(…)
[As palavras de Chico Buarque] foram talvez o mais
emocionante alerta contra a estupidez e o obscurantismo dos inimigos da
democracia.
(…)
Ontem, em Lisboa e no Porto (e certamente noutras cidades), a
primavera cantou-se.
(…)
Quem tivesse visto os principais telejornais ficaria com a
ideia de que o evento do dia teria sido a patética cena da extrema-direita na
Assembleia da República.
(…)
[A cobertura televisiva da política devia aparecer] como a
ampla arena onde se exprimem as diferentes relações de força social, de
projetos, ideias e formas de organização.
(…)
Para existir comunicacionalmente, a intervenção política deve
falar “do que interessa aos políticos” (como diria Bourdieu).
(…)
De cada discurso parlamentar, selecionar-se-á para reproduzir
apenas aquela curta frase que caiba nesta categoria.
(…)
[A política estimulada por esta lógica] incentiva a reprodução dos mesmos códigos de linguagem,
de formas de expressão, de estafadas fórmulas de dizer o mundo.
(…)
A busca pelo
extraordinário dentro do previsível, pelo episódio de comicidade codificada ou
de alvoroço planeado, premeia uma política que só sabe conceber-se entre a
performance elitista e a publicidade, a provocação e o incidente repetitivo.
(…)
Querem maior favor ao
oportunismo da extrema-direita, que alimenta e é alimentado pelo mercado
mediático da superficialidade?
José Soeiro, “Expresso” online
A maior manifestação de sempre numa questão internacional,
que Ventura apregoou para este dia 25 de Abril, é [era] um objetivo fanfarrão.
(…)
Para ele vale tudo, pois espera enganar sempre toda a gente
ao mesmo tempo.
(…)
A sua frivolidade e ansiedade é bem conhecida para que o
assunto mereça mais comentários.
(…)
Entusiasmou-se então com a sua prometida manifestação [para
a qual lhe faltava gente].
(…)
Assim, como o povo não lhe faz a vontade, decidiu pedir
reforços a bolsonaristas que quisessem viajar até Portugal para uma farra.
(…)
Ora, ontem deu-se conta de que os reforços que pediu são
alguma da gente que invadiu o Congresso brasileiro.
(…)
Ficou com medo da sua própria gente.
(…)
Abriu o armário e está [ficou] com medo dos fantasmas que de
lá saíram.
(…)
Mas que Ventura tenha tanto medo da sua própria gente já nos
diz tudo sobre o que ele sabe que nós sabemos que ele sabe.
Francisco Louçã, “Expresso” online
(sem link)
Nem o mais pessimista diria que 49 anos depois do 25 de Abril
estaríamos nesta queda da escola pública.
(…)
A
falta de professores – e a sua precarização e proletarização – é uma ilação
irrefutável que recupera a exigência de cumprir Abril.
(…)
E por mais que políticos, financeiros e pedagogos prognosticassem
a subalternização do professor, a realidade contrariou-os.
(…)
[Nos EUA] as principais faculdades matriculam mais estudantes
dos 1% mais ricos do que dos 60% com menos rendimentos.
(…)
Paga-se 66.200 euros de propinas anuais nas escolas para
ricos, enquanto o investimento nas públicas é de 13.200 euros.
(…)
O aumento brutal das desigualdades educativas é maior do que no apartheid americano em 1950.
(…)
Acima de tudo, privilegia-se escolas para ricos.
(…)
A bem
dizer, o imparável ultraliberalismo, aplicado nas últimas três décadas pela
generalidade dos governos dos EUA, do Reino Unido e da Europa, não recentra as
políticas educativas nem abandona a febre comparativa do todos contra todos e
em todo o lado.
(…)
E,
antes de mais, repita-se que se deve aos professores a melhor ideia das
democracias – a invenção da escola pública.
(…)
Salvo melhor opinião, a desvalorização do professor foi um
erro histórico com a participação de pedagogos.
(…)
Verdade
seja dita que se ignoraram os avisos (década de 1980) de que a democracia
exigia dos professores a selecção dos conteúdos (com conhecimentos, destrezas,
valores e atitudes), e das formas de avaliação, que ultrapassaria a relação
contraditória com os alunos.
(…)
Além
de tudo, e é hoje cientificamente mais claro, há diversos estilos para ensinar,
mas é mais correcto falar em ignorância do que em conhecimento no que se refere
ao modo como cada um aprende.
(…)
A
destemperada centralidade na aprendizagem inscreveu um diabólico aprender a
aprender como uma espécie de absurdo assente em desconhecer a desconhecer ou
ignorar a ignorar.
(…)
A
partir de dado momento, não era inclusivo treinar as memórias de médio e longo
prazos nem estimular a repetição, o estudo em casa, a atenção nas aulas e até o
respeito pelos professores.
(…)
Por
outro lado, acentuou-se o erro com a generalização nos serviços centrais do
Ministério da Educação (…) da cultura antiprofessor e anti-sala de aula.
(…)
Em suma, a falta de professores estruturou-se.
(…)
Os endeusadores da concorrência desenfreada não se comovem
com fraquezas e depressões.
(…)
No ultraliberalismo domina a selecção natural. Sobrevivem os
fortes, a quem se promete a riqueza material.
(…)
Não é belo deixar tanta desigualdade às próximas gerações.
Paulo Prudêncio, “Público” (sem link)
[Estão] em crise muitas das melhores ideias de Abril,
particularmente no que respeita à educação e à liberdade.
(…)
Rejeito que seja plenamente democrática uma sociedade que não
paute o seu desenvolvimento pela universalização do bem-estar dos seus cidadãos.
(…)
A
legalidade democrática é frequentemente vítima de uma promiscuidade evidente
entre a comunicação social e as agendas globalistas, sejam elas económicas,
políticas ou de costumes.
(…)
A Constituição
(CRP) é assumida cada vez mais como estorvo e cada vez menos como a
referência que se jurou respeitar e cumprir.
(…)
Perdida
a soberania e a independência para uma Europa governada por não eleitos, hoje
alienada pela guerra e subserviente aos EUA, saibamos ao
menos continuar a manter a protecção constitucional à liberdade.
(…)
Cumulativamente, a educação vive a maior crise da democracia.
(…)
António
Costa não está apenas desatento ao desmoronamento do nosso sistema de ensino,
submetido a ideologias destemperadas, apresentadas como pedagogias modernas.
(…)
Está completamente desinteressado e alheio.
(…)
A
sociedade aguenta mais três anos a esbracejar no lamaçal de incompetências e
mentiras, que têm vindo a corromper a democracia portuguesa?
Santana Castilho, “Público” (sem link)
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