sexta-feira, 19 de agosto de 2011

MARCA ZARA ENVOLVIDA EM TRABALHO ESCRAVO (1)

Como sabemos, a Zara é uma rede de lojas de roupas e acessórios para homens, mulheres e crianças. Pertence ao grupo Inditex que também detém outras marcas como Máximo Dutti, Ohisho, Bershka e Zara Home, para só citarmos as mais conhecidas em Portugal. A primeira loja Zara inaugurada no nosso país data de 1988. Actualmente é fácil encontrarmos lojas do grupo Inditex em qualquer centro comercial.
A marca Zara é conhecida pelos baixos preços que pratica, pelo que o volume de negócios é muito grande. Mas, como diz o povo, “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem”.
Acontece que, há 1 ou 2 dias, ficámos a saber que uma fornecedora desta rede espanhola mantinha uma casa na zona norte de S. Paulo (Brasil) com trabalhadores sul-americanos em condições de semi-escravidão. Eles enfrentavam uma jornada de trabalho de mais de 16 horas por dia. Muitas vezes chegavam a 20 horas. Não havia contrato de trabalho assinado e a remuneração paga pela empresa a cada trabalhador não correspondia ao tempo de trabalho. “Não havia salário fixo”, denunciou uma costureira.
O quadro encontrado pelas autoridades brasileiras incluía contratações ilegais, trabalho infantil, condições degradantes, cerceamento da liberdade e jornadas exaustivas. Contou uma agente fiscalizadora que a oficina ilegal “era um local de trabalho com pouca iluminação, sem ventilação, malcheiroso, em que as janelas eram mantidas fechadas, para ninguém saber que havia uma oficina de costura ali”.
De acordo com uma investigação levada a cabo por uma repórter da Agência de Notícias Repórter Brasil, por cada uma das blusas da colecção Primavera-Verão da Zara, os costureiros recebiam 2 reais e o dono da oficina 7. Blusas semelhantes eram vendidas na loja por 139 reais… Não é uma situação inédita!
É claro que a Inditex (detentora da marca Zara) desempenhou o papel que sempre representam as grandes empresas que são apanhadas em situações de grande melindre social, perante a opinião pública. Argumenta que desconhecia completamente o que se estava a passar, que vai reforçar a fiscalização sobre todos os fornecedores para “garantir que casos como este não se repitam”. É claro que só quem acredita no Pai Natal é que se deixa convencer por argumentos já estafados como este. É impossível que uma grande empresa não desconfie da forma de actuação de um fornecedor que lhe proporciona produtos a preços excepcionalmente baixos. Prova disto é o facto de as autoridades brasileiras terem identificado cerca de 35 oficinas que apresentavam a possibilidade de ter trabalho escravo, realizado por bolivianos produzindo roupas com a etiqueta Zara.
Tudo o que aqui foi descrito, de forma resumida, deve estar presente na mente da cada consumidor que pretenda adquirir um produto da marca em apreço. A rejeição das práticas ignóbeis por parte de certas empresas é fácil de levar a cabo pela opinião pública: basta recusar a compra dos seus produtos. É a forma mais eficaz de atingir os visados e a única que eles entendem.

Luís Moleiro

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