Internamente foram os partidos do arco do poder, ou seja PS, PSD e CDS que colocaram o país na difícil situação em que nos encontramos. As sucessivas advertências da verdadeira esquerda sobre as consequências da aplicação do memorando da troika estrangeira foram constantemente criticadas mas verifica-se agora que tudo o que foi vaticinado, desde Junho de 2011, veio a acontecer, para mal de todos nós. O Bloco foi, muitas vezes, apelidado de radical e extremista por dizer verdades que os troikistas portugueses não gostavam de ouvir. Entretanto, o tempo deu razão aos que chamavam a atenção de que o rumo seguido só conduziria ao abismo como agora se verifica sem margem para dúvidas. Neste momento, parece que só o Governo não quer ver essa evidência que se tornou consensual da esquerda à direita.
Mais um dos erros clamorosos que pode estar na calha é a privatização da Caixa Geral de Depósitos, mesmo parcial. A decisão é de tal maneira grave para o país que Nicolau Santos propõe hoje no Expresso que se realize um referendo nacional sobre este tema, como se pode ler no seguinte texto:
Oito razões para não se privatizar a Caixa
De repente entrou no discurso político, com grande naturalidade, a questão da privatização parcial da Caixa Geral de Depósitos. Que se saiba, não há um estudo fundamentado, um parecer de grande fôlego sobre o assunto. Privatiza-se porque sim, porque é necessário arranjar dinheiro para pagar a dívida, porque no Governo não se gosta da coisa pública. Não são boas razões. Pelo contrário, há pelo menos oito razões pelas quais a Caixa Geral de Depósitos não deve ser privatizada.
1)A CGD que tudo o que é público dê prejuízo – ao longo da sua história, desde Abril de 1876, a caixa foi sempre um dos maiores pagadores de impostos para os cofres do Estado. Além disso contribuiu de forma marcante para a modernização do sistema financeiro português ao longo de décadas, sendo um dos principais financiadores da economia nacional, sobretudo das pequenas e médias empresas.
2)A Caixa funciona como um regulador do mercado em muitas operações que ocorrem no mercado financeiro nacional (taxas de juro, operações nos mercados interbancários, concessão de crédito, etc.). Digamos que a CGD tem um papel complementar ao do Banco de Portugal, que está hoje em dia muito manietado pelo Banco Central Europeu na sua capacidade de intervenção no mercado. Nenhum banco privado pode cumprir este papel.
3)A Caixa tem sido usada pelo Estado para evitar que algumas empresas nacionais caiam em mãos estrangeiras. Cito o caso do Grupo Champalimaud (que, sem a intervenção do Governo e a atuação da Caixa teria ido todo para o Banesto, hoje Santander) e a compra da Compal pela Sumolis.
4)Há quem considere que é por isso que se deve privatizar a Caixa, para evitar a sua utilização pelos políticos. O problema não é da Caixa. É de quem está à frente dos destinos da Caixa que, nesse aspeto, tem tido altos e baixos. Por exemplo, a forma como o representante do Governo para as privatizações obrigou a CGD a vender a sua participação na Cimpor é lamentável.
5)A Caixa cumpre um visível papel de coesão territorial do país, ao manter abertas, em locais recônditos, agências que servem populações isoladas dos grandes centros urbanos. Alguém duvida que, logo após a privatização parcial, muitas dessas agências serão encerradas por motivos económicos?
6)A Caixa é o último reduto de confiança dos depositantes no sistema financeiro português. Por muito que haja bancos privados sólidos, os depositantes olham para a Caixa como o banco onde nunca perderão o seu dinheiro, aconteça o que acontecer. E nos últimos trinta anos, a Caixa absorveu quatro instituições, a última das quais, o BPN, para evitara a corrida aos bancos privados.
7)A venda da CGD não resolve o problema da dívida nacional. Pelo contrário, nas atuais condições de mercado, essa venda será feita ao desbarato, reduzindo drasticamente o valor de uma instituição que representa um quinto do mercado financeiro nacional.
8)A criação de um banco de fomento serve apenas para justificar a privatização da Caixa. A CGD pode ser esse banco de fomento – e é, neste momento, o banco que mais e em melhores condições financia as PME nacionais.
Por tudo isso, a privatização da caixa não faz sentido. E a privatização parcial ainda menos. Porque é abrir a porta à privatização total. E é deixar que alguém mande a 100% na CGD, pagando apenas 20% da instituição.
Se o Governo persistir nesta ideia, o tema merece um referendo nacional.