quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

CUSTOS AMBIENTAIS E SOCIAIS DO QUE COMPRAMOS


Neste curto texto que apresentamos a seguir, transcrito do Diário se beiras do dia 3 deste mês de Dezembro, o investigador e aderente do Bloco de Esquerda, Rui Curado da Silva, explica em palavras simples as consequências ambientais e sociais que tem a importação de produtos que existem em Portugal e com igual qualidade, no mínimo. Vale mesmo a pena ler este artigo de opinião para se perceber os interesses que estão por trás de determinadas decisões políticas. Também vem muito a propósito na altura em que decorre a Cimeira do Clima em Paris.
Nas grandes superfícies que frequentamos raros são os produtos produzidos na região ou no concelho. O contraste é enorme quando comparamos com os mercados municipais onde ainda se encontra uma generosa oferta de produtos de origem local. Por exemplo, os hipermercados oferecem-nos pescada congelada do Chile a baixos preços, mas com altos custos de emissão de gases de efeito de estufa – pesando mais para as alterações climáticas – no processo de transporte do outro lado do planeta de um produto que encontramos na nossa costa.
Mas os custos não são apenas ambientais, são também sociais. Na cadeia do mercado municipal pagamos o salário do vendedor, do distribuidor e do produtor em proporções aceitáveis e sustentáveis. Se um determinado produto é mais caro do que no hipermercado, parte do preço do produto paga salários de toda uma cadeia que é local. Estamos a encher bolsos locais, que irão devolver esse dinheiro na economia local em compras e serviços da cidade, contribuindo para manter sustentável o emprego e o poder de compra da comunidade.
No hipermercado, um produto surge a baixo custo depois de esmagar o preço pago ao produtor e o salário do trabalhador da grande superfície. Quem fica com grande parte do lucro é o grupo económico a que pertence a empresa, que poderá escapar aos impostos através de compras e vendas semifictícias a uma filial da Holanda.

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