(…)
Em Jackson Hole, nos Estados Unidos, realizou-se o costumeiro
simpósio anual albergado pela Reserva Federal de Kansas City.
(…)
Em Joanesburgo, na África do Sul, reuniu-se a cimeira dos BRICS.
(…)
No primeiro caso falaram os banqueiros das maiores potências
económicas, (…), ao passo que no segundo se ouviram os chefes dos respetivos
Governos, ali os banqueiros não mandam.
(…)
Os banqueiros centrais que se reuniram nos Estados Unidos têm um
estatuto legal de independência (…) para assegurar a proteção do mercado
financeiro pelos seus próprios poderes.
(…)
Em Joanesburgo apresentaram-se governantes, uns de democracias
eleitorais e outros de autocracias, que tutelam os bancos centrais nacionais.
(…)
O problema é que a independência dos bancos centrais (…) permitiu
ou até estimulou a desregulação que causou a grande crise de 2008.
(…)
Pelo contrário, alguns dos países dos BRICS registaram importantes
crescimentos industriais, que foram apoiados pelas suas políticas cambiais e
monetárias.
(…)
De facto, os dois grupos de países, sobretudo o dos BRICS, são
heterogéneos, e seria exagerado traçar alguma convergência persistente nas suas
políticas.
(…)
Do Japão à zona euro, passando pelos EUA, se anuncia o
prosseguimento da política restritiva.
(…)
[Outro] paradoxo é que sabem
que a população não acredita neles. E este é o mais curioso.
(…)
[Há estudos que contam uma
história embaraçosa] Como se vê no seu gráfico, que compara a evolução real da
inflação na zona euro e as várias previsões que foram sendo publicadas pelo
BCE, estas estavam sempre erradas.
(…)
Estavam erradas quando
Lagarde e os Governos europeus, incluindo o nosso, garantiram que era um
fenómeno “temporário”.
(…)
Mesmo quando verificaram o
desvio, continuaram sempre a prever que a inflação ia baixar, falhando sempre
da mesma forma.
(…)
Desde o final de 2020 as
previsões oficiais eram todas erradas, pois antecipavam uma estabilização do
ritmo da inflação ou até o seu declínio, que não ocorreu.
(…)
Pior, nunca aprenderam com
os erros.
(…)
O FMI, que diz que sabe
quais são, põe o nome na coisa: o aumento da taxa de lucro explica dois terços
da inflação no nosso caso.
(…)
Quando se aperceberam de que
havia outras causas [que não os preços da energia] para a inflação, nada
fizeram senão prosseguir a política que sabiam que não resultaria.
Francisco
Louçã, “Expresso” Economia (sem
link)
[A
instalação de sistemas de videovigilância em larga escala] está a
acontecer um pouco por todo o país e o debate à volta do assunto é quase zero.
(…)
Será a
PSP a ver e a guardar as imagens e que fará isso sem nenhuma supervisão.
(…)
Numa situação em que direitos
fundamentais das pessoas estão em causa, ninguém tomou a liberdade de pensar na
necessidade de uma supervisão.
(…)
Por outro
lado, nos pedidos de licenciamento dos sistemas a PSP manifesta a ligeireza com
que encara o tema.
(…)
A restrição de direitos fundamentais só
é possível quando estão em causa outros direitos fundamentais e se essa
restrição for indispensável à preservação desses direitos.
(…)
Nos
pedidos da PSP nem se nota a preocupação em justificar a indispensabilidade dos
sistemas de videovigilância.
(…)
É difícil
justificar a necessidade de sistemas de videovigilância [quando se sabe
que Portugal é dos países mais seguros do mundo e que na última década a
criminalidade desceu 42%].
(…)
A Comissão Nacional de Proteção de Dados
(CNPD) tem arrasado estes pedidos e tem suscitado as maiores reservas ao seu
deferimento, chegando mesmo a dar pareceres negativos.
(…)
Quem está
a autorizar estes pedidos nestas condições? O próprio Ministério da
Administração Interna (MAI).
(…)
Há
sistemas que preveem o recurso a inteligência artificial (IA). É assim nas
cidades de Leiria e Portimão.
(…)
É outra
pequena amostra da leviandade com que tudo isto está a ser tratado.
(…)
As ruas
deixarão de ser um espaço de liberdade e passarão a ter um controlo tipicamente
autoritário.
(…)
Quando
dermos por ela, teremos um Big Brother em cada esquina.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
[Fukuyama] o homem abalroado pela mesma história que disse
ter atingido a sua finitude, vem agora afirmar-nos que não estava errado, o
liberalismo é que é um estádio superior de civilização a que os homens só dão
valor quando passam pela barbárie.
(…)
A
democracia liberal é um mal, mas bem melhor que outros males que andam por aí.
(…)
Aquilo que Fukuyama nos diz é que os
países precisam de cair num buraco para perceberem como é bom ser liberal.
(…)
E se a América está como está, apesar de
mais próxima do idealismo liberal do cientista político, a culpa não é do
liberalismo, mas do facto de “a política, hoje”, ser “muito estúpida”.
(…)
Quanto às “injustiças e aos graves
problemas sociais” das democracias, a culpa era da “incompleta aplicação dos
princípios” e não se devia a “defeitos intrínsecos dos próprios princípios”.
António
Rodrigues, “Publico” (sem link)
Em profunda crise, a democracia liberal
deixou de ser capaz de gerar o bem-estar que a ajudou a superar contradições e
ofuscar limitações durante décadas.
(..)
A
democracia liberal foi-se mantendo viável enquanto foi possível manter a ideia
de eterno progresso.
(…)
A partir do momento em que a democracia
liberal entrou em “crise profunda” por não ser “capaz de garantir o bem-estar”,
introduziu “a crise como arte de governo”.
(…)
“Em
vez de ser um fenómeno económico, político e social”, a crise produz, assim,
“uma constante sensação de perigo que torna os sujeitos mais previsíveis e mais
governáveis”.
(…)
Mas
sempre “com a ilusão de que as suas acções são livres porque, na realidade,
ninguém os obriga”.
(…)
E a crise passou a ser uma palavra de
gestão social, destinada a garantir que os momentos de inflexão sejam meros pontos
de transformação semântica.
António Rodrigues, “Público” (sem
link)
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