segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

DEZ ANOS SOBRE A VITÓRIA DA DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO


Quando se assinala o 10º aniversário da aprovação em referendo da despenalização da IVG é de realçar que a opinião publicada se refira com alguma insistência à efeméride e recorde o que se passava ainda há bem poucos anos.
Nos tempos que correm, esta tomada de posição é particularmente importante porque, cada vez mais, se percebe que não há direitos garantidos, por mais significativos que eles sejam para a nossa vida colectiva.
A nível global, as forças mais retrógradas da sociedade estão a assumir posições chave e, de um momento para o outro, direitos considerados adquiridos são pulverizados num ápice. É, por isso, muito importante, que agora, mais que nunca, os cidadãos estejam alerta.
A propósito da data que agora se atravessa, Alexandra Lucas Coelho (ALC) assina hoje no Público um excelente artigo de opinião onde, a par de realçar os progressos feitos nos últimos anos com mudanças decisivas no quadro legal relativo a sexualidade e procriação” em Portugal, salienta o que ainda se passa pelo mundo no que se refere à despenalização do aborto, particularmente no Brasil, uma realidade bem conhecida por aquela jornalista.
Deixamos aqui o último ponto do artigo de ALC assim como o mapa onde se assinala a situação actual das leis do aborto no mundo.
Basta olhar esse mapa para ver dois hemisférios quase sem excepção. A parte de cima do globo é quase toda verde: a dos países em que o aborto é legal para qualquer mulher que o solicite. A parte de baixo é quase toda vermelha, laranja ou amarela, consoante os vários graus de penalização. Excepções penalizadoras na parte de cima: Irlanda, Polónia, Finlândia. Excepções despenalizadoras na parte de baixo: Uruguai, África do Sul, Austrália, Cambodja, Vietname. Mas a tendência geral do quadro é esta: no Norte rico, o aborto não é crime; no Sul pobre, o aborto é crime. E claro que nesse Sul pobre as mulheres da elite terão sempre os recursos dos ricos, viajarem para o estrangeiro, contratarem os melhores médicos, como acontece no Brasil, onde quem tem dinheiro, ou pode pedir emprestado, muitas vezes vem a Lisboa. Quem morre, quem é denunciado, quem corre o risco de ser presa é pobre. Quanto mais pobre, mais criminoso: é uma história possível do mundo, onde a cada nove minutos uma mulher morre de aborto clandestino.


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