terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

JOÃO SEMEDO ENTREVISTADO PELO PÚBLICO


João Semedo (JS), o médico e ex-dirigente do Bloco de Esquerda foi recentemente vítima de um cancro nas cordas vocais, que o deixou sem voz. Teve de reaprender a falar, com as naturais limitações provocadas pela falta de cordas vocais e, é nessa condição que vai apresentar amanhã, quarta-feira (15/02/2017), “o anteprojecto de lei para a despenalização da eutanásia e do suicídio medicamente assistido”, em representação do BE.
Tendo como pano de fundo este tema, JS concedeu uma entrevista ao Público que veio à estampa na edição de hoje. Dela extraímos as seguintes ideias chave:
- Este debate sobre a morte assistida levará as pessoas a reflectir sobre as problemáticas de fim de vida.
- No anteprojecto está expresso que a decisão do doente é revogável a qualquer momento e estão previstos vários momentos de avaliação da sua vontade.
- Está absolutamente claro que não incluímos crianças nem pessoas com problemas do foro mental.
- O processo implica uma avaliação clínica e psicológica, um diagnóstico, um prognóstico [pelo que tem de ser um médico a aplicar a lei].
- Ajudar alguém a parar o seu sofrimento é, penso, muito nobre e ético. A ética médica também evoluiu.
- Respeitar a decisão do doente é que é humanismo e tolerância.
- O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos aprovou, no início da década de 2000, uma resolução sobre o conjunto de situações em que é boa prática suspender ou não iniciar tratamento, aquilo a que chamam deixar morrer.
- Respeito muito os colegas que deram grande impulso aos cuidados paliativos mas não acho que têm mais ética do que eu.
- O doente tem que ser portador de uma lesão definitiva ou de uma doença incurável e fatal, um quadro clínico de intenso sofrimento, duradouro e insuportável.
- No suicídio medicamente assistido, é o próprio doente que toma a substância [letal].
- É tão ténue a fronteira entre deixar morrer, acelerar a morte ou antecipá-la.
- [A eutanásia será praticada] em casa do doente, se houver condições, ou em unidades públicas e privadas.
- [Para evitar abusos propomos a criação de] uma comissão de juristas, médicos e especialistas em ética destinada a acompanhar a aplicação da lei [nomeada pela Assembleia da República].
- A lei foi feita por José Manuel Pureza, pela jurista Inês Godinho e por mim [JS].
- As patologias cuja fase final é acompanhada por quadro de intenso sofrimento estão a aumentar, os casos de morte natural ou morte súbita são cada vez menos.
- Queremos que muita gente colabore na construção de uma boa lei.
- Pôr a referendo um direito individual não é democrático, porque as escolhas são desiguais.
- Não temos pressa nenhuma [para a conclusão da lei], a nossa discussão não obedece a um calendário, mas também não é para aquecer.

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