quarta-feira, 26 de abril de 2023

CITAÇÕES À QUARTA (50)

 
O facto de Bolsonaro ter tido “a rara fineza” de não sujar o diploma do prémio Camões com a sua assinatura (…) proporcionou um dos mais felizes momentos destas celebrações do 25 de abril.

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[As palavras de Chico Buarque] foram talvez o mais emocionante alerta contra a estupidez e o obscurantismo dos inimigos da democracia.

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Ontem, em Lisboa e no Porto (e certamente noutras cidades), a primavera cantou-se. 

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Quem tivesse visto os principais telejornais ficaria com a ideia de que o evento do dia teria sido a patética cena da extrema-direita na Assembleia da República.

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[A cobertura televisiva da política devia aparecer] como a ampla arena onde se exprimem as diferentes relações de força social, de projetos, ideias e formas de organização. 

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Para existir comunicacionalmente, a intervenção política deve falar “do que interessa aos políticos” (como diria Bourdieu). 

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De cada discurso parlamentar, selecionar-se-á para reproduzir apenas aquela curta frase que caiba nesta categoria.

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[A política estimulada por esta lógica] incentiva a reprodução dos mesmos códigos de linguagem, de formas de expressão, de estafadas fórmulas de dizer o mundo.

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A busca pelo extraordinário dentro do previsível, pelo episódio de comicidade codificada ou de alvoroço planeado, premeia uma política que só sabe conceber-se entre a performance elitista e a publicidade, a provocação e o incidente repetitivo.

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Querem maior favor ao oportunismo da extrema-direita, que alimenta e é alimentado pelo mercado mediático da superficialidade? 

José Soeiro, “Expresso” online

 

A maior manifestação de sempre numa questão internacional, que Ventura apregoou para este dia 25 de Abril, é [era] um objetivo fanfarrão.

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Para ele vale tudo, pois espera enganar sempre toda a gente ao mesmo tempo. 

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A sua frivolidade e ansiedade é bem conhecida para que o assunto mereça mais comentários.

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Entusiasmou-se então com a sua prometida manifestação [para a qual lhe faltava gente].

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Assim, como o povo não lhe faz a vontade, decidiu pedir reforços a bolsonaristas que quisessem viajar até Portugal para uma farra.

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Ora, ontem deu-se conta de que os reforços que pediu são alguma da gente que invadiu o Congresso brasileiro.

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Ficou com medo da sua própria gente.

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Abriu o armário e está [ficou] com medo dos fantasmas que de lá saíram.

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Mas que Ventura tenha tanto medo da sua própria gente já nos diz tudo sobre o que ele sabe que nós sabemos que ele sabe.

Francisco Louçã, “Expresso” online (sem link)

 

Nem o mais pessimista diria que 49 anos depois do 25 de Abril estaríamos nesta queda da escola pública.

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A falta de professores – e a sua precarização e proletarização – é uma ilação irrefutável que recupera a exigência de cumprir Abril.

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E por mais que políticos, financeiros e pedagogos prognosticassem a subalternização do professor, a realidade contrariou-os. 

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[Nos EUA] as principais faculdades matriculam mais estudantes dos 1% mais ricos do que dos 60% com menos rendimentos.

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Paga-se 66.200 euros de propinas anuais nas escolas para ricos, enquanto o investimento nas públicas é de 13.200 euros.

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O aumento brutal das desigualdades educativas é maior do que no apartheid americano em 1950.

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Acima de tudo, privilegia-se escolas para ricos.

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A bem dizer, o imparável ultraliberalismo, aplicado nas últimas três décadas pela generalidade dos governos dos EUA, do Reino Unido e da Europa, não recentra as políticas educativas nem abandona a febre comparativa do todos contra todos e em todo o lado.

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E, antes de mais, repita-se que se deve aos professores a melhor ideia das democracias – a invenção da escola pública.

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Salvo melhor opinião, a desvalorização do professor foi um erro histórico com a participação de pedagogos.

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Verdade seja dita que se ignoraram os avisos (década de 1980) de que a democracia exigia dos professores a selecção dos conteúdos (com conhecimentos, destrezas, valores e atitudes), e das formas de avaliação, que ultrapassaria a relação contraditória com os alunos.

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Além de tudo, e é hoje cientificamente mais claro, há diversos estilos para ensinar, mas é mais correcto falar em ignorância do que em conhecimento no que se refere ao modo como cada um aprende.

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A destemperada centralidade na aprendizagem inscreveu um diabólico aprender a aprender como uma espécie de absurdo assente em desconhecer a desconhecer ou ignorar a ignorar.

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A partir de dado momento, não era inclusivo treinar as memórias de médio e longo prazos nem estimular a repetição, o estudo em casa, a atenção nas aulas e até o respeito pelos professores.

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Por outro lado, acentuou-se o erro com a generalização nos serviços centrais do Ministério da Educação (…) da cultura antiprofessor e anti-sala de aula.

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Em suma, a falta de professores estruturou-se.

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Os endeusadores da concorrência desenfreada não se comovem com fraquezas e depressões.

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No ultraliberalismo domina a selecção natural. Sobrevivem os fortes, a quem se promete a riqueza material.

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Não é belo deixar tanta desigualdade às próximas gerações.

Paulo Prudêncio, “Público” (sem link)

 

[Estão] em crise muitas das melhores ideias de Abril, particularmente no que respeita à educação e à liberdade.

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Rejeito que seja plenamente democrática uma sociedade que não paute o seu desenvolvimento pela universalização do bem-estar dos seus cidadãos.

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A legalidade democrática é frequentemente vítima de uma promiscuidade evidente entre a comunicação social e as agendas globalistas, sejam elas económicas, políticas ou de costumes.

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A Constituição (CRP) é assumida cada vez mais como estorvo e cada vez menos como a referência que se jurou respeitar e cumprir.

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Perdida a soberania e a independência para uma Europa governada por não eleitos, hoje alienada pela guerra e subserviente aos EUA, saibamos ao menos continuar a manter a protecção constitucional à liberdade.

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Cumulativamente, a educação vive a maior crise da democracia.

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António Costa não está apenas desatento ao desmoronamento do nosso sistema de ensino, submetido a ideologias destemperadas, apresentadas como pedagogias modernas.

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Está completamente desinteressado e alheio.

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A sociedade aguenta mais três anos a esbracejar no lamaçal de incompetências e mentiras, que têm vindo a corromper a democracia portuguesa?

Santana Castilho, “Público” (sem link)


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