No
ponto 1 do artigo de opinião que vai sair amanhã no Público, José Vítor
Malheiros (JVM) expressa muito bem o que muitos portugueses actualmente pensam
sobre a acção do governo Passos/Portas e de todos os que actuam da mesma forma.
JVM salienta dois pontos essenciais: 1) muitas decisões que se diz serem
políticas são, afinal, puros casos de polícia e, portanto, do foro criminal; 2)
é necessário falar verdade ao povo, quer as notícias sejam boas ou más.
É
óbvio que muitas decisões tomadas pelos políticos se revelam erros crassos que
redundam em grossos prejuízos para o país no seu todo. No entanto, também há
muitos casos em que facilmente se descortina uma clara intenção dolosa de
certos actores políticos com prejuízo do erário público e em benefício próprio
e/ou de terceiros. O caso Banif, tão falado por estes dias é um desses exemplos
mas muitos mais poderiam ser dados.
Devolver
a credibilidade à acção governativa assim como à política e ao sector
financeiro devem ser prioridades de um governo ancorado à esquerda para que as
pessoas voltem a confiar nos dirigentes que escolheram, numa palavra, falar
verdade.
Informações
essenciais escondidas do Parlamento e do povo pelos partidos da direita para
obter dividendos políticos e para evitar uma maior punição nas eleições. Falsas
declarações prestadas por responsáveis políticos e por governantes com o
objectivo de branquear a situação financeira. Mentiras em série produzidas
activamente ou por omissão pelo governo PSD-CDS e pelo Banco de Portugal.
Decisões urgentes adiadas por razões eleitorais apesar de isso causar graves
prejuízos à banca, às finanças nacionais, ao Estado e a todos os portugueses.
Pode-se dizer que é política, pode-se dizer que são as finanças, pode-se dizer
que são os bancos, mas a verdade é que todas estas coisas parecem, cada vez
mais, ser casos de polícia. Como se classifica um acto, praticado
conscientemente, premeditadamente, por um grupo organizado de pessoas
conhecedoras e com acesso a toda a informação, que se traduz na perda de
milhares de milhões de euros para o Estado — no desaparecimento de milhares de
milhões de euros dos nossos bolsos (para não falar nos prováveis despedimentos)?
Como se classifica a propagação sistemática de mentiras sobre o nosso
património por parte daqueles que foram encarregados de o gerir com o máximo de
prudência, de transparência, de sensatez e no mais rigoroso respeito da
legalidade? Como se classifica o recurso a mentiras e a esquivas sistemáticas
para obter um benefício político imerecido? Como se classifica uma negligência
reincidente desta dimensão por parte de uma (duas? três?) das principais
entidades reguladoras nacionais?
A
verdade é que é difícil classificar tudo isto porque toda a história do Banif,
como outras antes dela, nos parece inverosímil de tanta negligência, de tanto
descaramento, de tanto sectarismo político, de tanta irresponsabilidade, de
tanto fanatismo ideológico, de tanto desprezo pelos cidadãos e pela democracia.
A
verdade é que, ao longo dos últimos anos, cada vez mais, a política e as
finanças (em particular a banca) foram-se tornando cada vez mais parecidas com
casos de polícia e tornou-se cada vez mais difícil distinguir entre um ministro
e um vigarista ou entre um banqueiro e um gangster. E isso é grave porque, se a
realidade recente e a história nos confirmam que existem mil razões para não
confiar em ministros e em banqueiros, a verdade é que vamos precisar de
ministros e de banqueiros honestos e competentes.
É
por isso que a primeira prioridade do Governo de António Costa e da esquerda
que o apoia no Parlamento tem de ser devolver a credibilidade à acção política
(apesar da herança do consulado do PSD e do CDS), devolver a credibilidade à
acção governativa (apesar da herança do governo de Passos Coelho), devolver a
credibilidade ao sistema financeiro (apesar do BPN, do BPP, do BCP, do BES, do
Banif, do Montepio e do que mais adiante se verá) e devolver a credibilidade ao
regime de regulação (apesar da inacção do Banco de Portugal e da CMVM), o que
significará necessariamente reformar de forma profunda os procedimentos dos
reguladores.
É preciso que o Governo
actual e a esquerda que o apoia faça diferente e que mostre como é possível,
necessário e benéfico fazer diferente. É por isso que a melhor notícia que tive
nos últimos dias foi ouvir António Costa dizer que a solução encontrada para o
Banif iria ter um "custo muito elevado para os contribuintes".
Porquê? Porque, depois de quatro anos de falsidades e propaganda, cheguei a um
ponto onde o que quero ouvir da boca do Governo não são boas notícias, mas
apenas a verdade. Se pudermos ter um Governo que fala verdade, essa será a
melhor notícia possível.
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