Só para lembrar outros tempos…
em que éramos os “ciganos” e os “pretos” em França.
“São esquisitos, baixos e
com bigodes e barbas. Chegam, na esmagadora maioria, homens. Elas, quando vêm,
cobrem os cabelos com panos e não usam saia acima do joelho.
Muitas são proibidas pelos
maridos de cortarem o cabelo. Por vezes, eles ameaçam-nas com uma chapada ou um
murro; elas, subservientes, baixam a cabeça e colam as mãos ao ventre. Trazem
com eles uma paixão ferverosa pela religião.
Usam colares com o símbolo
das suas crenças e são capazes de dar mais do que têm para que o seu local de
culto, na sua terra natal, tenha um relógio ou um telhado novo. Rezam , pelo
menos, de manhã e à noite. Se puder ser, ao final da tarde, cumprem mais um
ritual.
Chegam sem falar uma palavra
da nossa língua. parece que fogem de uma guerra qualquer lá no país deles, da
fome e da miséria. Não têm, por isso, noção de amor à nação.
Fogem em vez de defenderem o
país e lutarem por uma vida melhor lá, na terra deles, vêm para aqui sujar o
nosso país com a sua imundice.
Atravessam países inteiros a
pé ou à boleia para chegarem aqui.
Pagam milhares para saírem do
seu país e vêm ficar na miséria. Alguns têm muitos filhos, muito mais do que
aquilo a que estamos habituados. Deixam-nos sozinhos ou com os irmãos mais
velhos, que não vão à escola. Mas são muito trabalhadores.
Bem, na verdade, não roubam
exactamente o nosso trabalho, porque aqui há leis que não nos permitem
trabalhar 18 horas diárias, embora isso exista e dê jeito a alguns patrões. Mas
de certeza que nos roubam alguma coisa. São diferentes de nós e isso causa-nos
má impressão.
Não são muito limpos, cospem
para o chão e as suas maneiras em público deixam muito a desejar. Vivem em
bairros de lata que mais parecem campos de refugiados. Não sei como conseguem.
Se é para viverem na miséria, mais valia ficarem na terra deles.”
Diário de um parisiense, 1969. Sobre os emigrantes portugueses que rumavam a França, nessa altura.
Via Márcio Ferrão
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