(…)
E foi
Costa que tratou de se enfraquecer, com o vazio que criou à sua volta, depois
de dar toda a força ao Presidente.
(…)
Se nem
para os seus [Marcelo tem sentido de lealdade], quanto mais para os que não o
são.
(…)
Quando
disse que ela [dissolução] “seria uma má notícia”, mas “às vezes tem de haver
más notícias”, ficou claro que quer alimentar a novela.
(…)
Não
tenho vontade de defender a continuidade de António Costa.
(…)
[Mas] à
luz da Constituição, não há qualquer razão para falar em dissolução.
(…)
A
avaliação da qualidade da governação não está na Constituição.
(…)
O
primeiro-ministro teve maioria absoluta depois de seis anos de poder.
(…)
Até
ver, não há impedimento à governabilidade ou impasse constitucional.
(…)
Há um
Governo desgastado a tropeçar nos seus próprios pés e uma direita exasperada
com o jejum de poder e com medo de que a crise inflacionista amaine antes de
“ir ao pote”.
(…)
Mesmo
que houvesse uma crise, não havia uma alternativa.
(…)
O PSD
compromete-se a contar o tempo [de serviço dos professores] que ele próprio
congelou? E o que propõe de diferente na abordagem à inflação?
(…)
É verdade
que o PS aposta, como se viu na última entrevista de Costa, no fantasma do
Chega para se segurar ao poder.
(…)
Como
seria um Governo do PSD (com a IL) pressionado à direita pelo Chega e
sustentado pela abstenção do PS?
(…)
Se
Marcelo dissolvesse um Parlamento de maioria absoluta depois de uma derrota
eleitoral do PS nas europeias abriria um tal precedente político que nunca mais
teríamos um mandato completo.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Haverá antecipação das eleições em 2023? Não.
(…)
[E, se houvesse eleições e Montenegro] ficasse à frente por
um nariz de cavalo, é certo que faria uma aliança com o Chega.
(…)
Ou seja, o que ocupa a conversa política da semana são
trivialidades e jogos de sombras.
(…)
[O que estará a irritar Marcelo] é a consequência do
modo autodestrutivo da maioria absoluta e a desorientação do sistema que a
permitiu e sustentou, a aliança Marcelo-Costa.
(…)
O que há agora de novo, (…), é a justaposição entre
partes importantes da opinião pública que sentem o cansaço da fórmula
promessa-conta-certa-salários-comprimidos, e que sofrem a explosão das
contradições sociais provocadas pela política liberal do governo.
(…)
É nessas contradições que está a responsabilidade da
esquerda: criar campos sociais em que o descontentamento se torne luta, essa
luta procure vitórias e alavancas e organize movimentos unitários.
(…)
[Esses campos sociais] têm uma potência que talvez
esteja a ser menosprezada pelas formas rotineiras da política.
(…)
Melhor seria que passassem a ter a centralidade que lhes
corresponde, pois é aí que está a oposição à maioria absoluta e à agressividade
neoliberal.
(…)
Os campos sociais de combate da esquerda são a luta pela
escola pública, pelo feminismo, contra as alterações climáticas ou várias
expressões de combate a desigualdades: inflação, habitação, a saúde e as
pensões.
(…)
O aumento dos preços dos juros e o disparar dos preços
de compra ou do arrendamento é uma estratégia para transferir rendimentos para
bancos e fundos financeiros que dominam o mercado imobiliário.
(…)
Toda a política dos vários governos, desde a Lei Cristas
até aos Vistos Gold, passando pela promoção do alojamento local, tem uma única
lógica económica e social, subir os preços.
(…)
O arrendamento forçado não passa de uma manobra
política. Um dia, e não será preciso esperar muito, os jovens hoje expulsos das
cidades perguntarão se houve algum efeito concreto ou se era apenas uma
paródia.
(…)
Francisco Louçã, “Setenta e quatro”
A data
[25 Abril] é sempre propícia a invocações da ditadura, a comparações entre a
opressão de então e a liberdade de hoje.
(…)
Mas
sejam quais forem as perspectivas que cada um tem sobre o 25 de Abril, ele
fez-se para que todos as pudessem exprimir livremente, sem receio de
retaliações.
(…)
A
democracia tem como princípio basilar a liberdade de expressão, um valor
supremo que, entre outros, a distingue de qualquer outro regime.
(…)
Não
por acaso, uma das mais poderosas instituições da ditadura era a censura à
imprensa, que caiu no próprio dia 25 de Abril.
(…)
A
democracia teve a capacidade e a sageza de incorporar também aqueles que
estavam contra ela e nisso se engrandeceu e se consolidou.
(…)
Amplificar as vozes dos inimigos da democracia pode pôr em
risco a própria democracia.
(…)
E não
faltam exemplos para o ilustrar nos últimos 20 anos, a comprovar que a solidez
das instituições democráticas para resistir a investidas antidemocráticas é bem
menor do que se poderia pensar.
(…)
[Há que ter em conta] os perigos de, em nome
da democracia, contribuir para dar relevo aos que a querem pôr em xeque,
amplificando a sua mensagem de intolerância em nome da tolerância democrática.
(…)
A
imparcialidade independente das convicções pessoais deve ser exercitada, sim,
mas num quadro que tem como pressupostos a liberdade de expressão e o direito à
informação garantidos pela democracia.
(…)
Não é
por acaso que a defesa da democracia surge antes da obrigação de imparcialidade
jornalística, porque só a primeira é garante da segunda.
(…)
Apesar
de pender sobre ele [jornalismo] um historial de acusações de agente
manipulador, é hoje mais objecto do que sujeito, é hoje mais manipulado do que
manipulador.
José Alberto Lemos, “Público” (sem link)
O 1.ºde Maio que evocaremos na próxima segunda-feira será o quinquagésimo
após o golpe militar progressista dos capitães do Movimento das Forças Armadas
(MFA).
(…)
As comemorações institucionais e
populares que vivemos na evocação do 49.o ano da Revolução, na passada terça-feira trouxeram-nos
sinais de preocupação, mas também de esperança.
(…)
Foi muito positiva a abordagem que o
nosso presidente da República fez sobre temas como o colonialismo e as
políticas migratórias.
(…)
[O comportamento da extrema-direita no
Parlamento] enojou-nos, mas despertou-nos para expressões do fascismo e para a
necessidade de os democratas não titubearem nas respostas a dar-lhe.
(…)
Tudo indica que viveremos, durante o ano
que temos pela frente, uma ampliação destes comportamentos.
(…)
E lutemos por uma divisão social e
internacional do trabalho assente nos valores que ancoram a sua dignificação,
nos avanços civilizacionais conquistados, na defesa das liberdades e da paz.
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