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E, em Portugal haveria alguma hipótese de um dos nossos multimilionários admitir que os ricos deviam pagar mais impostos? Nem com “rebates de consciência” tardios nem com a mais podre hipocrisia tal seria possível.
O texto seguinte é o excerto de um artigo de opinião publicado no “Diário As beiras” (18/08), intitulado “Miminhos”, onde o autor, partindo das afirmações de Buffet, aborda a situação portuguesa com muito a propósito.
“Um dos homens mais ricos do mundo, Warren Buffett, escreveu no “New York Times” que era altura de aumentar os impostos aos “mega-ricos” como ele. Buffett esclarece que em 2010 pagou 7 milhões de dólares de impostos, pouco mais de 17 por cento dos seus rendimentos, enquanto, diz, isso é uma percentagem menor do que o que paga qualquer dos colaboradores que trabalham no seu escritório, entre 33 e 41 por cento. Coisas de norte-americanos! E rebate de consciência de um confesso “mega-rico”.
Mas Buffett bem podia viver em Portugal. O que afirma para o seu país é no essencial, mais ou menos uns trocos, o que se passa em Portugal. Não me parece que Amorim ou Belmiro concordem, nem tão pouco acredito que os principais banqueiros pensem semelhante coisa. Sei é que a Banca paga impostos mais baixos do que a mercearia ou a tabacaria da minha rua, do que qualquer pequeno comerciante da baixa. Sei é que todos vamos pagar, de igual modo, mais cara a electricidade e o gás, e que nem todos recebemos de igual modo. Sei é que se alguém aufere salários de cento e cinquenta e tal mil euros por ano paga, e justamente, 46,5 por cento de IRS, mas paga o mesmo que alguém que receba um milhão. E também sei que se esse rendimento provir de investimentos só paga 21,5 por cento e que se não paga nada de milhões provenientes de mais-valias bolsistas através de SGPS e investimentos em offshores. E sei também que o imposto extraordinário que roubará grande parte do subsídio de Natal aos portugueses excluirá os rendimentos de capital. Sei, sabemos, e não está certo!
Em tempo de crise, dêmos graças! Afinal “eles” sabem que ainda assim é possível ir dando alguns miminhos…”
Luís Moleiro
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