O
artigo de opinião que Francisco Louçã assina no Público de hoje constitui uma
crónica com traços de ironia sobre a recente eleição de Rui Rio para presidente
do PSD. De qualquer maneira, é bom não esquecer a recomendação de Louçã às
esquerdas no sentido de que “façam pela vida” sem se importarem com Rui Rio. Assinamos
por baixo
A primeira
semana de Rui Rio à frente do PSD foi boa. Mesmo muito boa. Não mexeu um dedo e
manteve um discreto quase silêncio, não deu demasiada importância ao dossier Hugo Soares, assunto que aliás pouco mais merece
do que uma réstia de paciência, não doutrinou, não propôs, nada de nada. Rui
Rio sentou-se à beira da árvore a contemplar o universo e, se tem opinião sobre
o pacto da justiça, sobre os números do desemprego, sobre o golo do Ronaldo do
Eurogrupo, sobre as putativas listas transnacionais que tanto ânimo levantaram
entre os deserdados eleitorais, sobre a Supernanny ou o canhão da Nazaré, tudo ficou pelo silêncio
bucólico. Se não conspirou, já tão longe não iria, mas essa atitude zen teve
pelo menos um efeito confortável para o PSD, tão agitado que andou nestes
últimos meses: pôs os outros a falar dele, todos às escuras. Seguem por isso
algumas recomendações a quem de direito sobre como agir ou não agir no caso do
empossado presidente do PSD.
Primeira
recomendação. Deixar seguir a caravana, mexer o mínimo possível. A disputa no
PSD foi entre soluções de recurso e espelhos do passado. Um candidato tinha
saudades de si próprio, o outro tinha saudades da sua câmara. São motivos
respeitáveis e até carinhosos para se atirarem ao cargo, mas dois sexagenários
a reverem glórias antigas está longe de ser a renovação refrescante que a
política de direita vai exigindo aos berros. Portanto, no PSD a novela segue
dentro de instantes: os cavaquistas ensaiarão a seu tempo o divórcio de Rio e,
entretanto, continuarão a fazer audições, com a galáxia do Observador, da Fundação Manuel dos Santos e de outros
distintos think tanks, para acharem um jovem empresário macronizável,
que pareça poder pegar nos estilhaços da próxima derrota eleitoral do PSD e CDS
e aconchegar uma política de charme populista à direita. Então, a melhor
estratégia, e esta é recomendação para o Governo, é deixar o PSD fazer das suas
e contrastar mostrando serviço ao país. Cada dia em que se sinta emprego melhor
ou mais confiança económica enterra os jogos intestinos do PSD.
Segunda
recomendação, esta para os parceiros de esquerda. Não se deixem impressionar,
não exagerem a pressão do PSD, que é pouca, e não ajudem o PSD a ajudar o PS a
ser o centro de referência da política. Portanto, nem tenham nem mostrem receio
quanto a pactos PS-PSD. Isso é fava contada: ou não resulta em nada, ou o que
resulta só dá mais má fama aos nefandos pactos. Atirem-se por isso a discussões
que interessam, como sobre a justiça e, mais do que tudo, prioridade das prioridades,
a saúde. O pacto Semedo-Arnaut sobre a nova Lei de Bases da Saúde é o que conta
neste debate, porque indica experiência e alternativa. Mostrem que têm
propostas pensadas, que sabem os caminhos para governar com soluções
mobilizadoras. E não se incomodem muito nem com os silêncios nem com as
palavras de Rio. Olhem em frente e não para o lado.
Terceira
recomendação. Os pontos fracos do PSD (e do CDS, cujo histrionismo de repente
se revelou atrapalhado pelo silêncio de Rio) são agora a justiça, porque não
sabe o que quer, as leis eleitorais, porque sabe o que quer mas tem vergonha de
dizer, e sobretudo os serviços públicos e a economia, porque com tudo o que
pode dizer é melhor ficar calado, como aquela de “fazer pior do que Maria Luís
Albuquerque”. A resposta do campo parlamentar maioritário só pode ser
ponderação na justiça, avanço nos serviços públicos, ignorar as leis eleitorais
e dar um passo em frente onde ele falta: corrigir as leis laborais criando um
fosso entre o Governo e a direita.
Em resumo, a minha recomendação é que o PS e as esquerdas deixem
o dr. Rio sossegado a fazer das suas e que façam pela vida.
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