(…)
As
últimas semanas têm assistido a uma multiplicação de fenómenos extremos na
meteorologia política.
(…)
Tornou-se
rotina o modo trôpego como se fazem escolhas, o vira das medidas anunciadas, o
truque dos iscos para distraírem a opinião pública, bem sei que tudo repetido
de novelas anteriores.
(…)
O
pacote da habitação é um dos sinais desta degradação.
(…)
Começou
com o compromisso de Costa, nas eleições de 2019, de que no cinquentenário do
25 de Abril não haveria família alguma com casa degradada, promessa repetida na
eleição de 2022, não tendo acontecido nada.
(…)
Houve
depois o plano e já temos um menu de recuos, o Alojamento Local fica como está,
o imposto é menor do que o anunciado, os vistos gold são substituídos pelos
nómadas digitais.
(…)
Os
fundos imobiliários recebem borlas fiscais, terrenos públicos vão ser lançados
na roda, fecha-se os olhos ao licenciamento.
(…)
Discute-se
acaloradamente uma medida destinada a não ser aplicada em lado nenhum, o
arrendamento forçado.
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O
segundo dossier prioritário do Governo e do país é a inflação.
(…)
O
segundo dossier prioritário do Governo e do país é a inflação.
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No dia
15 o Governo anunciou a “maior operação” da ASAE sobre os ditos [supermercados].
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O
secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda, garantiu
que a mão era pesada.
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Dois
dias depois de convocar as televisões para filmarem a ASAE em ordem de marcha
contra a grande distribuição, o ministro fez um discurso [de recuo]
(…)
O
respeitinho é lindo e os donos das grandes superfícies tinham-se zangado.
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Se o
ministro da Economia foi o primeiro a lançar a sua campanha contra os “motivos
ideológicos” que o tinham levado a anunciar com fanfarra a investigação sobre a
especulação com os preços alimentares (…), o primeiro-ministro colocou mais
doçura nesta concórdia.
(…)
Entretanto,
o mais tonitruante dos donos das grandes superfícies, Soares dos Santos (…), acusou
o Governo de se aproveitar da inflação, o que é obviamente verdade.
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Recusou
algum benefício da sua empresa, o que é mais parcimonioso com a verdade.
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Sabem
que as medidas agora tomadas em nada reduzirão o seu poder.
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Acusações
de especulação, juras da defesa dos consumidores, tudo acabou como tinha que
acabar.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
Visionário,
Chaplin mostra, já em 1936, um patrão com acesso a câmaras de vigilância para
controlar os trabalhadores, até nas suas idas à casa de banho.
(…)
Um humano com poder desumaniza assim as máquinas para
subjugar uma maioria de outros seres humanos.
(…)
[A técnica] não somente não acabou com o trabalho em geral,
mas também criou novas formas de opressão.
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Quando
leio sobre a inteligência artificial (IA), não posso deixar de pensar no
Chaplin e no facto de que a IA não existe sozinha.
(…)
A culpa não é da IA, mas dos humanos que a alimentam.
(…)
Precisamos de nos debruçar com seriedade sobre a forma como
os criadores já (des)humanizam a máquina.
(…)
Os mesmos vieses discriminatórios que encontramos na
sociedade contaminam as máquinas, e nomeadamente a IA.
(…)
A
desinformação, o assédio virtual, a fratura numérica, a iliteracia numérica,
por exemplo, são fenómenos que impactam, em primeiro lugar e de forma
esmagadora, as populações mais vulneráveis e que são potenciados pelo
desenvolvimento não regulado da IA.
(…)
[A
culpa não é da máquina]. Por enquanto, ainda não é a máquina que faz o humano,
apesar de o poder influenciar, mas é o humano que faz a máquina à sua imagem.
(…)
[É] em nós próprios que precisamos de encontrar e
corrigir as falhas.
(…)
E uma
das principais é que nem todos são “patrões” da IA. Há os que dominam a
cadência e depois há todos os outros.
(…)
Precisamos,
em suma, de mais democracia.
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
A tragédia
do passado 28 de março no Centro Ismaili de Lisboa, (que tirou a vida à Farana
Sadrudin e à Mariana Jadaugy) foi instrumentalizada para gerar mais-valia
mediática e política.
(…)
A
nossa incredulidade e sofrimento foram exacerbados pelo discurso público em
torno do sucedido, que, rapidamente, assumiu contornos populistas e falaciosos.
(…)
A
extrema-direita seria, contudo, incapaz de retirar dividendos políticos de uma
tragédia como esta se não beneficiasse de plataformas para o fazer.
(…)
Vimo-lo
na própria noite do ataque, com Ventura a ser convidado a participar num debate
sobre “migrações”, que mais não foi senão um palco para disseminar falsidades
sobre uma suposta política de imigração descontrolada.
(…)
O oportunismo da extrema-direita ofende-nos (…) também
por desonrar a memória da Farana e da Mariana, e do trabalho que desempenharam,
incansavelmente, em vida.
(…)
Se de
um líder neonazi [como Mário Machado] não esperávamos senão calúnias e
falsidades, sabemos que as mesmas têm terreno fértil num contexto em que as
realidades das comunidades minoritárias e racializadas como a nossa são
ignoradas e tornadas invisíveis.
(…)
[O Centro Ismaili] é um lugar que ocupa um espaço
central nos mapas afetivos e sociais de um sem-número de pessoas das nossas
sociedades.
(…)
A paz
não é apenas um sentimento mas uma prática e uma construção colectiva e que, no
que depender de nós, essa prática irá continuar.
(…)
Persistiremos na busca de um mundo mais justo e tolerante,
também para que tragédias como esta não se repitam.
Sadiq S. Habib, Karim Quintino e Miriam Sabjaly,
“Público” (sem link)
Apesar de parecer que já fizemos muitos
avanços na sensibilização para as desigualdades de género e para o duplo
critério, que ainda existem em muitas esferas da vida social entre homens e
mulheres, na prática, as coisas não mudaram assim tanto.
(…)
Apesar de a maioria das pessoas
licenciadas em Portugal serem mulheres, continuam a ser uma pequena minoria nos
cargos de chefia.
(…)
O entretenimento não suporta o
envelhecimento das mulheres e quer adiá-lo a todo o custo, não contratando
mulheres maduras
(…)
Porque é nessa arcaica lógica de
aprovação das mulheres pelo seu aspeto e na perpetuação da ilusão de que elas
competem entre si pela validação masculina, que estes medíocres [como Alexandre
Pais do "Correio da Manhã"] vivem os seus últimos dias de
tempo de antena.
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