Nos dias que correm os jornalistas sérios e rigorosos sentem certamente muita dificuldade em acompanhar uma série de acontecimentos determinantes para a vida de todos os portugueses. É que, num curto espaço de tempo, os comentários que produzem podem estar desactualizados por completo.
O exemplo actual tem a ver com a dose cavalar de austeridade que nos foi imposta pelo Governo no pressuposto de “acalmar os mercados”. Mas, como diz o povo, há males que vêm por bem e os ingratos mercados que ganham tanto mais quanto maior for a nossa dívida, resolveram, através de um dos seus braços armados, a agência de notação financeira Moody’s, baixar em quatro pontos a classificação da dívida portuguesa assim como a dos bancos o que levou a uma queda abrupta da Bolsa. Finalmente já houve quem começasse a perceber que as medidas de austeridade não nos conduzirão senão para o abismo. Até agora, todos os que chamavam a atenção para esta situação eram, no mínimo, apelidados de radicais e extremistas.
Resta saber se os principais decisores políticos compreenderão a tempo a mensagem que nos acaba de chegar.
O seguinte texto de Marisa Matias faz uma feliz comparação da física com a economia para compreendermos o contexto em que nos encontramos.
Acelerador de partículas
“No dia 30 de Março de 2010, um jornal publicava a notícia:”o Grande Colisor de Hádrons (LHC) bateu um novo record nesta terça-feira. O acelerador de partículas consegui produzir a colisão de dois feixes de prótons a 7 tera-electron volts, criando uma explosão que os cientistas chamam de um ‘Big Bang em miniatura’.
O feito emocionou a equipa do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), que aplaudiu de pé o resultado da experiencia assistida por investigadores do mundo todo via um link remoto”.
Falava-se de Física, é certo. Mas a vida tem destas coisas e bastaria substituir algumas palavras para estarmos a falar de Economia.
Nos tempos que correm, o efeito de aceleração ultrapassou todas as previsões. Na ‘era dourada’ da livre circulação de capitais e do mundo aberto às possibilidades infinitas de multiplicar dinheiro para alguns foram poucos os que ousaram não se levantar para aplaudir, tal era a euforia do mundo dos impossíveis. Produzir ou não, redistribuir ou não faziam parte das ausências do pensamento dominante. O ‘feito’ da multiplicação e da geração de riqueza, as ‘experimentações’ no mercado, a criatividade financeira de converter ‘lixo’ ou ‘produtos tóxicos’ em pacotes enfeitados enfeitiçou-nos. A denúncia fazia parte do pensamento passado. Mas o resultado está à vista e, quase sem percebermos bem porquê, dirão os que mais aplaudiram, a realidade virtual era, afinal, real e a realidade real acelerou de tal forma que quase parece restar-nos o conforto de correr atrás dela.
Não tem de ser assim, não deve ser assim. Mas o que dizer quando em apenas uma semana, e em pacote, é apresentado o Programa do governo, é servida mais uma dose de austeridade que inclui um imposto extraordinário que levará metade do subsídio de Natal, é anunciado o fim das ‘golden shares’, e tudo isto a bem da necessidade imperiosa de ‘acalmar’ os mercados. Se prova faltasse para a garantia de continuarmos a aplaudir aqui estava a demonstração da fidelidade, disse quem nos governa.
E não é que os ‘insensíveis’ mercados não prestaram atenção nenhuma a tamanha dedicação e resolveram baixar em quatro pontos a classificação da dívida portuguesa, baixar a classificação dos bancos e deixar cair a bolsa de forma ‘impensável’? Ingratos os mercados que não ‘souberam’ respeitar os sacrifícios dos portugueses.
Convenhamos, enquanto não quisermos perceber que os mercados só ganham com a nossa dívida continuaremos a ser partículas de um acelerado caminho para o desastre.”
Luís Moleiro
O exemplo actual tem a ver com a dose cavalar de austeridade que nos foi imposta pelo Governo no pressuposto de “acalmar os mercados”. Mas, como diz o povo, há males que vêm por bem e os ingratos mercados que ganham tanto mais quanto maior for a nossa dívida, resolveram, através de um dos seus braços armados, a agência de notação financeira Moody’s, baixar em quatro pontos a classificação da dívida portuguesa assim como a dos bancos o que levou a uma queda abrupta da Bolsa. Finalmente já houve quem começasse a perceber que as medidas de austeridade não nos conduzirão senão para o abismo. Até agora, todos os que chamavam a atenção para esta situação eram, no mínimo, apelidados de radicais e extremistas.
Resta saber se os principais decisores políticos compreenderão a tempo a mensagem que nos acaba de chegar.
O seguinte texto de Marisa Matias faz uma feliz comparação da física com a economia para compreendermos o contexto em que nos encontramos.
Acelerador de partículas
“No dia 30 de Março de 2010, um jornal publicava a notícia:”o Grande Colisor de Hádrons (LHC) bateu um novo record nesta terça-feira. O acelerador de partículas consegui produzir a colisão de dois feixes de prótons a 7 tera-electron volts, criando uma explosão que os cientistas chamam de um ‘Big Bang em miniatura’.
O feito emocionou a equipa do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), que aplaudiu de pé o resultado da experiencia assistida por investigadores do mundo todo via um link remoto”.
Falava-se de Física, é certo. Mas a vida tem destas coisas e bastaria substituir algumas palavras para estarmos a falar de Economia.
Nos tempos que correm, o efeito de aceleração ultrapassou todas as previsões. Na ‘era dourada’ da livre circulação de capitais e do mundo aberto às possibilidades infinitas de multiplicar dinheiro para alguns foram poucos os que ousaram não se levantar para aplaudir, tal era a euforia do mundo dos impossíveis. Produzir ou não, redistribuir ou não faziam parte das ausências do pensamento dominante. O ‘feito’ da multiplicação e da geração de riqueza, as ‘experimentações’ no mercado, a criatividade financeira de converter ‘lixo’ ou ‘produtos tóxicos’ em pacotes enfeitados enfeitiçou-nos. A denúncia fazia parte do pensamento passado. Mas o resultado está à vista e, quase sem percebermos bem porquê, dirão os que mais aplaudiram, a realidade virtual era, afinal, real e a realidade real acelerou de tal forma que quase parece restar-nos o conforto de correr atrás dela.
Não tem de ser assim, não deve ser assim. Mas o que dizer quando em apenas uma semana, e em pacote, é apresentado o Programa do governo, é servida mais uma dose de austeridade que inclui um imposto extraordinário que levará metade do subsídio de Natal, é anunciado o fim das ‘golden shares’, e tudo isto a bem da necessidade imperiosa de ‘acalmar’ os mercados. Se prova faltasse para a garantia de continuarmos a aplaudir aqui estava a demonstração da fidelidade, disse quem nos governa.
E não é que os ‘insensíveis’ mercados não prestaram atenção nenhuma a tamanha dedicação e resolveram baixar em quatro pontos a classificação da dívida portuguesa, baixar a classificação dos bancos e deixar cair a bolsa de forma ‘impensável’? Ingratos os mercados que não ‘souberam’ respeitar os sacrifícios dos portugueses.
Convenhamos, enquanto não quisermos perceber que os mercados só ganham com a nossa dívida continuaremos a ser partículas de um acelerado caminho para o desastre.”
Luís Moleiro
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