O
excelente resultado obtido por Marisa Matias no passado domingo causou uma
forte azia a muita gente que estava confiante numa percentagem muito mais
baixa, como apontavam as sondagens. Mas as sondagens não votam e, se pretendem
influenciar o voto popular, a verdade é que, neste caso, os eleitores deram uma
resposta à altura no que diz respeito à candidata presidencial apoiada pelo
Bloco de Esquerda.
Na
noite das eleições, Jerónimo de Sousa, num assomo de mau perder e do verdete
sectário, sempre muito presente nos comunistas portugueses – não sabemos o que
se passa nos dos outros países – não se conteve ao afirmar “podíamos arranjar uma
candidata engraçadinha mas não somos capazes de mudar”, numa clara alusão
provocatória a Marisa Matias. É provável que o líder comunista já esteja
arrependido de ter pronunciado esta infeliz expressão mas a verdade é que ela
já fez correr muita tinta na comunicação social, para além dos comentários mais
ou menos jocosos nas redes sociais.
Nesta
sequência, deixamos aqui o comentário de um camarada bloquista, Rui Curado da
Silva, que transcrevemos do Diário as beiras de hoje.
As
declarações de Jerónimo de Sousa no domingo sobre Marisa Matias (foram mesmo
sobre Marisa) não revelaram apenas mau perder (é humano e não é grave), revelam
sobretudo uma reflexão grosseira incompatível com um dirigente de um partido de
esquerda. A generalidade dos militantes e simpatizantes do PCP não é assim nem
aprovam este tipo de intervenção na esfera pública (em casa ou no café, Jerónimo
pode dizer o que quiser).
O
PCP tem uma história respeitável no combate pela luta dos direitos das
mulheres, onde não encaixa este tipo de reflexões onde se mistura política com
a estética feminina. O mais irónico é que a Marisa é um exemplo daquilo pelo
qual o PCP e os restantes partidos de esquerda se bateram desde o 25 de Abril. Criada
num meio simples sem grandes luxos, a Marisa beneficiou da escola pública, da
saúde pública, de transportes públicos, até entrar para a universidade, onde
tirou o curso e se doutorou, a par daqueles que sempre tiveram os meios para o
fazer.
Mais tarde, foi distinguida pelos
restantes eurodeputados como a melhor eurodeputada na área da saúde. Em suma, a
carreira da Marisa é imune àquelas considerações desqualificantes. Reparei que,
desde 1976, Jerónimo foi deputado em 11 das 13 legislaturas. Desconheço se pelo
meio voltou à metalurgia, mas estou certo que um período de descanso da
política fará mais bem do que mal a Jerónimo de Sousa.
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