(…)
Os
homens sempre souberam, com rigor milimétrico, onde ela [a fronteira] fica.
(…)
E
quanto mais conservadores forem esses homens mais rigorosa é essa fronteira.
(…)
É nas
sociedades mais machistas, como a espanhola ou a portuguesa, e não nas
sexualmente mais liberais, que o abuso sobre as mulheres é comum.
(…)
Basta
olhar para as imagens para perceber que não houve qualquer gesto ativo de
consentimento.
(…)
Claro
que, na sedução, nem todos os momentos são previamente acordados.
(…)
Porque
o abuso, na cabeça de muitos homens, não é determinado pela vontade da vítima,
mas pela intenção do abusador.
(…)
Se um
homem se sente à vontade para ultrapassar as fronteiras perante todos, como se
sentirá em privado?
(…)
O
abuso eufórico e inocente rapidamente se tornou em abuso calculista e
autoritário.
(…)
[Uma
campanha montada pela máquina federativa de Rubilaes tinha como objetivo
convencer a opinião pública de que] era ela a ser julgada por não ter repelido
o beijo.
(…)
No
fundo, [fazer crer que] nenhuma mulher é abusada sem culpa própria.
(…)
E se
não ficou destroçada, lá está o consentimento.
(…)
E a
popularidade muito recente do futebol feminino é mais do que cada vitória
desportiva. É uma vitória sobre a menorização de metade do planeta.
(…)
A
recusa das jogadoras em continuarem a trabalhar com o dirigente que garantia
que aquele beijo apenas revelava a sua grande proximidade a elas deveria chegar
para deixar tudo muito claro.
(…)
O
espírito de equipa que as levou à vitória traduziu-se numa autoestima
partilhada que tornou mais difícil isolar e esmagar a vítima, como é costume.
(…)
Custará
a muito homens, mas terão mesmo de contar com mais poder da outra metade da
humanidade.
(…)
E são
elas a definir o que é a sua linha do abuso.
(…)
Todos
os que vão justificando o abuso de poder com o carinho e a admiração que têm
pelas mulheres terão de aprender a lidar com iguais.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Um dos
[dilemas] que maiores perplexidades tem criado é o da relação entre transição e
mineração.
(…)
Particularmente
na transição energética, pelo facto de sabermos que ela requer grande
quantidade de matérias-primas escassas.
(…)
Estamos
confrontados com um dilema e com o aproveitamento das tensões que ele cria para
se promoverem interesses abusivos, entalar o Estado e ferir o interesse público.
(…)
O que
é surpreendente é que, gerações atrás de gerações, os nossos recursos mineiros
sejam entregues em condições fabulosas às empresas que os exploram.
(…)
A
atividade mineira tem arrastado consigo um sinistro passivo que o Estado tem
evitado encarar.
(…)
Há anos
que tem sido lançado o alarme quanto ao risco de contaminação em que as
próprias águas do Zêzere se encontram devido a uma antiga escombreira de
resíduos tóxicos das minas da Panasqueira.
(…)
Existem
neste momento 199 antigas áreas mineiras abandonadas no país, muitas das quais
com depósitos de contaminados e escombreiras.
(…)
Não é
admissível qualquer falha de rigor na responsabilização de qualquer nova
exploração quanto aos seus subprodutos, resíduos e impactos.
(…)
Como
não compreender a reação das populações e autarcas às intenções mineiras nos
seus territórios.
(…)
Por
que razão, então, tem o país de ser devastado, explorado e depois abandonado ao
lixo e à contaminação?
(…)
É que
a exploração mineira é baseada em contratos que têm cláusulas e garantias.
(…)
E
esses contratos são estabelecidos com o Estado que tem deveres indeclináveis
para com a população e os recursos naturais do país.
(…)
Está
em curso atualmente uma nova leva de concessões mineiras, mas não estão ainda
garantidas todas as cautelas sobre as condições em que a exploração se fará em
termos ambientais e paisagísticos, e também em termos sociais e de saúde
pública.
(…)
Acresce
que é urgente perceber as contrapartidas que o Estado deverá legitimamente
assegurar para o país e garantir que toda a intervenção mineira obedece a um
planeamento rigoroso.
(…)
[É
imoensável] vermos agora o país atirar-se a um novo ciclo mineiro sem ter
preparado suficientemente nem o seu planeamento nem todas as responsabilidades
sociais e ambientais.
(…)
Não se
admite nem mais uma negligência sobre as consequências das explorações.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
Quando
se visita uma frente, a maioria das casas que se vê destruídas são casas de
gente pobre, assim como os espaços de recreio e escolas, muitas vezes nos
bairros dos arredores ou em aldeias, não são opulentas mansões.
Pacheco
Pereira, “Público” (sem link)
O Governo prepara o Orçamento do Estado (OE) e as políticas
que o acompanharão, dando sinais de fechamento e de medo em se abrir à
sociedade.
(…)
[A direita agita] algumas bandeiras sem ir ao fundo dos
problemas porque não tem resposta para eles.
(…)
Os partidos à Esquerda parecem surgir com uma ação política
mais clarificadora das relações entre as agendas social e política.
(…)
A discussão do Orçamento do Estado e a retoma dos trabalhos
da Assembleia da República vão tornar mais evidentes estes jogos em curso e o
seu distanciamento das respostas aos reais problemas das pessoas.
(…)
Ou temos um novo impulso de industrialização, em setores e em
condições inerentes ao tempo em que estamos, ou definhamos.
(…)
Precisamos de um OE que interprete os compromissos de uma
sociedade democrática organizada no que é estruturante da vida das pessoas.
(…)
A Escola inicia o novo ano letivo com os alunos carregados de
expectativas e sonhos, mas o Governo teima em tratar mal os professores.
(…)
Os tribunais reabrem em clima de tensão com parte dos seus
trabalhadores e os cidadãos sentem o sistema de justiça entupido.
(…)
Na saúde a situação é idêntica.
(…)
A melhoria dos salários anda de mãos dadas com a evolução da
qualidade do emprego.
(…)
O
Governo pode e deve dar o tiro de partida começando a valorizar os salários dos
trabalhadores da Administração Central e Local.
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