
Do ponto de vista do governo defende uma coligação de esquerda entre o PS, o PCP e o BE.
Nunca experimentámos uma coligação de esquerda e, nessa medida, penso que é tempo de tentar.
Que esquerda é essa?
Precisamos de duas mudanças. Por um lado, uma radicalização da democracia. Considero que a democracia representatriva não chega, ela é preciosa mas muito fraca a defender a democracia da promiscuidade entre os interesses económicos e os interesses políticos. Precisamos, por isso, de uma combinação entre democracia representativa e democracia participativa. Isto é, têm de existir áreas, a nível local, regional e nacional, nas quais os cidadãos não se limitem a eleger os decisores, mas são eles próprios que tomam as decisões, por consultas populares, referendos, formas de orçamento participativo como as que existem na América Latina e que eu estudei há já bastante tempo.
E qual a outra mudança que preconiza?
Caminhar para um horizonte pós-capitalista. Não para um socialismo de Estado como o que tivemos no século XX, mas para a construção de uma sociedade através de modelos de desenvolvimento económico que não se baseiem no crescimento infinito e que, em meu entender, estão a surgir nas periferias das periferias. Como não me foco no Ocidente, muito menos dentro de Portugal, não posso dizer que não haja alternativas. O meu próximo livro a ser lançado em português analisa o caso da Bolívia e do Equador, países nos quais estão a surgir outras visões de desenvolvimento. Sabe o que é que está inscrito na Constituição da Bolívia e do Equador?
Não faço ideia
Ficará chocada se eu lhe disser que está lá inscrito que a “natureza tem direitos”? Para si e para mim que somos ocidentais, a natureza é objecto de direito, não um sujeito de direito. Mas o que está na Constituição do Equador, da qual eu fui um dos consultores, não é o nosso conceito de natureza, é o conceito indígena de “terra mãe”.
Pena é que este conceito de natureza com direitos não tenha sido desenvolvido na entrevista, assim como a ideia de “modelos de desenvolvimento económico que não se baseiem no crescimento infinito”. De qualquer maneira fica aguçada a nossa curiosidade em relação ao próximo livro que o prof. Boaventura lançará em breve.
Sem comentários:
Enviar um comentário