(…)
Ninguém
sabe como corrigir as dificuldades óbvias (…) e todas elas se agravam no mundo
em que a justiça deixou de ser um pilar de segurança.
(…)
A
justiça espetacularizou-se.
(…)
Significa
que somos empurrados para uma opinião sobre os grandes casos mal eles são
enunciados.
(…)
Quem,
dentro desse sistema [de justiça], se revolta contra esta condenação não tem
instrumentos para parar a torrente destrutiva.
(…)
Os
males criados por esta evolução são por demais evidentes.
(…)
[No
caso Lula houve] abuso de poder, mas teve o efeito pretendido, afastar um
candidato a Presidente.
(…)
Chama-se
“guerra judiciária” e o Papa Francisco tem-se referido ao seu impacto desagregador.
(…)
Para o
que aqui me interessa, este é o efeito do desaparecimento daquela função
intermediadora da justiça — fazer cumprir a lei com a segurança da lei.
(…)
As
televisões e as redes sociais passaram a ser a forma popular da justiça.
(…)
Explorar
o sensacionalismo não é um privilégio populista, passou a ser incentivado a
partir de dentro da mais tradicional e mais solene das instituições, o
tribunal.
(…)
É a
justiça formal que promove a justiça informal.
(…)
Como
relação de poder, a justiça não libertou nem criou igualdade, antes marcou
barreiras de classe.
(…)
O
mercado do espetáculo venceu.
(…)
Uma
das formas de proteção do direito contra o arbítrio foi a garantia da
“presunção de inocência”.
(…)
Este
princípio assegurava a proteção, mesmo que vaga, contra a perseguição dos
fracos pelos poderosos.
(…)
O
impasse acumulou uma desconfiança na justiça ao mesmo tempo que a
vulnerabilizou ao populismo comunicacional.
(…)
A
proteção da vítima, real ou fictícia, levou à naturalização da presunção de
culpa.
(…)
A
presunção de culpa é a condição natural da justiça mediatizada.
(…)
Se há
alguma esperança para a justiça, estará em forçar a adaptação das suas regras
para disputar com normas visíveis e respeitáveis o tempo do espetáculo.
(…)
Essa
justiça justa terá poucas semelhanças com a que agora nos promete.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
No
discurso da sessão solene do 25 de Abril, o Presidente da República ensaiou uma espécie de pedido de desculpas pela colonização.
(…)
Poderíamos esperar que a seguir a esta afirmação viesse algo
de consequente.
(…)
[Como se] equilibrando o “bom” e o “mau”
do passado, se ilibasse o Portugal atual de um compromisso com uma política de
reparação histórica.
(…)
Como se pode pedir desculpa pelo colonialismo e, ao mesmo
tempo, considerar que “fomos e somos em tantos casos insubstituíveis.
(…)
[No discurso do PR há] uma forma de reconhecer as raízes
africanas da revolução, embora só até meio caminho.
(…)
Mas em
nenhum momento assume o contributo ativo das lutas de libertação africanas, de
seus protagonistas e ideias para a Revolução de Abril.
(…)
É
interessante que prefira falar de um suposto egoísmo dos portugueses do que do
colonialismo enquanto causa histórica dos “dramas” dos imigrantes e pessoas
racializadas.
(…)
Os
bairros negros e pobres da periferia de Lisboa são, em parte, resultado de
séculos em que pessoas negras não puderam acumular riqueza, porque foram
escravizadas.
(…)
Foi
com pena, mas sem surpresa, que vimos Marcelo Rebelo de Sousa a perder a
oportunidade de agradecer ao Brasil as políticas de reparação de dívidas
históricas que também são nossas.
Cristina Roldão, “Público” (sem link)
Para o
vice-presidente do PSD, estamos perante um problema de falta de juizinho e de
bom senso dos dirigentes do Chega.
(…)
Atrevo-me
a pensar que pode até haver muitos que vejam nesta infantilização do Chega uma
demonstração de que o PSD está pronto para enganar o povo.
(…)
Ventura e Pacheco Amorim não são imaturos nem imberbes.
(…)
Os grupos económicos, as famílias e as personalidades, que
apoiam e financiam o Chega (…) representam, sim, motivações e interesses
muito antigos.
(…)
Infantil
é o vice-presidente do PSD quando se convence de que as suas palavras convencem
e de que, com esta leveza, nos atira areia para os olhos.
(…)
Perguntam a M.P.L. se considera o Chega racista e xenófobo.
(…) Que deve ser o Tribunal Constitucional (TC) a pronunciar-se e que este não
tem entendido assim.
(…)
Tudo o que o vice-presidente do PSD disse sobre este tema
enferma de total falta de rigor.
(…)
Luís
Montenegro – quando lhe perguntam se fará entendimentos com o partido – costuma
esclarecer que não se entenderá com partidos racistas e xenófobos. Em que ficamos?
(…)
O que vos quero dizer é que o PSD continua a navegar na
ambiguidade, continua a não esclarecer.
(…)
Se as mesmas perguntas continuam a ser feitas mês após mês, é
porque nunca foram inequivocamente respondidas.
(…)
Claro que o suspense beneficia o PS e mais beneficiará quando estivermos perto de
eleições. É um verdadeiro presente.
(…)
O PSD
quer ser a direita adulta, mas não passa da direita insegura. E arrisca apanhar
pulgas, que não são nada pulgas, são ovinhos de serpente.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Sem capacidade de mobilização para fazer
gincana da oposição à visita do presidente do Brasil à AR, há uma parte da
Direita portuguesa que tenta ganhar dividendos através do fora de jogo.
(…)
A verdadeira debandada da Iniciativa
Liberal aconteceu após a votação do direito à autodeterminação da identidade,
expressão de género, protecção das características sexuais e da proibição e
criminalização das práticas de conversão.
(…)
Mesmo para os incendiários, é fundamental
escolher a fonte de ignição dos fogos. Todo o foco deve estar no que foi dito
em plenário perante a boçalidade do Chega.
(…)
É na procura da maturidade que alguns
liberais fazem caminho e Augusto Santos Silva não é culpado de lhes reconhecer
os cismas da juventude.
Usar a
liberdade que nos foi dada naquele dia inteiro e puro (25 de Abril de 1974),
como instrumento para a sua destruição é qualquer coisa impensável e
inaceitável.
João Silva, “Diário de Coimbra” (sem link)
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