quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (30)

 
Dizia o Presidente o contrário [de Santos Silva] dias antes, que ia lá lembrar umas verdades sobre direitos humanos.

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Aquela ninharia de o embaixador ter sido chamado a dar justificações por declarações de governantes em Portugal não o desviaria do “foco” no jogo.

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A presença das autoridades está para o Mundial como as esbeltas pernas de Cândido estão para as meias, segundo Voltaire: foram feitas para o formato das peúgas que usam.

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Ora, nada que impeça Portugal, país imponente, de mandar toda a hierarquia do Estado, para habituar aquele regime a negociar, ora vejam se há um único país que se atreva a fazer desfilar esta galeria de notáveis.

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O biombo internacional é confortável.

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Terá sido por isso [por o PSD estar a marcar a agenda] que, em dias de Orçamento a que fez a vénia de um acordo indisfarçável, lançou a ideia da revisão constitucional.

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Ninguém se lembra de nenhuma revisão constitucional que não tenha reduzido tais direitos [dos cidadãos].

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O biombo político é cómodo.

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Desengravatado e na “província”, foi o primeiro-ministro alertar a “base” contra as intrigas lisboetas.

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Coisas da “corte”, não espanta que o Primeiro peça que o doce manto do olvido popular o esconda de si próprio e que, para isso, se atire contra “Lisboa”.

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O biombo retórico é uma pantomina.

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O problema de Portugal são os biombos.

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

Como acontece quando se quer recontar a história [a direita] para ganhar um novo lugar nela, este dia [25 de novembro] alimenta emoções que há muito estavam serenadas. 

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[Todos os principais intervenientes no contragolpe de 25 de novembro sabem] melhor do que ninguém o exato lugar que aquela data teve na história do processo de democratização começado no dia 25 de abril.

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Não sou dos que acham que a democracia nasceu naquele dia – as primeiras eleições livres aconteceram antes disso, assim como o fim da censura, da polícia política e de todos os constrangimentos à liberdade. 

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Pensa assim [que o 25 de novembro foi o fim da revolução] quem desejava que o 25 de abril fosse coisa diferente do que nos prometeu ser: o primeiro passo para a democracia política e social. 

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O 25 de novembro foi, como o PREC, o que tinha de ser. 

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Olho para o que veio depois como os principais autores do 25 de novembro: não como início de qualquer coisa, mas como uma correção de trajetória inevitável.

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A revolução não foi traída, apesar de alguns saudosistas terem aproveitado o momento para a desforra.

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A fixação anacrónica da direita no 25 de novembro nada tem a ver com a memória do país, tem a ver com a sua própria memória. 

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Por vicissitudes da história, a direita portuguesa foi uma atriz secundária na construção da nossa democracia.

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No processo revolucionário, participou do radicalismo natural da época, recebendo hordas de oportunistas que de um dia para o outro passaram a acreditar numa via para o socialismo.

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O PS nasceu onde o PREC e o 25 de novembro o puseram: na fronteira entre o comunismo e a direita, mas com uma fortíssima carga anticomunista.

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A tentativa de transformar o 25 de novembro no que não foi – um momento fundador e galvanizador –, leva a direita a inventar os seus heróis.

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Não podem [os partidos de direita usar a imagem de Vasco Lourenço], e por isso inventaram um herói político improvável: Jaime Neves.

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[O objetivo da linha de Jaime Neves era] ilegalizar boa parte dos partidos e organizações de esquerda, avançar num processo revanchista e ficar algures a meio caminho entre a ditadura que morreu de podre e o que temos hoje. 

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A direita precisa de inventar uma data legitimadora do seu papel na construção democrática, nem que para isso tenha de ignorar o que ela foi e boa parte dos seus obreiros.

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Mas no 25 de novembro, como antes, a direita foi secundária.

Daniel Oliveira, “Expresso” online

 

Finalmente, no início desta semana, diretores de vários jornais — que publicaram extratos de 250.000 documentos comprometedores para a Administração norte-americana, resultantes das investigações de Julian Assange — pediram à Administração Biden para retirar as acusações contra este.

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Está em causa julgar Julian Assange num enquadramento penal que foi criado para punir espiões da Primeira Guerra Mundial e que já existe uma sentença prévia anunciada de 175 anos de prisão.

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Estamos a falar de um homem que viu a sua vida destruída por trazer ao domínio público informação confidencial.

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Existe uma má vontade contra Julian Assange da parte de pessoas que, à partida, o apoiariam e dariam valor ao seu trabalho, e refiro-me à esquerda liberal ou centro-esquerda.

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Existe uma coisa que se deve procurar no jornalismo de investigação: a verdade. 

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Só a partir da verdade poderemos encontrar soluções para os problemas de fundo.

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Não foi Assange que tramou Hillary Clinton, foi a verdade sobre Hillary Clinton que tramou Hillary Clinton, e não estamos a falar de assuntos do foro íntimo ou privado.

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Obter e divulgar informações sigilosas é parte fundamental do trabalho jornalístico e que criminalizar esse trabalho enfraquece a democracia.

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[Através do trabalho de Assange] tomámos conhecimento de informação fundamental que, de outra forma, nunca conheceríamos.

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Estamos a falar de informação séria e rigorosa que contraria a visão benigna e simplista do mundo, na qual muitos gostam de acreditar.

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Nesse mundo cor-de-rosa estamos sempre do lado dos bons, aqueles que fazem guerras para salvar as pessoas e para espalhar a democracia e o respeito pelos direitos humanos.

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Jornalista, hacker ou espião, Julian Assange tem traços de herói e incomoda que seja tratado como poucos criminosos foram.

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É por isso que a notícia que tardava em aparecer é uma boa notícia.

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Está [sobretudo] em causa aquela palavra que tem excesso de uso, mas falta de boas defesas: a democracia.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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