ausente em várias áreas), com liderança, e com coesão feita da ação
articulada dos ministérios e não de jogos palacianos.
(…)
Os impactos da guerra na Ucrânia estão
longe de ser percecionados.
(…)
São as realidades concretas de cada país
que determinam o êxito ou fracasso dos governos e seus líderes.
(…)
Parece continuarmos a ter e a proteger
empresários especialistas em negócios privados com dinheiros públicos e a ter
governantes ou ex-governantes distraídos.
(…)
O Congresso do PSD não nos apresentou
qualquer programa sustentado para o desenvolvimento do país.
(…)
Temas para dar respostas às
reivindicações dos trabalhadores e resolver entropias que peiam o nosso futuro,
estão aí.
(…)
Da Agenda do Trabalho Digno reclamam-se
respostas para reequilíbrio e revitalização do sistema de relações laborais,
valorização da contratação coletiva, combate às desigualdades e à precariedade.
(…)
A Estratégia Nacional de Combate à
Pobreza tem de assentar no princípio de que nenhum cidadão deve ficar na
dependência da caridade alheia.
(…)
E espera-se que a discussão da
sustentabilidade da Segurança Social não vá beber, direta ou indiretamente, nas
receitas do FMI.
A polémica sobre aquilo que é entendido como linguagem
“inclusiva” já dura há vários anos.
(…)
A
polémica da linguagem inclusiva que já chegou à publicidade e à rua, com a
campanha da Fox nas paragens de autocarros, é um sinal irónico do valor
comercial destas questões.
(…)
Porquê “inclusivas”? Porque elas permitem nomear a variedade
de identidades e questões associadas com elas que existem, ou supostamente
existem.
(…)
Há um
pequeno problema com isto tudo, com esta nova terminologia, com a selva de
classificações e as respectivas gavetas em que cada um é metido e a obsessão
pelas identidades – é que não é nem inclusiva, nem democrática.
(…)
A sociedade democrática não é um produto natural, mas
cultural.
(…)
É uma escolha de responsabilidade humana, que tem por base
uma igualdade potencial entre todos, todas e todos.
(…)
Sabemos que essa igualdade não existe (…) há múltiplos
factores de exclusão na sociedade que torna uns mais “cidadãos” do que outros.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Antes de mais, o objectivo da disciplina [Cidadania e
Desenvolvimento] é claro: contribuir para a formação de pessoas responsáveis,
autónomas e solidárias.
(…)
Os
conteúdos da disciplina relacionam-se com os Direitos Humanos, a
sustentabilidade ambiental, a interculturalidade, a saúde, a segurança
rodoviária e a igualdade de género.
(…)
Qualquer
dia, algum encarregado de educação achará que é sensato boicotar, sem
fundamento científico, as disciplinas de Ciências Naturais ou Português, porque
os conteúdos das mesmas são “ideológicos”.
(…)
Os temas concernentes à identidade de género não se enquadram
na afamada “ideologia de género”, designação rejeitada pela comunidade
académica.
(…)
Existindo
bom senso, não há incompatibilidade entre os conteúdos plasmados nesta
disciplina e a educação de uma criança num seio familiar.
(…)
Note-se
que o seio familiar não é o único meio a que uma criança está sujeita. Será a
soma das suas vivências que a irá formar como cidadã e pessoa.
Miguel Miranda Correia, “Público” (sem link)
A
vida, como a conhecemos, assenta numa lógica de confiança em que cada um está a
fazer aquilo que se espera que faça e que existem instituições que verificam e
asseguram esse cumprimento.
(…)
Dentro
desta forma de organização que nos é apresentada, e na qual confiamos, não é
suposto que, ao mais alto nível das instituições nacionais, alguém brinque com
coisas que são sérias.
(…)
Uma
moção de censura costumava ser uma coisa séria e não estávamos habituados a
assistir à sua apresentação de outra forma.
(…)
Uma
moção de censura deve visar o Governo e não constituir um instrumento táctico
de um partido, ainda menos com vista ao seu posicionamento na oposição.
(…)
Mas foi o que fez o partido de André Ventura.
(…)
Não foi a governação socialista o alvo da moção de censura,
mas sim a oposição social-democrata.
(…)
Como
reage a isto o PSD? Aparentemente com a admissão de que poderá chegar a
entendimentos com o Chega, ao mesmo tempo que decreta jamais associar a
políticas racistas ou xenófobas.
(…)
Mal
vai um país em que parte significativa do seu eleitorado se deixou enganar por
um grupo de oportunistas e em que as suas forças políticas tradicionais não
denunciam o que sabem ser verdade.
(…)
Mas a única coisa que vemos o PSD fazer é mostrar receio pelo
seu futuro e complacência pelo Chega.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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