Vivemos
na Idade da Informação e é costume dizer-se que quem controla a informação controla
o mundo. É verdade, porque os grandes detentores dos meios de controlo da informação
a manipulam conforme os seus interesses a curto ou a longo prazo. Há muitos
acontecimentos que, pura simplesmente são omitidos do conhecimento das populações
e outros que são empolados para parecerem aquilo que não são, tudo em proveito
de uma pequena minoria que por acção ou omissão os manipula. Não tenhamos a
mais pequena dúvida de que, todos os dias, somos sujeitos a influências deste
tipo, na maior parte dos casos sem darmos por isso.
O
binómio informação/comunicação é o tema deste interessante artigo de opinião
(*) que transcrevemos do Diário de Coimbra da passada quinta-feira (14/1/2016).
A
informação e a comunicação são termos que podem estar sujeitos a uma confusão
complexa, sugerindo alguns autores para o primeiro a parte nobre do conteúdo,
deixando ao segundo a manipulação e/ou a submissão a interesses políticos ou de
mercados.
Nesta
perspectiva, caberia à informação os valores e os interesses à comunicação,
tese contrariada por outros investigadores, para quem sem a comunicação não
seria possível informar, tema este que mereceu um número especial da revista da
Universidade Bordeaux Montaigne (La communication au service de l’information?/1995),
ano em que lá me diplomei.
Constitui
este um tema cada vez mais premente, como o comprova um conjunto quotidiano de
blocos de informação que, ora são sonegados nos principais media internacionais
ou, então, morrem à nascença, o que em termos informativos significa a sua dissolução
temporal.
Exemplos
não faltam. Todos nós somos hoje permanentemente confrontados com a violência no
outro lado do Mediterrâneo, com os atentados que atingem algumas cidades
europeias e a vaga de refugiados que procuram refazer a sua vida numa Europa
politicamente já desbalizada. No Médio oriente como noutros espaços
geoestratégicos, há os bons e os maus da fita, encontrando-nos nós, ocidente,
no primeiro caso – dizem-nos – e um tal estado islâmico (Daesh) e Assad no
segundo, já que, entretanto, enterrámos o Sadam no Iraque, o Kadhafi na Líbia e
o Mubarack num hospital egípcio.
Mas,
nada melhor do que colocar um grande repórter internacional a falar, caso de
Renaud Girard no insuspeito FigaroVox (debates, opinião e controvérsias, Julho,
2015), cujo título da informação é esclarecedor: “a França deve deixar de ser o
caniche dos Estados Unidos”, questionando-se como é possível que o presidente
Hollande continue a fornecer armas, mísseis “Milan” e metralhadoras 127 e 14,5
a um pseudo exercito sírio livre, quando tais armamentos caem, dias depois, nas
mãos de grupos terroristas ligados à Al-Qaeda (Al-Nosra) ou à Arábia Saudita (Ahrar
Al-Sham).
Destruímos
o regime líbio – sublinha a informação do jornalista – sem prever uma solução de
substituição, sem garantia de podermos proteger as populações e sem nos
interrogarmos que tal ação serviria os interesses franceses, a médio e a longo
prazo.
Ora,
o que Renaud Girard desconhecia era o conteúdo da comunicação do correio
eletrónico da secretária de estado Hillary Clinton, documentos desclassificados
em 31 de Dezembro, em que se afirmava que o líder líbio possuía 143 toneladas
de ouro e outras tantas em prata, com reservas na ordem dos sete mil milhões de
dólares, com o objetivo de vir a criar uma nova moeda para África, sobretudo,
para os países francófonos africanos, criando uma alternativa ao franco-CFA,
monetizado pelo Banco Central francês e que teria repercussões incalculáveis
para a elite financeira-industrial, pelo que Sarkozy tomou a iniciativa de uma
brutal intervenção entre Março e Outubro de 2011, apesar de vir no seguimento
de uma resolução do conselho de segurança – reunido à pressa – da ONU, mas cujo
parágrafo nono estipulava claramente que “serviria para proteger as populações
e as zonas civis de ataques”(!).
Numa
outra área mas mantendo-se no binómio informação/comunicação, questiono-me
sobre o silêncio fúnebre dado a um comunicado do Banco de França, de 24 de Junho
de 2014, com apenas dois parágrafos, informando que o BNP-Paribas tinha de
pagar uma multa no valor de 8,9 mil milhões de dólares a Washington, por
alegadamente ter negociado com o Sudão, a Líbia e Cuba, países que se
encontravam sob embargo americano, mas sem que qualquer lei francesa tenha sido
sequer beliscada, apenas as transações foram feitas em dólares.
Face
a isto o jornalista do FigaroVox, eu ou qualquer outro cidadão, não podemos
deixar de nos questionar sobre as razões que a União Europeia não infligiu uma
coima à Goldman Sachs (GS) por esta ter ajudado a Grécia a falsificar as suas
contas públicas para poder ingressar na zona euro.
Pelos
cálculos do jornalista, a GS devia ter pago algo como 15 mil milhões mas, como
até hoje nada se passou, opto por concluir aqui esta revista de imprensa.
(*)
João Marques, diplomado em Ciências
da Comunicação
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