domingo, 12 de fevereiro de 2012

SER BEM COMPORTADO? NÃO!

Como todos pudemos constatar esta semana, a União Europeia (UE) pura e simplesmente não existe. Foi humilhante para os portugueses ver e ouvir a nosso ministro das Finanças de mão estendida perante o seu homólogo alemão a esmolar subservientemente a flexibilização do acordo de Portugal com a troika. Por muito que se queira fazer crer o contrário, a verdade é que a UE parece não contar para nada, a não ser para mestre-de-cerimónias.
Quanto mais subserviência os nossos governantes revelarem piores serão os resultados que obteremos. A este propósito, vale muito a pena ler com atenção o seguinte texto de Daniel Oliveira que encontrámos na última edição do “Expresso”.

ESTICAR A CORDA
“Com os privados, a Grécia só estava a renegociar uma pequena parte da sua dívida. Metade já estava nas mãos do BCE, FMI e ESEF. E grande parte da outra metade estava nas mãos dos hedge funds e da banca grega. Nos últimos dois anos, a banca alemã e francesa passou a batata quente para outros. Foi para isto, e não para a salvar, que a Europa manteve a Grécia ligada à máquina. De resto, os efeitos de um default grego no sistema financeiro foram muito reduzidos com o colapso do mercado de CDS e com os empréstimos do BCE, a três anos, aos bancos. Com todos a prepararem-se para a sua morte, o poder negocial da Grécia era quase nulo. Há dois anos poderia ter dado um murro na mesa. Os bancos franceses e alemães, muito expostos à dívida, e todo o sistema financeiro receoso de uma epidemia, teriam obrigado Merkel e SarKozy a chegar a um entendimento aceitável.
Dois anos passados, foi a Grécia à beira do caos que, num gesto desesperado, esticou a corda. E conseguiu qualquer coisa. O BCE, veja-se a generosidade, indicou a possibilidade de abdicar de juros que ia conseguir com os títulos da dívida que comprou, a saldo, nos mercados secundários. Ou seja, os Estados que se têm apresentado como vítimas do desvario grego prescindiram, por agora, de lucrar um pouco mais com a crise da Grécia. Se os gregos conseguiram isto quando a Europa já não tem muito a perder com a sua morte, imaginem o que teriam conseguido há dois anos, quando podiam causar estragos a sério. Porque começou a renegociar a sua dívida tarde de mais, a Grécia está obrigada a aplicar um programa económico demencial. E, mesmo com este balão de oxigénio, não se vai safar. Ainda assim fica a lição: nesta Europa, ser bem comportado não é a melhor estratégia.”

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