A
propósito do violento ataque à democracia que Erdogan está a desferir contra o
seu país, a Turquia, José Vítor Malheiros formula hoje, em artigo de opinião,
várias perguntas muito pertinentes exactamente sobre o conceito de democracia,
as quais “não têm sentido apenas para os países muçulmanos ou para os povos de tez
morena” mas para o mundo ocidental, particularmente a Europa:
Mas
será isto uma democracia? Este país [Turquia] que expulsa os jornalistas
estrangeiros independentes e lança na cadeia os turcos que se atrevem a
escrever sobre a corrupção do governo? Que pede anos de cadeia por “insulto ao
presidente” para os que criticam a sua política? Que reprime pela força
protestos e prende peticionários? Que quer restaurar a pena de morte para
condenar os autores deste golpe? Este país que é o número 151 (entre 180) do ranking
da liberdade de imprensa?
Será
que a existência de partidos e de eleições (por limitada que seja a liberdade
de acção de certos partidos e grupos sociais e por duvidoso que seja o
funcionamento das eleições) chegam para classificar um país como uma democracia
e para tornar todas as suas acções aceitáveis?
(…)
Vivemos
numa democracia quando toda a nossa vida pública é condicionada por tratados
europeus que não aprovámos em eleições e cujo teor e consequências não
discutimos? Vivemos sob o primado da lei quando pertencemos a uma organização
onde as regras (e as sanções) não são iguais para todos?
Vivemos numa democracia e num
estado de direito quando podemos ser envolvidos numa guerra de consequência
devastadoras através de mentiras e manipulações, como agora se prova (pela
enésima vez) no relatório Chilcot? Podemos dizer que vivemos numa democracia
quando um governo, eleito sem mandato para tal e sem que nada o justifique a
não ser a ganância de determinados interesses particulares, nos envolve numa guerra?
Podemos dizer que vivemos numa democracia quando, mesmo depois de apurados os
factos, é impossível responsabilizar os políticos que usurparam direitos que
não tinham, invocando factos que não existiam, causando milhões de vítimas
entre mortos, feridos e refugiados?
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