(…)
O primeiro é o discurso liberal.
(…)
Tudo o
que fica para trás da invasão no tempo não é relevante e tudo se resume,
portanto, a uma agressão gratuita a um povo, vitimando-o por ter escolhido a
Europa e a sua cultura de direitos.
(…)
O discurso liberal é o discurso dos vencedores da Guerra Fria.
(…)
Nega-se
a explicitar qualquer elemento de relação de poder, interno e internacional,
nas mudanças políticas que ocorram no centro e leste da Europa desde os anos
90.
(…)
O segundo discurso é o discurso realista.
(…)
Este
discurso vê na invasão russa uma reação contra a expansão da NATO a Leste,
valorizando o que nessa expansão tenha havido de constrangimento crescente da
Rússia e de humilhação dessa grande potência.
(…)
Para o
discurso realista, há uma espécie de destino de países como a Ucrânia, a
Geórgia ou a Moldávia e esse é o de não saírem nunca da dependência económica,
política e militar da Rússia.
(…)
Apresentando-se como explicativos, ambos os discursos são, na
verdade, discursos de justificação da guerra.
(…)
O debate entre estes dois discursos é marcado por dois
sonoros silêncios.
(…)
O
primeiro é o silêncio sobre a guerra como sublimação da deterioração das
condições de vida e da projeção de horizontes coletivos, tanto na Rússia como
na Ucrânia.
(…)
Em
ambos os países, o outro lado destas espirais de empobrecimento resultantes das
políticas de austeridade e liberalização foi a formação de burguesias nacionais
assentes na predação dos anteriores bens públicos e em intensíssimos processos
de acumulação de riqueza com traços mafiosos.
(…)
Prevenir a guerra teria passado por atuar neste terreno das
condições e horizontes de vida de russos e ucranianos.
(…)
O
segundo silêncio dos discursos dominantes sobre a guerra é o que diz respeito à
abertura de um processo de construção da paz.
(…)
Valerá a pena parafrasear Marx: os comentadores têm apenas
interpretado a guerra de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-la.
José Manuel Pureza, “Público” (sem link)
Desta
chuva de dinheiro [€14 biliões], só 6% são atribuíveis a programas para reduzir
emissões. A emergência do clima não faz parte das prioridades [da UE].
(…)
Malgrado
o ativismo dos jovens pela justiça climática, não é sentida pelos Governos como
um risco eleitoral.
(…)
A
União desconsidera o desastre climático, que não dá votos, pelo que lhe basta
um biombo de declarações piedosas.
(…)
No
entanto, tem sido mesmo a guerra que tem sublinhado a importância de uma
transição energética, um dos pilares da solução climática.
(…)
No
caso de Portugal, havendo maioria absoluta, o Governo limitar-se-á a medidas
paliativas.
(…)
A
questão é que a energia importada vai ser mais cara e a dependência europeia da
Rússia é irreparável nesta década.
(…)
Anunciou
Biden que o seu país, que aumentará a produção de petróleo e relançará a de
carvão, vai fornecer à Europa gás liquefeito.
(…)
A
Rússia, que fornece 10% a 25% do gás, petróleo e carvão do mundo, continuará a
ser a maior exportadora para a Europa.
(…)
A
Saudi Aramco (…), tem o projeto de produzir mais 8% até 2027.
(…)
E a
Arábia Saudita coordena com a Rússia a OPEP, que planeia passar de 45% para 57%
da produção mundial até 2040.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
A
França quer construir seis novas centrais nucleares para se tornar
autossuficiente.
(…)
Pelo
seu lado, a UE definiu o objetivo de duplicar as renováveis até 2030, o que não
resolve o seu problema energético e implica abdicar da meta climática.
(…)
O
carvão multiplica as emissões, o nuclear produz resíduos eternos, a União não
sabe o que fazer.
(…)
O
objetivo de reduzir as emissões até 50% numa década não será alcançado.
(…)
A
segunda alternativa é sugerida pela AIE: reduzir o consumo.
(…)
A AIE
acrescenta outras sugestões, como baixar a velocidade permitida nas estradas,
para gerar poupanças de combustível.
(…)
Agora,
nenhum Governo se atreverá a isso [medidas deste tipo], a não ser que a opinião
pública o imponha.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O fim [deste ciclo legislativo] tem,
agora, dois limites: o término da legislatura em 2026 e uma eventual saída
antecipada de António Costa do Governo.
(…)
O regresso do PSD à política poderá ser a
grande novidade da política nacional após anos de semiausência.
(…)
Mesmo num contexto de maioria
absoluta, o PSD não se pode dar ao luxo de desligar ainda mais do país,
adiando-se em adiamentos.
(…)
Os sinais de que Costa está mesmo a
equacionar a sua saída antecipada do Governo são verdadeiros.
(…)
Marcelo nunca se deixará arrastar para o
campo da irrelevância, como aliás decorre do exercício das suas funções e da
sageza habitual das suas palavras.
A
Rússia será um país que, por mais que venha a quebrar a resistência ucraniana,
emergirá do conflito cheio de problemas.
(…)
Putin
terá conseguido o oposto do pretendido, em vez de uma afirmação do país como
potência, a sua invasão da Ucrânia ficará como confirmação da sua fraqueza.
(…)
Em vez
da evolução dos direitos humanos, das liberdades individuais, o Kremlin
preferiu voltar para trás em busca de um passado imperial glorioso.
(…)
É previsível que este conflito [coma Ucrânia] venha a
acentuar entre os russos mais jovens a vontade de partir.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Se
fosse de acender velinhas, a extrema-direita ucraniana deveria estar agora a
arder umas quantas num gigantesco altar a Putin, santo padroeiro da
incivilidade.
(…)
Como pode um país que não poupa sequer o edifício da Cruz Vermelha em
Mariupol, claramente assinalado e visível em fotografias de
satélite, emergir vitorioso desta tragédia?
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário