domingo, 14 de janeiro de 2018

O IRÃO, DE 1978 A 2018…


A actual situação de agitação social no Irão tem sido objecto de notícias na comunicação social, com imagens de alguma violência nas ruas que revelam um descontentamento generalizado da população relativamente ao governo.
Nada como nos informarmos junto de uma fonte digna de crédito, que nos faça uma análise dos acontecimentos que estão a ocorrer naquele país do Médio Oriente e quais as suas origens. É o que podemos ler no texto seguinte, que transcrevemos do Diário de Coimbra da passada quinta-feira (11.1.2017), onde o autor, João Marques, Diplomado em Comunicação Social, nos transmite algumas causas do contexto que se vive actualmente no Irão.
Os últimos acontecimentos no Irão não fogem ao arbítrio mediático de que a comunicação, mesmo falsa, é privilegiada, em detrimento da informação e da sua investigação, como o comprovam os jornalistas presos, despedidos ou, simplesmente, assassinados.
Entre imagens de acontecimentos ocorridos na América Latina (México/Argentina) até ao cadáver de um jovem assassinado no Cairo, no conflito que opôs a irmandade muçulmana ao atual presidente Sissi, passando pela manifestação de trezentos mil no Bahrein, em 2011, tudo serve para as redes sociais alimentarem a crise que o Irão atravessa, surgindo agora, a explicação para as movimentações sociais em várias cidades como “a revolta dos ovos” ou, seguindo o regime, “grupos terroristas vindos do exterior, apoiados pelo trio habitual (sauditas, americanos e judeus) acrescido dos “mujahidin”, com sede em Paris. Basta de fingimentos. Nada foi dito do impacto social e económico das sanções decretadas pelos americanos, mesmo depois do acordo das principais potências mundiais sobre o nuclear iraniano e, muito menos, sobre as suas consequências no quotidiano persa. Agora, tivemos na rua operários das indústrias base, trabalhadores da petroquímica e do complexo energético, professores, reformados que não são remunerados há meses e simples cidadãos enganados nas transações bancárias. Com uma maioria da população jovem, com universidades de nível europeu na sua formação, com um terço no desemprego e cansados da imposição de regras religiosas, em que poucos já acreditam, só falta mais um pormenor para explosões sociais anunciadas: a corrupção que se estende dos “mullahs” às mais altas esferas religiosas e ao aparelho militar (guardas da revolução), mesmo nos investimentos decorrentes da sua ação no exterior (Síria/Líbano/Iraque).
Neste âmbito e depois de uma longa investigação, a agência Reuters revelou, no início do ano – nada que eu já não soubesse em termos de volume – que o ayatollah Ali Khamenei, 24 anos depois de chegar ao poder, através de uma organização (SETAD – sede para a execução das ordens do imã), está envolvido em quase todos os setores da atividade económica, da finança ao petróleo, da confiscação sistemática de bens imobiliários, de que detém o monopólio, gerindo verbas da ordem dos 95 mil milhões de dólares, apesar da opacidade que a própria Reuters reconhece. Mais uma vez, duas figuras estratégicas do poder iraniano são excluídas do baralho. Trata-se dos irmãos Larijani – Ali como presidente do parlamento tem o poder político que quer e Sadeq faz o mesmo com o que resta do poder judicial, mas ambos intocáveis nas suas decisões e património acumulado.
A última dinastia persa Reza Khan (1925) até Pahlévi (1979), quando o ayatollah Khomeini instaurou a República Islâmica, teve momento de grande evolução, seja quando o Xá iniciou uma reforma agrária, retirando todos os privilégios aos “mullahs” ou quando o primeiro-ministro Mossadegh – homem de uma cultura ímpar, tendo estudado em Paris na célebre “Sciences Po”, doutorado em direito na Suíça – nacionalizou a indústria petrolífera (1953), pelo que veio a ser afastado pela CIA, na já célebre “Operação Ajax”, então liderada pelo Presidente Roosevelt.
Tudo ficaria melhor esclarecido sobre os conflitos latentes na sociedade iraniana, a perda de vidas humanas, o escárnio com que é deliberadamente atingida a cultura persa se, dados históricos fundamentais para entender o que hoje se passa, fossem revelados na sua simplicidade. Exemplo: há 40 anos (5.1.78), realizou-se a denominada “Conferência de Guadalupe”. Aqui, Jimmy Carter, Giscard d’Estaing e outros líderes planetários optaram pelo fim da monarquia, o que veio a acontecer em Fevereiro do ano seguinte, apesar de vários contratempos.

Sem comentários:

Enviar um comentário