sábado, 16 de janeiro de 2016

DERROTAR A IDEOLOGIA DA DIREITA RADICAL


Pacheco Pereira confronta-nos hoje no Público com mais um artigo de opinião de grande qualidade em que realça aquilo que parece andar escondido para muita gente mas que é de uma evidência a toda a prova: a vitória ideológica da direita portuguesa apesar da sua recente derrota política. O exemplo mais recente que confirma esta realidade tem a ver com a reposição, por parte do Governo ancorado à esquerda, das 35 horas semanais de trabalho para o funcionalismo público, uma medida de pura decência e de justiça, sem quaisquer laivos de radicalismo esquerdista. No entanto, o que se verificou em muita comunicação social (muito dominada pela direita) foi uma revoada de comentários desfavoráveis, porque o sector privado continua com 40 horas semanais e os trabalhadores do Estado estariam a ser beneficiados. Não é por acaso que não se fez a defesa das 35 horas para todos mas o contrário…
Estamos perante uma medida de puro cariz social-democrata que mostra, por um lado, a deslocação para o centro da esquerda e, por outro, os protestos da direita reveladores do seu radicalismo. A direita perdeu na área política mas a sua ideologia continua a dominar o pensamento de largas camadas da população portuguesa. A derrota da ideologia da direita radical é um dos próximos combates políticos a levar a cabo.
Devido á extensão do texto de Pacheco Pereira, decidimos deixar aqui apenas alguns excertos do mesmo:
- Renderam-se todos aos “mercados” como Deus ex machina da política e isso desarmou-os ideologicamente.
- Mais relevante para perceber o que se passou é ver como o programa social virou parte do centro e da direita para o radicalismo e puxou parte da esquerda para ocupar esse centro.
- Muitas vezes pergunto se a maioria daquilo que hoje passa por ser um radicalismo da esquerda (e que a direita saliva ao ouvir) não é pouco mais do que moderadamente social-democrata ou democrata-cristão.
- Exames, pensões, reformas, feriados, tudo passou a ser não apenas de esquerda, mas do radicalismo de esquerda, apenas porque só partidos que se auto-classificam de esquerda o fazem.
- O que se passou é que a radicalização da direita deixou um terreno vazio ao centro que faz com que uma esquerda moderadíssima pareça o bolchevique com uma faca entre os dentes.
- A direita mais radical interiorizou em muitos portugueses um modo de pensar, uma maneira de defrontar os problemas, uma forma de questionar, uma interpretação da vida social, da economia, do estado, que é de facção, mas que muitos aceitam sem questionar.
- O que se passou é que a radicalização da direita deixou um terreno vazio ao centro que faz com que uma esquerda moderadíssima pareça o bolchevique com uma faca entre os dentes.
- Já viram um jornalista confrontar um gestor ou um empresário com a pergunta de “quem paga?” e “quanto custam’” os erros de gestão, a falta de competitividade das empresas devida à má qualidade dos seus empresários, a fuga ao fisco “legal”, etc?
- Já viram um jornalista, com a mesma imediaticidade pavloviana do “quem paga?”, perguntar a um banqueiro se ele acha justo que os erros de gestão da banca tenham que ser pagos pelos contribuintes? Não, porque o jornalista já deu na sua cabeça a resposta ideológica, “é preciso salvar o sistema financeiro”.
- Para combater a ideologia da direita radical precisamos de algum retorno à moralidade, como os espanhóis compreenderam com as suas “marchas pela dignidade”.

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