Deixamos
a seguir alguns excertos do artigo de opinião assinado por Catarina Martins e
que foi publicado no Expresso de ontem, com o título “Agora é connosco”.
Proponho-me apenas partilhar
aqui a reflexão que fazemos, no Bloco de Esquerda, sobre as potenciais
implicações desta alteração [de estratégia do PSD].
(…)
O chumbo da baixa da TSU
patronal provou que a existência de divergências entre o PS e os partidos à esquerda
não implica uma crise política. Pela nossa parte, não abandonamos qualquer posição
de princípio, antes contribuímos para afastar uma medida errada e para conduzir
a uma solução vantajosa para os trabalhadores e para a Segurança Social.
(…)
Ora, mais de um ano depois da
assinatura dos acordos, com dois Orçamentos de Estado aprovados e convivendo
nas diferenças e nas divergências (condições de transparência da administração
da Caixa Geral de Depósitos ou baixa da TSU são apenas dois desses momentos),
essa “geringonça” já só é frágil aos olhos de quem tão mal a batizou. O programa
para parar o empobrecimento do país prossegue, com reformas estruturais tão importantes
como o aumento do salário mínimo nacional, e provou a sua capacidade política.
(…)
A governação só pode
afirmar-se e ter apoio social e político se responder à vontade expressa nas
eleições de 4 de outubro de 2015 e aos acordos assinados. Para isso, o esforço
negocial e a coerência do governo devem fazer-se à esquerda. Se assim tivesse
sido, este episódio TSU não teria existido.
(…)
Matérias tão importantes como
o esforço do Serviço Nacional de Saúde, a progressividade do IRS, o descongelamento
de carreiras na Função Pública, o combate à precariedade e a reativação da contratação
coletiva estão por concretizar. Mais: o acordo não é uma simples lista de
tarefas e metas (mas ainda bem que as define). É um compromisso político para
dar conteúdo político a uma espetativa de mudança à esquerda. E essa está longe
de esgotada; mal começou.
(…)
A pressão [europeia] estará
presente contra a correção do salário mínimo para €600 ou contra uma nacionalização
do Novo Banco. O erro maior seria ceder. Não ganharíamos a paz e perderíamos o
país.
O momento é de continuar a concretização
do acordo: “defender as funções sociais do Estado e os serviços públicos, na Segurança
Social, na educação e na saúde, promovendo um combate sério à pobreza e às
desigualdades sociais e económicas”; “conduzir uma nova estratégia económica
assente no crescimento e no emprego, no aumento do rendimento das famílias e na
criação de condições para o investimento público e privado”; “promover um novo
modelo de progresso e desenvolvimento para Portugal, que aposte na valorização
dos salários e na luta contra a precariedade, relance o investimento na
educação, na cultura e na ciência e devolva à sociedade portuguesa a confiança
e a esperança no futuro.” Foi isto que assinámos em conjunto; estas são escolhas
e são escolhas à esquerda.
O acordo não está esgotado. Que
chegou é o momento de clara separação de águas e que exige renovada
determinação: a valorização do trabalho teria sempre a oposição patronal e
europeia; a defesa das funções do Estado e um investimento público modernizador
exigiria sempre a libertação dos recursos necessários. A reestruturação da dívida,
necessidade que já ninguém contesta, deve deixar de ser tabu para o Governo e o
acordo de Bruxelas deve deixar de ser condição.
Não resta dúvida de que o
acordo da mudança é sólido.
(…)
Saibamos pois colocar as questões
para encontrar as soluções. PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV, agora é connosco.
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