Uma
boa parte dos cidadãos que actualmente têm 60 ou mais anos ainda se lembram do
tipo de fatos de banho usados pelas mulheres e pelos homens nos anos 50 e 60 do
século XX. O dos homens começou por ter um peitilho mas rapidamente evoluiu para
um modelo próximo do actual. O das mulheres era constituído por uma peça única
que as cobria desde o pescoço até abaixo do joelho. A curiosidade desta veste é
que se colava ao corpo quando as mulheres saiam da água, de tal modo que lhe
assinalava todas as suas formas. Em poucas décadas esta situação evolui
rapidamente até o biquíni se generalizar. Não consta que tenha havido contestação
por parte da igreja católica ou dos poderes públicos a estas transformações do
vestuário da mulher destinado aos banhos de mar.
Não
se compreende, pois, que a França, “país porta-estandarte da laicidade” queira
proibir às mulheres muçulmanas o uso do burquini em piscinas públicas e praias.
A única explicação para esta aberração de um governo europeu de esquerda é mais
uma cedência aos movimentos islmofóbicos que por aí proliferam.
Quem
se ri a bandeiras despregadas desta situação são os jihadistas que a aproveitam
como forma de propagandear o desrespeito pelas mulheres muçulmanas no mundo
cristão, com os nefastos efeitos que isso pode acarretar para o futuro.
A
propósito, achámos muito interessante deixar aqui uma opinião sobre este tema,
assinada por Domingos Lopes no Público de hoje.
A
França, país porta-estandarte da laicidade, está envolvido numa áspera disputa
em torno do uso do burquini em piscinas públicas e praias. A proibição do
uso desse vestuário tem provocado grande polémica e até rixas.
Simultaneamente,
tendo em conta este mercado da moda, há marcas globais como a Marks and
Spencer, Dolce&Gabbana, Uniqlo, Mango, Tommy Hilfiger que têm trabalhado os
burquinis dando um conteúdo estético ao corpo escondido para impedir a tentação
do macho e fazê-lo cair em pecado como aconteceu algures entre Adão e Eva…
nossos pais pecadores, fazendo toda a cristandade pecar para todo o sempre pelo
facto deles terem sucumbido à tentação.
No
nosso vizinho Marrocos os burquinis são um sucesso e apresentam-se com vários estilos
para diferentes bolsas.
Nos
anos cinquenta e sessenta do século passado ainda uma grande percentagem de
mulheres se banhava nas praias ou rios com uma espécie de saiote enfiado e que
lhe cobria o corpo até ao pescoço e abaixo do joelho.
Bem
podiam os padres do alto da sua prédica insurgirem-se contra o biquini…
Ninguém
obrigou as mulheres a usarem fato de banho ou biquini; nem ninguém considerou
nos anos cinquenta que uma mulher em saiote no mar a tomar banho era perigoso
para a saúde…
Em
França para gáudio dos jiadistas certos poderes a diferentes níveis entraram
pelo caminho de decretar que vestuário não se pode usar nas praias ou piscinas
públicas.
No
Irão, na Arábia Saudita, em muitos países muçulmanos, as mulheres têm de se
vestir tapando o corpo ou deixando apenas a descoberto a face….por causa de
certos princípios religiosos.
Face
à existência de comunidades muçulmanas significativas em muitos países europeus
devem os diferentes poderes impor a essas comunidades, em termos de moda e
vestuário, um comportamento único, impedindo-as de se vestirem como queiram?
Deve
um Estado laico proibir a seguidores de uma fé de se vestirem de acordo com os
princípios dessa fé? Alguém considera que as vestes de um frade ou de uma
freira são um perigo para a saúde, caso vão a uma praia?
Os
burquinis na praia podem ser para os princípios estéticos ocidentais algo
desagradável. Mas não passa disso; de um modo de vestir que choca uma
civilização que põe o corpo a descoberto, embora há uns séculos tapasse tudo às
mulheres.
Esta
é a polémica que os jiadistas pretendem: alegar que as mulheres muçulmanas no
mundo cristão não são respeitadas.
Este
confronto serve em toda a linha a ideia que entre cristãos e muçulmanos tem de
haver um choque que leve à guerra destas duas civilizações.
O
aparecimento de práticas antiquadas e que pensávamos mortas deriva também da
necessidade de afirmação de uma singularidade que não se quer deixar abafar.
A
globalização atual não deixa espaço à diferença. Quer o mundo de um modo só.
Regulamenta ao pormenor, a pontos de nos proibirem de comer as deliciosas bolas
de berlim…
Obriga
a pensar o facto de jovens e mulheres muçulmanas cobrirem o corpo em países que
o podiam não fazer. O ambiente familiar pode ser e será muito determinado pela
figura do marido e pai, mas também era assim em Portugal e deixou de ser.
As
questões referentes a práticas ligadas a uma fé religiosa, designadamente a
conceção ligada ao vestuário devem ser deixadas ao abrigo da consciência de
cada um(a). Não é a burka, nem o hijab, nem o véu que fazem aumentar o perigo
do terrorismo. A consciência da liberdade é um processo; não se decreta.
Entre
o mundo da fashion e
o do corpo coberto vai apenas uma diferença que se não se deve transformar numa
espécie de fronteira de arame farpado geradora de espaço para o jiadismo
medrar.
O relacionamento e o convívio
entre comunidades religiosas diferentes não deve levar a que seja imposto o
vestuário do país de acolhimento aos que chegam, sob pena de nos voltarmos a
surpreender. A consciência é mais lenta que o decreto.
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