O
texto seguinte, que transcrevemos do Público de hoje, é um importante alerta de
José Vítor Malheiros (JVM) à opinião pública relativamente à agressão ambiental
que o país poderá sofrer, caso todos nós não nos envolvamos, de forma empenhada,
na luta em curso contra “a exploração de petróleo e gás” em Portugal. Neste combate
o papel das organizações ambientalistas é importante mas sem a participação consciente
e activa de todos os cidadãos nenhuns resultados significativos poderão ser
obtidos, na medida em que estamos perante empresas poderosíssimas, capazes de
usar toda a espécie de meios para “contornar as leis e as regras” dos países
onde actuam, em nome de uma ganância desmedida de alguns – poucos –
supermilionários e em detrimento dos interesses das populações. O artigo de
JVM, muito melhor que nós, toca em pontos determinantes de um alerta que aponta
para a nossa própria sobrevivência. Sobretudo, devemos ter sempre presente que
quando se trata de petróleo e gás, não
há prospecção e exploração limpas.
Aquilo
que vamos fazer nas próximas semanas pode ser histórico.
Eu
sei que há muita gente de férias e quem vá começar as férias daqui a dias. Mas
aquilo que cada um de nós fizer nas próximas semanas, mesmo durante as férias,
vai ajudar a decidir o nosso futuro.
Nas
próximas semanas vamos ter de enfrentar um dos maiores desafios que alguma vez
tivemos pela frente.
Nas
próximas semanas e nos próximos meses cada um de nós vai ter de se envolver num
combate contra a exploração de petróleo e gás em Portugal, contra as empresas
petrolíferas que detêm os direitos de prospecção e exploração desses
combustíveis (há 15 concessões atribuídas para exploração e produção de
petróleo e gás em todo o país, com especial incidência no Algarve) e contra os
que estão no bolso dessas empresas. Empresas poderosas, habituadas a dominar o
poder político e a contornar as leis e as regras.
Devido
a esses contratos (alguns assinados pelo governo PSD-CDS duas semanas antes das
eleições de Outubro de 2015) o ambiente do Algarve e do país vão ser
destruídos, a economia nacional e a qualidade de vida das populações vão ser
postas em causa. Em nome da ganância de meia dúzia de grandes empresas.
Permitir
que esses contratos prossigam não é um erro. É um crime. Um crime de tais
proporções que admira como é que pessoas com um mínimo de decência e de sentido
de justiça possam defender a sua prática. É um crime contra as pessoas, contra
a paisagem e contra o planeta. A exploração dos combustíveis fósseis é contra
todas as coisas vivas e só tem um móbil: produzir dinheiro, muito e depressa,
para um número limitado de milionários.
A
exploração de combustíveis fósseis não faz sentido por razões globais. O
planeta está a sufocar devido ao excesso de carbono que lançamos na atmosfera,
o clima está a mudar de uma forma que ameaça a produção de alimentos e o acesso
a água doce, todos os anos desaparecem mais de 2.000 espécies animais e
vegetais, as secas estão a aumentar de intensidade matando 4.000 crianças por
dia, as tempestades estão a aumentar de intensidade.
A
verdade insofismável é que a humanidade enfrenta um risco de sobrevivência.
O
acordo de Paris obteve um consenso para limitar o aumento da temperatura global
(em relação à era pré-industrial) de 2 graus e tentar reduzi-lo a apenas 1,5
graus, mas a verdade é que ninguém na comunidade científica sabe ao certo se
esse aumento será compatível com a sobrevivência da humanidade. Ninguém sabe
se, dentro de dez anos, de cinco, de seis meses, não ocorrerá um acontecimento
climático que dê origem a uma cascata de consequências globais catastróficas. O
que sabemos é que continuar a apostar na queima de combustíveis fósseis é uma
loucura e um acto de genocídio.
A
prospecção de combustíveis fósseis não faz sentido porque se sabe que é preciso
deixar 80 ou 90 por cento das reservas de combustíveis fósseis conhecidas no
solo se queremos respeitar o objectivo dos 2 graus. Só precisamos de procurar
mais petróleo se quisermos rebentar com a Terra não só uma vez mais várias
vezes.
A
exploração de combustíveis fósseis não faz sentido por razões nacionais e
locais porque, mesmo que ela gerasse rendimento financeiro no curto prazo (e
não gera, os rendimentos prometidos são insignificantes), iria destruir muito
mais rendimento do que aquele que criaria, ao destruir a paisagem e o turismo,
ao destruir a qualidade de vida e a saúde das populações, ao destruir a
agricultura e os recursos aquíferos.
A
exploração de combustíveis fósseis não faz sentido porque não só a queima de
combustíveis fósseis constitui um risco existencial, como a sua exploração
destrói o ambiente. Não há prospecção limpa, não há exploração limpa.
O
que podemos fazer? Tudo. Precisamos de fazer ouvir a nossa voz de cidadãos.
Precisamos de fazer o governo compreender que deve suspender todos os contratos
de exploração de petróleo e gás e relançar um sério investimento em energias
renováveis, na melhoria da eficiência energética, nos transportes eléctricos,
na ferrovia, na qualidade do ambiente. Um programa nacional que mobilize toda a
população e todos os recursos e que seja um exemplo mundial. Precisamos de
deixar claro que esse é o mundo que queremos e que não vendemos o futuro dos
nossos filhos por um prato de lentilhas.
Precisamos
de exigir a todas as organizações a que pertencemos que abracem esta mesma causa
e que a transformem em actos. Precisamos de dizer ao nosso banco que, se
investir nas empresas petrolíferas que envenenam o planeta teremos de mudar de
banco. Precisamos de assinar petições e de juntar a nossa voz à das
manifestações que estão a acontecer por todo o país. Não é só a coisa correcta
a fazer. É uma questão de sobrevivência.
Acham que somos fracos para
combater os gigantes do petróleo? Enganam-se. Só somos fracos quando ficamos
calados e quietos. Para ganhar esta batalha basta querer. A alternativa é ficar
a olhar enquanto cavam a nossa sepultura. Há melhores maneiras de passar o
verão.
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