quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O MAU PERDER DE JERÓNIMO


O excelente resultado obtido por Marisa Matias no passado domingo causou uma forte azia a muita gente que estava confiante numa percentagem muito mais baixa, como apontavam as sondagens. Mas as sondagens não votam e, se pretendem influenciar o voto popular, a verdade é que, neste caso, os eleitores deram uma resposta à altura no que diz respeito à candidata presidencial apoiada pelo Bloco de Esquerda.
Na noite das eleições, Jerónimo de Sousa, num assomo de mau perder e do verdete sectário, sempre muito presente nos comunistas portugueses – não sabemos o que se passa nos dos outros países – não se conteve ao afirmar “podíamos arranjar uma candidata engraçadinha mas não somos capazes de mudar”, numa clara alusão provocatória a Marisa Matias. É provável que o líder comunista já esteja arrependido de ter pronunciado esta infeliz expressão mas a verdade é que ela já fez correr muita tinta na comunicação social, para além dos comentários mais ou menos jocosos nas redes sociais.
Nesta sequência, deixamos aqui o comentário de um camarada bloquista, Rui Curado da Silva, que transcrevemos do Diário as beiras de hoje.
As declarações de Jerónimo de Sousa no domingo sobre Marisa Matias (foram mesmo sobre Marisa) não revelaram apenas mau perder (é humano e não é grave), revelam sobretudo uma reflexão grosseira incompatível com um dirigente de um partido de esquerda. A generalidade dos militantes e simpatizantes do PCP não é assim nem aprovam este tipo de intervenção na esfera pública (em casa ou no café, Jerónimo pode dizer o que quiser).
O PCP tem uma história respeitável no combate pela luta dos direitos das mulheres, onde não encaixa este tipo de reflexões onde se mistura política com a estética feminina. O mais irónico é que a Marisa é um exemplo daquilo pelo qual o PCP e os restantes partidos de esquerda se bateram desde o 25 de Abril. Criada num meio simples sem grandes luxos, a Marisa beneficiou da escola pública, da saúde pública, de transportes públicos, até entrar para a universidade, onde tirou o curso e se doutorou, a par daqueles que sempre tiveram os meios para o fazer.
Mais tarde, foi distinguida pelos restantes eurodeputados como a melhor eurodeputada na área da saúde. Em suma, a carreira da Marisa é imune àquelas considerações desqualificantes. Reparei que, desde 1976, Jerónimo foi deputado em 11 das 13 legislaturas. Desconheço se pelo meio voltou à metalurgia, mas estou certo que um período de descanso da política fará mais bem do que mal a Jerónimo de Sousa.

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