Francisco
Louçã classificava há pouco tempo a gritaria da direita á volta dos SMS
trocados entre o ministro Centeno e António Domingues, como uma “garotice” mas,
afinal, ela tem, muito provavelmente, razões bem mais profundas. A informação
que há poucos dias chegou à opinião pública sobre a ocultação da saída de
capitais do país para paraísos fiscais, num montante de quase 10 mil milhões de
euros, e, cuja responsabilidade política atinge o ex-secretário de Estado dos
Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, a ex-ministra das Finanças, Maria Luís
Albuquerque e, em última instância, o próprio Passos Coelho, configura muito
mais do que uma simples “garotice” pois significa um brutal prejuízo para as
finanças públicas que, o mesmo é dizer, os bolsos dos contribuintes. Poderemos
estar perante um – mais um – inadmissível favorecimento de uma pequena minoria
de gente abastada, e em desfavor da maioria dos portugueses.
Nesta
altura do campeonato, tendo como pano de fundo o conjunto de desmandos que a
direita levou a cabo durante o Governo Passos/Portas, todas as conjecturas são
admissíveis para justificarem a actual acção destabilizadora da anterior
maioria, incluindo uma manobra de diversão relativamente a ilícitos então cometidos.
Muita
tinta ainda vai correr sobre este tema mas, desde já deixamos aqui algumas
citações da imprensa escrita que considerámos mais pertinentes.
Muitos milhares de milhões de
euros [saíram para os offshores], de que os dez mil milhões de que se fala
agora são apenas uma parte.
(…)
Numa sociedade em que os
governantes se indignam com os direitos “adquiridos” dos mais fracos, [é
inadmissível que] tenham uma soberana indiferença face a práticas dos mais
ricos que roçam a ilegalidade e que prejudicam, e não pouco, a riqueza do país.
(…)
Desde Passos Coelho, furioso e
malcriado na Assembleia, até ao passa-culpas do anterior secretário de Estado
dos Assuntos Fiscais Paulo Núncio, até ao silêncio da ex-ministra das Finanças
que acha que não é nada com ela, todos estão a tomar-nos por parvos.
(…)
Mas há pior: o secretário de
Estado quer-nos convencer de algo muito mais grave: é de que não deu por ela
que lhe faltavam os números do dinheiro que ia para os offshores.
Pacheco Pereira, Público (sem link)
Se se questiona a existência
deste sistema de investimento [em offshores], então acabe-se com ele, uma
decisão que apenas pode ser tomada a nível global.
(…)
Tanto o ex-secretário de Estado
Paulo Núncio como os ex-ministros das Finanças Vítor Gaspar e Maria Luís
Albuquerque, a culminar no ex-primeiro-ministro Passos Coelho, são
politicamente responsáveis perante a fuga ao fisco que envolveu a saída de
depósitos para offshores.
(…)
Há na classe política portuguesa
uma subserviência perante a figura do banqueiro que denota uma real falta de
autoridade política e a fraca solidez ética de quem exerce o poder.
(…)
É esta mentalidade que explica
as exigências de António Domingues para furar as regras da
transparência democrática quando aceitou ir para a presidência da CGD, bem como a conivência do Governo de António Costa na
tentativa de contornar a lei.
São José Almeida, Público (sem link)
[Em
Portugal] o ajustamento foi uma oportunidade para alterar as relações de poder,
e os sacrifícios exigidos á grande maioria, sujeita a uma pressão fiscal
insustentável, coexistiram com toda a espécie de manigâncias ao dispor de uma
minoria, à qual nunca foram recusadas facilidades fiscais.
(…)
Entre
2010 e 2015, saíram de Portugal para paraísos fiscais 30 mil milhões de euros
(…)
Importa
perceber se o não registo de 10 mil milhões foi negligência da Administração ou
o resultado de uma decisão governamental.
(…)
Num
país descapitalizado e fiscalmente exaurido, a fuga de capitais prova que, de
uma forma ou outra, estamos feitos.
Pedro Adão e Silva, Expresso (sem
link)
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