(…)
Quase
70% dos franceses estão contra a reforma da Segurança Social imposta por Macron
ao Parlamento, no meio de uma crise.
(…)
Os
franceses podem reformar-se aos 62 anos, mas só têm a reforma completa, sem
penalizações de 5% por ano em falta, aos 67.
(…)
A tese
é que se tem de trabalhar mais porque se vive mais.
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De
facto, em 2005, dois trabalhadores financiavam a pensão de um reformado. Hoje,
são 1,7.
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É possível
graças ao crescimento da produtividade. E seria ainda melhor se o crescimento
dos salários lhe fosse proporcional.
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Os
dois problemas europeus são, além do demográfico, a desaceleração da
produtividade e a perda relativa do peso do salário na economia.
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Os
sucessivos aumentos da idade da reforma são, eles sim, insustentáveis.
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O
aumento não será eterno e a idade de vida saudável não acompanha o aumento da
esperança de vida.
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Certo
é que o sistema está condenado se os salários continuarem a perder peso no
conjunto da economia.
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[Aí
pode dar-se o caso de termos] de trabalhar até morrer.
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Entre
2010 e 2015, o peso dos salários no PIB caiu de 47% para 44%. Entre 2015 e
2019, recuperou-se um ponto.
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Com a
pandemia as atividades pararam, o PIB caiu a pique e muitos continuaram a receber
salário, também graças ao Estado.
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Com a
inflação, os salários não estão a acompanhar os preços e regressamos ao ciclo
de desvalorização suspenso durante a ‘geringonça’.
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Uma
redução persistente que se baseia na aposta em setores intensivos em trabalho mal
remunerado, como o turismo.
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Salários
baixos levam à emigração dos mais qualificados, desperdiçando-se o investimento
em formação e agravando-se a crise demográfica, com perda de recursos que
paguem as nossas reformas.
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O
modelo de desenvolvimento que despreza os salários ou insiste no constante
aumento da idade da reforma, (…), não resultam de inevitabilidades
contabilísticas, mas de escolhas políticas.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
As
mais poderosas forças do mundo, boas, semiboas, más e muito más, vão todas no
mesmo sentido e sem controlo. O controlo é do domínio da pura ficção.
(…)
Há pouca coisa realmente mais apocalíptica nos dias de hoje
do que isto. O que é “isto”?
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O “pide” moderno é jovem, como os últimos
recrutamentos da PIDE em vésperas do 25 de Abril, e nem sequer precisa de ser
um nerd nem um hacker, mas apenas de saber usar os seus
instrumentos, que tem diante dos olhos.
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A
maior parte do que recolhe é legal, qualquer um o pode fazer, mas alguma parte
está na fronteira do abuso e outra é mesmo ilegal.
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A
questão é simples: se houver uma deriva autoritária (e em muitos aspectos estas
tecnologias “empurram” para essas derivas), o “pide” moderno não precisa de
qualquer lei especial, só acesso.
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Como
nos defendemos? Deixando de lado, ir para uma zona sem rede, não usar
multibanco nem telefone, não ter conta bancária, etc., etc., e mesmo assim tudo
imperfeito, não há defesa possível.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Gerações de jovens vêm sendo arrastados para a condição de trabalhadores
precários e de seres humanos despidos de muitos direitos.
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O aumento da esperança de vida é
apresentado como um fardo que bloqueia os horizontes aos jovens.
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Prega-se a pretensa supremacia do
individualismo sobre o valor do coletivo e do bem comum.
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É-lhes impingida [aos jovens] a ideia de
que trabalhar com direitos e deveres devidamente estabelecidos é uma velharia,
pois bastar-lhes-á serem "bons colaboradores".
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O caminhar da vida prova, dolorosamente,
que as fases iniciais de grandes sacrifícios, apresentadas como mera passagem
para futuros risonhos, se eternizam.
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Quando, umas décadas atrás, se iniciou o
arrastamento para o atual processo de precarização, ainda não eram necessários
aqueles floreados linguísticos.
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O processo foi-se alargando e, num ápice,
profissões qualificadas e muito qualificadas, que no início se imaginavam a
salvo deste mecanismo de exploração, foram sendo proletarizadas e colocadas em
condições de serem precarizadas.
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Muitos têm de trabalhar em vários
"empregos" no mesmo dia para formarem um rendimento minimamente digno.
A História não é uma ciência exacta, nem pode ter uma versão
demarcada nas tábuas do tempo.
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[Olhar para trás é antes] uma visão caleidoscópica que
está sempre a alimentar-se de novos pensamentos e de novas leituras.
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Durante
muitos séculos, a história era contada pelos vencedores que anuíam a incluir os
vencidos apenas como objectos da sua façanha.
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Ainda hoje, por exemplo, as histórias de África são
maioritariamente visões brancas do colonialismo.
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Para
lutar contra visões taxativas do presente e do passado é preciso que todos
tenhamos acesso às diferentes perspectivas, às maioritárias, às minoritárias,
às ortodoxas e às heterodoxas.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A ideia do IVA zero é tão má que nem sei por onde começar.
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O primeiro problema é que o IVA zero não se reflete
necessariamente nos preços.
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Embora o IVA seja formalmente um imposto pago pelos
consumidores, as empresas têm formas de capturar parte da descida.
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O impacto das descidas de IVA nos preços finais é de apenas
metade de uma subida equivalente.
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Colocar
a Autoridade da Concorrência verificar um acordo de concertação de preços entre
as empresas de distribuição só pode ser uma piada, pelo que espero que não se
venha a verificar.
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Mas à
medida que os meses passarem e que a estrutura de custos de cada produto se for
alterando, o que vai acontecer?
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E se
os preços ficarem congelados? Nesse caso, ainda é pior, porque uma eventual
descida de custos não se vai refletir no bolso das pessoas.
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Acresce o provável aumento nos preços não cobertos pela medida.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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