(…)
Ninguém
se perguntará por que Cracóvia custou €48 milhões, apenas €4 milhões deles
públicos, Madrid €51 milhões, apenas com isenções fiscais, e Panamá €19
milhões, sem gastos públicos, enquanto Lisboa pode custar €160 milhões, metade
pago pelo Estado.
(…)
É natural
que o Vaticano ache que foi a melhor jornada de todas. Tudo isto tresanda a
Euro 2004.
(…)
Comentadores
e jornalistas entregaram-se à tarefa de saber qual foi o político que acumulou
mais “valor imaterial”.
(…)
O
Presidente, que confunde o seu estatuto de chefe de Estado com a sua condição
de católico, foi um peregrino.
(…)
António
Costa tratou o momento como uma oportunidade política.
(…)
Mas
foi seguido pela sombra de Carlos Moedas, que esteve em todas, sempre em bicos
de pés e rodeado de assessores de comunicação.
(…)
Num
momento em que a crise da habitação em Lisboa atinge contornos de distopia,
apostou as fichas na onda emocional com o evento que nos pôs no “centro do
mundo”.
(…)
André
Ventura seguiu o exemplo de boa parte dos lisboetas e pôs-se a milhas, evitando
o contraste com os discursos de um Papa que “tem prestado um mau serviço ao
cristianismo”, abençoa reclusos e defende os imigrantes.
(…)
[Do
Papa] será a capacidade de falar aos muitos católicos que o veem como o
derradeiro suspiro de humanidade e lucidez numa Igreja que visitam em
casamentos, batizados e funerais.
(…)
São os
sectores mais conservadores e radicalizados que dominam a ação política
organizada dos católicos.
(…)
[A hierarquia
católica portuguesa] faz-se de morta, como foi evidente no paupérrimo
empenhamento no Sínodo 2021-2024.
(…)
Este Papa
está a léguas do que é hegemónico na hierarquia.
(…)
É
possível que tenham acontecido coisas interessantes na JMJ, mas a
espetacularização da fé sempre foi eficaz para travar reformas na Igreja.
(…)
A
dispendiosa “rave religiosa” são muito mais poderosas do que as palavras do
Papa, intérprete da Igreja que vive para lá das margens do poder.
(…)
Francisco
não pode assim tanto contra o que sobra de séculos de poder.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Walter Baier, presidente do Partido da Esquerda Europeia,
também participante no evento [workshop Comunicação
em Tempo de Guerra organizado pela Dialop], deu voz a
essa urgência de diálogo.
(…)
Neste
tempo de catástrofe climática, a nossa resposta ao grito da Terra tem que ir de
mão dada com a nossa resposta ao grito dos pobres porque
ambos têm a mesma origem numa economia que mata tanto as pessoas como a
natureza.
(…)
O
desafio com que todos – crentes e não-crentes – estamos confrontados é o de
construirmos uma alternativa ao senso comum alimentado por uma série de
dispositivos que naturalizam a guerra e o desastre ambiental.
(…)
É urgente a construção de uma ética social transversal, com a
marca do primado da vida digna para todos.
(…)
Marxistas
e cristãos são destinatários deste apelo à construção de um senso comum em que
a dignidade dos empobrecidos, dos explorados e de todas as vítimas de todas as
discriminações seja a pedra angular.
(…)
Há um
intenso caminho feito, por gente de um lado e do outro, para essa construção de
consensos diferenciados que deem corpo a uma alternativa à economia que mata.
(…)
O
caminho de encontro entre cristãos e marxistas, (…), faz um especial sentido
aqui, deste lado do mundo.
José Manuel Pureza, “Público” (sem link)
Como
escreve Andrew Stroehlein, director dos media europeus da Human Rights Watch,
estamos perante “a mais preguiçosa forma de política”, praticada pelos
“políticos sem escrúpulos” que estão sempre prontos a aproveitar-se da fragilidade
alheia para ganho pessoal.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Os dados sobre o emprego e o desemprego, divulgados esta
semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos ao segundo
trimestre de 2023, levaram o Governo, em particular pela voz do secretário de
Estado do Trabalho (SE), a fazer cinco afirmações cheias de positivismo.
(…)
O desemprego desceu, comparado com o trimestre anterior, mas
aumentou face ao trimestre homólogo de 2022.
(…)
O fator que mais contribuiu para diminuir o desemprego neste
período foi a celebração de quase 55 mil contratos sazonais.
(…)
A generalidade destas pessoas não sobreviverá com o que vai
auferir nuns meses, teremos mais encargos para a Segurança Social e mais
cidadãos a viver de apoios pontuais.
(…)
A criação de emprego concentrou-se no turismo e construção,
setores de baixa produtividade, muita precariedade e baixos salários.
(…)
E não se pode explicar a perda de trabalhadores com
licenciatura ou mais, apenas por uma alteração metodológica do INE na recolha
de informação.
(…)
[Se] estamos a assistir a sinais de uma ténue recuperação
salarial, todavia longe de cobrir as perdas dos últimos anos, ou seja, não se
pode falar de mudança na política salarial.
(…)
A exportação de produtos com mais conteúdo tecnológico não
significa automaticamente melhoria da qualidade do emprego e, menos ainda,
mudança de “paradigma” da economia.
(…)
São necessárias políticas que apostem simultaneamente nas
pessoas e no perfil de especialização da economia.
A
maquilhagem foi uma constante nesta Jornada Mundial da Juventude, parecendo por
vezes que estávamos a assistir a um filme com legendas erradas ou mal dobrado.
(…)
O
evento foi um sucesso segundo a organização religioso-estatal, mas apesar da
maquilhagem deixou a descoberto cicatrizes na democracia que importa não
camuflar.
(…)
Se não
nos ocuparmos da religião, ela ocupa-se de nós. E exemplos disso é o que não
falta no mundo, basta olhar para os EUA ou Itália e para os retrocessos a que
estamos a assistir em matéria de direitos das mulheres e das pessoas.
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
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