A
actual situação de agitação social no Irão tem sido objecto de notícias na
comunicação social, com imagens de alguma violência nas ruas que revelam um
descontentamento generalizado da população relativamente ao governo.
Nada
como nos informarmos junto de uma fonte digna de crédito, que nos faça uma
análise dos acontecimentos que estão a ocorrer naquele país do Médio Oriente e
quais as suas origens. É o que podemos ler no texto seguinte, que transcrevemos
do Diário de Coimbra da passada quinta-feira (11.1.2017), onde o autor, João Marques,
Diplomado em Comunicação Social, nos transmite algumas causas do contexto que
se vive actualmente no Irão.
Os últimos acontecimentos
no Irão não fogem ao arbítrio mediático de que a comunicação, mesmo falsa, é
privilegiada, em detrimento da informação e da sua investigação, como o
comprovam os jornalistas presos, despedidos ou, simplesmente, assassinados.
Entre imagens de
acontecimentos ocorridos na América Latina (México/Argentina) até ao cadáver de
um jovem assassinado no Cairo, no conflito que opôs a irmandade muçulmana ao
atual presidente Sissi, passando pela manifestação de trezentos mil no Bahrein,
em 2011, tudo serve para as redes sociais alimentarem a crise que o Irão atravessa,
surgindo agora, a explicação para as movimentações sociais em várias cidades
como “a revolta dos ovos” ou, seguindo o regime, “grupos terroristas vindos do
exterior, apoiados pelo trio habitual (sauditas, americanos e judeus) acrescido
dos “mujahidin”, com sede em Paris. Basta de fingimentos. Nada foi dito do
impacto social e económico das sanções decretadas pelos americanos, mesmo depois
do acordo das principais potências mundiais sobre o nuclear iraniano e, muito
menos, sobre as suas consequências no quotidiano persa. Agora, tivemos na rua
operários das indústrias base, trabalhadores da petroquímica e do complexo
energético, professores, reformados que não são remunerados há meses e simples
cidadãos enganados nas transações bancárias. Com uma maioria da população jovem,
com universidades de nível europeu na sua formação, com um terço no desemprego
e cansados da imposição de regras religiosas, em que poucos já acreditam, só
falta mais um pormenor para explosões sociais anunciadas: a corrupção que se
estende dos “mullahs” às mais altas esferas religiosas e ao aparelho militar
(guardas da revolução), mesmo nos investimentos decorrentes da sua ação no
exterior (Síria/Líbano/Iraque).
Neste âmbito e depois de
uma longa investigação, a agência Reuters revelou, no início do ano – nada que
eu já não soubesse em termos de volume – que o ayatollah Ali Khamenei, 24 anos
depois de chegar ao poder, através de uma organização (SETAD – sede para a
execução das ordens do imã), está envolvido em quase todos os setores da
atividade económica, da finança ao petróleo, da confiscação sistemática de bens
imobiliários, de que detém o monopólio, gerindo verbas da ordem dos 95 mil
milhões de dólares, apesar da opacidade que a própria Reuters reconhece. Mais uma
vez, duas figuras estratégicas do poder iraniano são excluídas do baralho. Trata-se
dos irmãos Larijani – Ali como presidente do parlamento tem o poder político
que quer e Sadeq faz o mesmo com o que resta do poder judicial, mas ambos
intocáveis nas suas decisões e património acumulado.
A última dinastia persa
Reza Khan (1925) até Pahlévi (1979), quando o ayatollah Khomeini instaurou a
República Islâmica, teve momento de grande evolução, seja quando o Xá iniciou
uma reforma agrária, retirando todos os privilégios aos “mullahs” ou quando o
primeiro-ministro Mossadegh – homem de uma cultura ímpar, tendo estudado em Paris
na célebre “Sciences Po”, doutorado em direito na Suíça – nacionalizou a
indústria petrolífera (1953), pelo que veio a ser afastado pela CIA, na já
célebre “Operação Ajax”, então liderada pelo Presidente Roosevelt.
Tudo
ficaria melhor esclarecido sobre os conflitos latentes na sociedade iraniana, a
perda de vidas humanas, o escárnio com que é deliberadamente atingida a cultura
persa se, dados históricos fundamentais para entender o que hoje se passa,
fossem revelados na sua simplicidade. Exemplo: há 40 anos (5.1.78), realizou-se
a denominada “Conferência de Guadalupe”. Aqui, Jimmy Carter, Giscard d’Estaing
e outros líderes planetários optaram pelo fim da monarquia, o que veio a
acontecer em Fevereiro do ano seguinte, apesar de vários contratempos.
Sem comentários:
Enviar um comentário