sexta-feira, 22 de julho de 2011

MUDANÇAS OBSCENAS

Quem estudou Camões lembra-se, certamente, do soneto “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”. Quem não estudou Camões também pode recordar este poema porque foi musicado e cantado por José Mário Branco.
Pois bem, o escritor Manuel António Pina aproveitou algumas partes do soneto para compor um belíssimo texto onde glosa as recentes mudanças de opinião, tanto de Cavaco Silva sobre as agências de “rating” como a de Macário Correia sobre o pagamento de portagens na Via do Infante.

Tudo mudando "como soía"
Se "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" e "muda-se o ser, muda-se a confiança", porque não haveria de mudar a opinião do presidente da República sobre as agências de "rating"? E se "todo o Mundo é composto de mudança", porque não haveria de mudar a pequeníssima, embora irritante, parte do Mundo que é Macário Correia?
Dir-se-á que, se as agências de "rating" eram para Cavaco Silva, ainda há meses, uma espécie de anjo vingador das más políticas do Governo e se tornaram entretanto diabos, não foi Cavaco quem mudou mas a realidade (e o Governo).
O mesmo se diga de Macário Correia. Se, há um ano, portagens na Via do Infante eram uma "perfeita idiotice" e "uma medida tonta, esquisita, anárquica, de quem não tem noção da realidade" e, antes das eleições, uma "imposição pouco democrática" (pois "temos de ser sérios, coerentes, honestos e ter princípios"), e agora são "inevitáveis", não foi porque Macário Correia deixasse de ser "sério, coerente, honesto e ter princípios", mas porque a realidade é que deixou de ser honesta e ter princípios no dia 5 de Junho.
"Continuamente vemos novidades" e quem sabe?, um dia destes veremos Macário Correia convertido ao tabaco (os prejuízos da Tabaqueira pode bem ser uma pedra no sapato do desenvolvimento e, afinal de contas, os pulmões dos fumadores também têm que sacrificar-se pelo défice) proclamando que "beijar um cinzeiro é como lamber uma fumadora".

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