Perante as perspectivas de negócios chorudos os interesses económicos das democracias ocidentais não vacilam perante a possibilidade de branquearem as ditaduras mais ferozes que pululam por esse mundo fora. Os respectivos Governos dão uma ajudinha como o que aconteceu até há pouco tempo com o facínora Kadafi. As suas ligações pessoais com governantes ocidentais, agora relatadas na imprensa, dão-nos, mais uma vez, a certeza de que os interesses económicos fazem esquecer as mais elementares exigências da democracia. O texto seguinte que foi extraído da edição de ontem do “Diário de Coimbra” põe em relevo a hipocrisia das relações internacionais quando há negócios em jogo.
A habitual boa consciência…
“Decididamente o poder mediático e o poder político nas nossas democracias funcionam de estranha maneira! Por exemplo: em relação a países estrangeiros, só utilizam o termo ditador e ditadura em três circunstâncias. Quando o novo líder e s seus sequazes, depois de tomado o poder, começam a mostrar-se hostis aos interesses económicos “ocidentais”. Mais claramente ainda: quando os antigos “homens fortes” foram derrubados por um golpe de Estado ou uma revolta popular. O então, mais prudentemente quando esses mesmos “homens fortes” dão sérios sinais de estar a perder o pé.
Se ditadores e ditaduras deixarem que os negócios com o “mundo ocidental” se desenvolvam normalmente (“as usual” dizem os anglófonos), ninguém no poder mediático e no poder político pensará em ter o mau gosto de empregar qualificativos desagradáveis. Seja embora necessário passar sistematicamente por subornos e pagamentos de avultadas “luvas” a intermediários do poder…
Repare-se no caso dos países árabes do Próximo e do Médio Orientes. Todos eles governados por regimes autocráticos, mais ou menos ferozes, há largos decénios. Mas quase todos claramente integrados na área de influência “ocidental”, não ousando sequer pôr seriamente em questão a política exterior dos Estados Unidos. Alguns, poucos, dispondo de reservas de petróleo importantes, manifestavam de vez em quando sobressaltos de independência, fogo de vista para consumo interno, o “Ocidente” prestando-se rapidamente a todas as concessões para acalmar os ânimos…
Salvaguardado o petróleo preservado o “modus vivendi” com Israel (protegido absoluto dos EUA) e imposta a “pax americana” da Mauritânia ao Golfo Pérsico, poder mediático e poder político “ocidentais” mostrar-se-iam cegos, surdos e mudos em relação à natureza dos regimes instalados. À cleptomania dos dirigentes. Às provocações delirantes de alguns. À pressão, á tortura e à censura reinantes. À miséria e ao analfabetismo generalizados. Às reivindicações apesar de tudo perceptíveis das populações em termos de liberdade, de democracia e de justiça social.
Numa altura em que a “primavera dos povos árabes” dá o sentimento de querer varrer longos decénios de história e fazer soprar o vento da liberdade, média e poderes políticos “ocidentais” parecem dar-se enfim conta do que foi a hipocrisia das relações que, durante tanto tempo, estabeleceram com esses povos. Mas se acto de contrição houver, as perspectivas futuras da “realpolitik” são, a curto prazo, ainda bastante fortes…”
A habitual boa consciência…
“Decididamente o poder mediático e o poder político nas nossas democracias funcionam de estranha maneira! Por exemplo: em relação a países estrangeiros, só utilizam o termo ditador e ditadura em três circunstâncias. Quando o novo líder e s seus sequazes, depois de tomado o poder, começam a mostrar-se hostis aos interesses económicos “ocidentais”. Mais claramente ainda: quando os antigos “homens fortes” foram derrubados por um golpe de Estado ou uma revolta popular. O então, mais prudentemente quando esses mesmos “homens fortes” dão sérios sinais de estar a perder o pé.
Se ditadores e ditaduras deixarem que os negócios com o “mundo ocidental” se desenvolvam normalmente (“as usual” dizem os anglófonos), ninguém no poder mediático e no poder político pensará em ter o mau gosto de empregar qualificativos desagradáveis. Seja embora necessário passar sistematicamente por subornos e pagamentos de avultadas “luvas” a intermediários do poder…
Repare-se no caso dos países árabes do Próximo e do Médio Orientes. Todos eles governados por regimes autocráticos, mais ou menos ferozes, há largos decénios. Mas quase todos claramente integrados na área de influência “ocidental”, não ousando sequer pôr seriamente em questão a política exterior dos Estados Unidos. Alguns, poucos, dispondo de reservas de petróleo importantes, manifestavam de vez em quando sobressaltos de independência, fogo de vista para consumo interno, o “Ocidente” prestando-se rapidamente a todas as concessões para acalmar os ânimos…
Salvaguardado o petróleo preservado o “modus vivendi” com Israel (protegido absoluto dos EUA) e imposta a “pax americana” da Mauritânia ao Golfo Pérsico, poder mediático e poder político “ocidentais” mostrar-se-iam cegos, surdos e mudos em relação à natureza dos regimes instalados. À cleptomania dos dirigentes. Às provocações delirantes de alguns. À pressão, á tortura e à censura reinantes. À miséria e ao analfabetismo generalizados. Às reivindicações apesar de tudo perceptíveis das populações em termos de liberdade, de democracia e de justiça social.
Numa altura em que a “primavera dos povos árabes” dá o sentimento de querer varrer longos decénios de história e fazer soprar o vento da liberdade, média e poderes políticos “ocidentais” parecem dar-se enfim conta do que foi a hipocrisia das relações que, durante tanto tempo, estabeleceram com esses povos. Mas se acto de contrição houver, as perspectivas futuras da “realpolitik” são, a curto prazo, ainda bastante fortes…”
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