segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O USO DO BURQUINI EM FRANÇA


Uma boa parte dos cidadãos que actualmente têm 60 ou mais anos ainda se lembram do tipo de fatos de banho usados pelas mulheres e pelos homens nos anos 50 e 60 do século XX. O dos homens começou por ter um peitilho mas rapidamente evoluiu para um modelo próximo do actual. O das mulheres era constituído por uma peça única que as cobria desde o pescoço até abaixo do joelho. A curiosidade desta veste é que se colava ao corpo quando as mulheres saiam da água, de tal modo que lhe assinalava todas as suas formas. Em poucas décadas esta situação evolui rapidamente até o biquíni se generalizar. Não consta que tenha havido contestação por parte da igreja católica ou dos poderes públicos a estas transformações do vestuário da mulher destinado aos banhos de mar.
Não se compreende, pois, que a França, “país porta-estandarte da laicidade” queira proibir às mulheres muçulmanas o uso do burquini em piscinas públicas e praias. A única explicação para esta aberração de um governo europeu de esquerda é mais uma cedência aos movimentos islmofóbicos que por aí proliferam.
Quem se ri a bandeiras despregadas desta situação são os jihadistas que a aproveitam como forma de propagandear o desrespeito pelas mulheres muçulmanas no mundo cristão, com os nefastos efeitos que isso pode acarretar para o futuro.
A propósito, achámos muito interessante deixar aqui uma opinião sobre este tema, assinada por Domingos Lopes no Público de hoje.
A França, país porta-estandarte da laicidade, está envolvido numa áspera disputa em torno do uso do burquini em piscinas públicas e praias. A proibição do uso desse vestuário tem provocado grande polémica e até rixas.
Simultaneamente, tendo em conta este mercado da moda, há marcas globais como a Marks and Spencer, Dolce&Gabbana, Uniqlo, Mango, Tommy Hilfiger que têm trabalhado os burquinis dando um conteúdo estético ao corpo escondido para impedir a tentação do macho e fazê-lo cair em pecado como aconteceu algures entre Adão e Eva… nossos pais pecadores, fazendo toda a cristandade pecar para todo o sempre pelo facto deles terem sucumbido à tentação.
No nosso vizinho Marrocos os burquinis são um sucesso e apresentam-se com vários estilos para diferentes bolsas.
Nos anos cinquenta e sessenta do século passado ainda uma grande percentagem de mulheres se banhava nas praias ou rios com uma espécie de saiote enfiado e que lhe cobria o corpo até ao pescoço e abaixo do joelho.
Bem podiam os padres do alto da sua prédica insurgirem-se contra o biquini…
Ninguém obrigou as mulheres a usarem fato de banho ou biquini; nem ninguém considerou nos anos cinquenta que uma mulher em saiote no mar a tomar banho era perigoso para a saúde…
Em França para gáudio dos jiadistas certos poderes a diferentes níveis entraram pelo caminho de decretar que vestuário não se pode usar nas praias ou piscinas públicas.
No Irão, na Arábia Saudita, em muitos países muçulmanos, as mulheres têm de se vestir tapando o corpo ou deixando apenas a descoberto a face….por causa de certos princípios religiosos.
Face à existência de comunidades muçulmanas significativas em muitos países europeus devem os diferentes poderes impor a essas comunidades, em termos de moda e vestuário, um comportamento único, impedindo-as de se vestirem como queiram?
Deve um Estado laico proibir a seguidores de uma fé de se vestirem de acordo com os princípios dessa fé? Alguém considera que as vestes de um frade ou de uma freira são um perigo para a saúde, caso vão a uma praia?
Os burquinis na praia podem ser para os princípios estéticos ocidentais algo desagradável. Mas não passa disso; de um modo de vestir que choca uma civilização que põe o corpo a descoberto, embora há uns séculos tapasse tudo às mulheres.
Esta é a polémica que os jiadistas pretendem: alegar que as mulheres muçulmanas no mundo cristão não são respeitadas.
Este confronto serve em toda a linha a ideia que entre cristãos e muçulmanos tem de haver um choque que leve à guerra destas duas civilizações.
O aparecimento de práticas antiquadas e que pensávamos mortas deriva também da necessidade de afirmação de uma singularidade que não se quer deixar abafar.
A globalização atual não deixa espaço à diferença. Quer o mundo de um modo só. Regulamenta ao pormenor, a pontos de nos proibirem de comer as deliciosas bolas de berlim…
Obriga a pensar o facto de jovens e mulheres muçulmanas cobrirem o corpo em países que o podiam não fazer. O ambiente familiar pode ser e será muito determinado pela figura do marido e pai, mas também era assim em Portugal e deixou de ser.
As questões referentes a práticas ligadas a uma fé religiosa, designadamente a conceção ligada ao vestuário devem ser deixadas ao abrigo da consciência de cada um(a). Não é a burka, nem o hijab, nem o véu que fazem aumentar o perigo do terrorismo. A consciência da liberdade é um processo; não se decreta.
Entre o mundo da fashion e o do corpo coberto vai apenas uma diferença que se não se deve transformar numa espécie de fronteira de arame farpado geradora de espaço para o jiadismo medrar.
O relacionamento e o convívio entre comunidades religiosas diferentes não deve levar a que seja imposto o vestuário do país de acolhimento aos que chegam, sob pena de nos voltarmos a surpreender. A consciência é mais lenta que o decreto.

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