sábado, 2 de abril de 2022

MAIS CITAÇÕES (175)

 
Grande parte do mundo ouviu a piada pouco conseguida de Chris Rock sobre a alopecia de Jada Pinkett Smith.

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Will Smith, que apesar de já ter feito uma graçola semelhante e de ter começado por se rir desta, subiu ao palco para agredir o humorista. 

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A violência com que o macho ferido no seu orgulho supostamente protege a sua propriedade é um código de conduta masculino que também serve para calar as mulheres.

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Tirando o universo e a estupidez, tudo tem limites. O humor também.

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Não adoro o humor feito à custa das pessoas mais frágeis ou oprimidas.

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O humor depende do contexto e o contexto depende de quem diz, de quem ouve e de quando se diz e se ouve.

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Só que não são os limites do humor que estão em debate. É o limite da violência. 

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Sabemos o que é o bullying e não se compara a uma piada de mau gosto.

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Pelo que vi em muitas reações, há quem ache que os limites do humor se podem definir à bordoada.

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Há outro debate: o do privilégio. Qualquer anónimo que trepasse um palco para agredir um artista seria expulso da sala por seguranças, levado a uma esquadra e provavelmente julgado por agressão. 

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Will Smith voltou calmamente para o seu lugar, manteve a atitude ameaçadora.

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Se até perante o mundo inteiro aquilo é possível, os humoristas deverão passar a ter medo físico de dizer uma piada que pode ser mal recebida. 

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Milhões de pessoas passaram a sentir-se legitimadas para calar a voz do outro à força.

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A liberdade continua a ser menos instintiva do que a violência.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)


A tragédia da guerra na Ucrânia expôs algumas das fragilidades em que o projeto europeu se tem atolado. É o caso da dependência energética.

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[Compreende-se que] as soluções de emergência se foquem no fornecimento e não no planeamento.

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Há que planear e implementar políticas que nos garantam não só segurança como sobretudo um futuro.

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A transição energética não está em discussão e há um vasto consenso em seu redor.

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Também o consumo padece de deficiências crónicas.

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Contudo, combater esta condição continua uma charada que inviabiliza o cumprimento das metas a que nos propusemos e o aproveitamento dos recursos que temos a favor de toda a sociedade. 

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A medida ‘Vale Eficiência’ (1300 euros+IVA) para aplicar em habitações de famílias em pobreza energética tem andado a passo de caracol. 

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Não podemos esquecer que esta crise trazida pela guerra implica estimular as políticas de transição energética que já se desenhavam antes.

Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)

 

Mão de obra é trabalho humano inseparável das pessoas que o executam, logo, das condições de dignidade enquanto seres humanos e seres sociais. Não é coisa que se importe e exporte como qualquer mercadoria.

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[Ultimamente] os dirigentes patronais surgem na Concertação Social afirmando repetidamente que também gostavam de pagar melhor, mas que não há produtividade suficiente.

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[No dia a dia repetem] que não pode haver crescimento económico com falta de mão de obra.  Ora, o problema é que pode e deve.

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[Deve-se] aumentar a quantidade produzida por dia de trabalho e/ou o valor criado por unidade produzida.

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[A produtividade depende, para além] do esforço dos trabalhadores de uma melhor colocação das empresas nas cadeias de valor, da melhoria de investimento em tecnologias, em organização do trabalho e em eficácia de gestão.

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Se forem acolhidos [trabalhadores estrangeiros] com ofertas de trabalho mal remuneradas, esses imigrantes estarão entre nós apenas o tempo necessário para poderem imigrar de novo.

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O apelo à "importação de mão de obra", (…) é indigno quanto à linguagem, revela conceções culturais, económicas e sociais retrógradas, e é fútil quanto ao resultado que promete.

Carvalho da Silva, JN

 

A história vive um tempo de grandes ambiguidades.

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A banalização reduz tudo a ela.

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 A factualização remete para uma observação do passado limitada aos factos mais sonoros, sem trabalho de contextualização e de análise crítica.

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Já a manipulação respeita ao modo como as referências ao passado servem sobretudo para legitimar interesses do presente.

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Afirmar, em relação a episódios que presenciamos, que «sempre foi assim», querendo com isto dizer que, na realidade, pouco ou nada muda, é um erro enorme, pois isto, não só não é verdadeiro, como serve para legitimar a apatia e a incapacidade de trabalhar para um aperfeiçoamento das sociedades. 

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A vida coletiva deixa, desta forma, de ser projetada no sentido da sua gradual melhoria, desde o passado até ao futuro, limitando-se à mera gestão do dia a dia.

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[O presentismo] retoma de certa forma esta ideia, considerando a impossibilidade de alterar em profundidade a ordem do mundo.

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É de presentismo que se fala quando certas interpretações a resumem a um conflito de gestão de natureza essencialmente regional.

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Esta guerra é, de facto, um episódio da nova «Segunda Guerra Fria», cujo lastro entronca no final da anterior, ocorrido há já mais de três décadas.

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O conflito possui, pois, uma escala global, e só nesta pode ser entendido.

Rui Bebiano, “Diário as beiras”

 

Verdadeiramente, a Rússia só está em guerra com a Ucrânia porque está em guerra com a NATO, uma organização cujo supremo comandante aliado para a Europa é “tradicionalmente um comandante norte-americano”.

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Por sua vez, os EUA estão apostados desde o final da primeira Guerra Fria em aprofundar a derrota da Rússia, uma derrota que foi talvez mais auto-infligida do que provocada pela superioridade do adversário.

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A guerra da Ucrânia está sujeita ao objectivo de inflingir uma derrota incondicional à Rússia que, de preferência, tem de durar até a provocar o regime change em Moscovo.

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Hoje, a Europa é um canto do mundo, e a guerra da Ucrânia torná-lo-á ainda mais pequeno. 

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A guerra da Ucrânia, sobretudo se se prolongar, corre o risco, não só de amputar a Europa de uma das suas potências históricas (a Rússia), como de a isolar do resto do mundo e, muito especialmente, da China.

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Vistos com óculos não europeus, a Europa e os EUA estão orgulhosamente quase sós, talvez capazes de ganhar uma batalha, mas certamente a caminho da derrota na guerra da história.

Boaventura Sousa Santos, “Público” (sem link)


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