(…)
A maior parte dos trabalhadores
desempregados não tem proteção.
(…)
E se é certo que o número de pessoas com
subsídio de desemprego aumentou bastante, já a cobertura do subsídio social de
desemprego é absolutamente risível.
(…)
Não admira, por isso, que os
desempregados sejam o grupo mais exposto à pobreza em Portugal e o único que
diverge da tendência nacional de redução do risco de pobreza nas últimas
décadas.
(…)
À debilidade do subsídio de desemprego
soma-se uma degradação das prestações de combate à pobreza.
(…)
Os desempregados e os jovens adultos, o
grupo social mais vulnerável à pobreza em Portugal, não tem no RSI uma medida
capaz de lhes responder.
(…)
Os trabalhadores independentes são
praticamente excluídos de proteção social quando ficam sem atividade.
(…)
[O problema de proteção social] não se
resolve apenas com mais uma medida temporária, agora que os apoios
extraordinários estão a acabar.
(…)
Ninguém sem emprego ou sem atividade e
que não tenha rendimentos deve ficar desprotegido.
(…)
Nenhuma pessoa que trabalhou e descontou
deve ter um apoio abaixo do limiar de pobreza.
Que estratégias vamos adotar para preservar
o emprego, o salário, a pensão, o Serviço Nacional de Saúde, a escola para
todos?
(…)
[Com a crise anterior] aprendemos que a
contração do salário e da pensão contrai a economia e gera desemprego e emprego
precário.
(…)
Aprendemos que o desinvestimento nos
serviços públicos (o hospital, a escola, o tribunal) tira aos de baixo
rendimento e vida e nos torna mais desiguais e deslaçados como sociedade.
(…)
Está a voltar em força o discurso de que
a compressão dos salários (a começar pelo salário mínimo) é uma
inevitabilidade.
(…)
Os mesmos de sempre preparam-se para
chamar de volta a austeridade chamando-lhe outra coisa qualquer.
(…)
Cumprir o orçamento de 2020 antes de
avançar para o de 2021, isso sim é um sinal de seriedade.
José Manuel Pureza, “Diário as beiras”
Durante seis
meses, conscientemente, congelaram-se problemas à espera de melhores dias, o
Estado foi chamado a prestar proteção reforçada e a assegurar rendimentos a
muitos portugueses e, acima de tudo, a apoiar empresas.
(…)
Os recursos
são limitados e está na hora de fazer escolhas na perspetiva de se encetar um
plano estratégico progressista para a saída da crise.
(…)
No Orçamento
do Estado para 2021, peça primordial de opções de longo alcance, essas escolhas
devem estar refletidas.
(…)
Entretanto,
eleva-se o coro ensaiado por "destacadas" figuras do jornalismo e
"líderes" de opinião, que visa colocar os trabalhadores e o povo
português sob a batuta da austeridade.
(…)
As
reivindicações fundamentais de centenas de milhares de trabalhadores - dos
setores público e privado - que perante os duros impactos da pandemia foram
considerados essenciais e que continuam com salários de miséria e frágeis
condições de trabalho devem ser cumpridas.
Não deixem o
bastonário ser político, nem permitam ao primeiro-ministro ser médico.
(…)
Preocupa-me,
isso sim, que partamos para uma nova fase de contingência global a 15 de
setembro sem uma definição operacional clara sobre a responsabilidade sanitária
nos lares.
Na resposta à
maior crise das nossas vidas, o pior que podemos fazer é perder a calma e
abraçar o medo.
(…)
A última
década tem as lições perfeitas a que temos de prestar atenção.
(…)
A fadiga do
capitalismo já era visível antes das últimas crises. No último meio século
assistimos a uma longa tendência de queda da taxa de crescimento à escala
mundial.
(…)
[Durante o
Governo de direita diziam que a] crise vinha dos salários que não merecíamos,
de direitos que eram regalias, de serviços públicos pesados com “gorduras” que
afundavam o orçamento nacional.
(…)
A crise
[anterior] foi a desculpa para o negócio, a teoria do choque que deu cobertura
ao plano político em defesa de uma pequena elite, retirando o jogo económico da
esfera democrática.
(…)
[No governo da
“geringonça”] não se foi tão longe quanto poderíamos ter ido, mas demos passos
fundamentais que mostraram como uma política diferente pode ter resultados
melhores.
(…)
O “milagre”
português passava por políticas diferentes daquelas que estavam a levar o mundo
e a Europa à estagnação.
(…)
Vir repescar
ao fundo do baú as ideias que os “sacrifícios compensam” ou o “empobrecimento é
redentor” choca com tudo o que foi positivo nos últimos anos.
(…)
Mais direitos
para as pessoas e a defesa do emprego mudando a legislação laboral não exige
sequer mais orçamento.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
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