quinta-feira, 22 de novembro de 2012

ESTAGNAÇÃO ECONÓMICA, DESEMPREGO, EMIGRAÇÃO…


Há perto de 70 anos que não temos uma situação de desemprego e subemprego tão elevada como agora. Os números oficiais do desemprego estão muito aquém do número real de pessoas que não têm trabalho que atingirá nesta altura uma taxa de 23,7% da população activa. Do valor astronómico de desempregados, cerca de 1 milhão não recebe subsídio. Segundo dados do próprio Governo, nos últimos cinco anos terão emigrado, em média, 130 mil portugueses por ano, sem perspectiva deste número se alterar, a não ser para pior.

O que fazem os nossos governantes depois de se verificar que a austeridade só agrava a crise? Acrescentam mais medidas de austeridade, parecendo querer experimentar até onde vai a paciência do povo português.

Perante a catástrofe social que estamos a viver, alguma coisa irá acontecer se os nossos governantes não mudarem o rumo das políticas que estão a levar a cabo. Os acontecimentos da noite de 14 de Novembro parecerão uma brincadeira com o que poderá estar para chegar…

O desemprego e as consequências da crise é o tema de um artigo de opinião (*) que Manuel Loff assina hoje no Público. Deixamos aqui as partes mais relevantes desse artigo para encurtar a sua leitura. O sublinhado é nosso.

(…)

Perto de 900 mil portugueses estão oficialmente desempregados, devidamente inscritos nos centros de emprego. Um em cada seis trabalhadores. Outros 250 mil estão disponíveis para trabalhar, mas já não procuram emprego; outros tantos estão subempregados: total, 1,4 milhões, 23,7%! (Eugénio Rosa, estudo de 15.11.2012) Imaginem toda a população ativa do Norte do país sem trabalho: é essa a dimensão da desgraça. De todos estes, apenas 370 mil recebem um subsídio, cada vez mais reduzido; um milhão não recebe; alguns talvez recebam ainda o que resta do sempre minguante Rendimento Social de Inserção (50-100€/mês, na maioria dos casos). A pobreza toma conta deles todos. Se muitos começaram a comprar uma casa há anos atrás, já a terão devolvido ao banco e dela sido despejados - e não têm para onde ir num país onde não se constrói habitação social há mais de 10 anos... A partir do momento em que se perde o emprego, e num contexto em que todos os serviços básicos deixam de ser assegurados gratuitamente, toda a vida se torna um risco permanente, uma ameaça de cair num buraco de desesperança e angústia. Qualquer problema de saúde pode transformar-se numa aventura fatal. Os filhos a cargo deixam de poder ser apoiados. Transportes mais caros e menos subsidiados dificultam a procura e a possibilidade de aceitar um novo emprego. Ter 40 anos, 35 até, passa a ser sinónimo de velhice laboral - e ter 25 anos, sinónimo da moderna escravatura da eternização dos estágios não remunerados...

(…)

Nunca, desde 1945, tivemos um desemprego e um subemprego tão altos. Quando nos apercebemos que a sangria da nova emigração é mais intensa hoje que nos anos 60 (segundo o secretário de Estado José Cesário, 650 mil portugueses terão emigrado nos últimos 5 anos, isto é, 130 mil/ano, enquanto que nos anos de 1960-73, os da guerra colonial, emigravam 100 mil/ano), damo-nos conta do tsunami social a que estamos submetidos. Uma vez mais, a maioria dos portugueses não acredita poder sobreviver no país em que nasceu; 70% dos jovens universitários pensam emigrar. Contem-nos Gaspar, Passos, a troika e os cronistas liberalões a história que nos queiram contar, de que a culpa é nossa e de que da austeridade virá a competitividade futura, mas nada do que nos contem pode explicar um tão rápido e brutal retrocesso.

Com a austeridade sem fim à vista - Merkel diz que a teremos 5 anos mais (e quem melhor do que ela para impor o futuro?), o banqueiro Ulrich antevê dez mais -, a crise, que está a mudar as relações sociais e a cultura de convivência em Portugal, dificilmente deixará intacto o sistema político. As anteriores crises não deixaram; é natural que esta não deixe.

Em geral, as consequências políticas de uma crise socioeconómica dependem de três tipos de condicionantes: a correlação de forças entre os grupos sociais que ganham e perdem com a crise; a perceção que os que pagam a fatura social da crise têm da origem desta e das suas hipóteses de resistência e de ganhar a iniciativa política para mudar para melhor as suas vidas; e o papel do Estado, quer quanto ao seu comportamento na gestão da própria crise (mais próximo do capital ou do trabalho), quer quanto à consistência da sua autoridade (maior ou menor capacidade para impor, até pela violência, as suas políticas e a proteção dos poderosos que querem ver os seus interesses triunfar perante a crise).

Em 2012, ao fim de 11 anos de estagnação económica, primeiro, e depois do assalto aos rendimentos e aos direitos dos trabalhadores da indústria, dos serviços públicos e privados, dos reformados das classes populares e médias, dos jovens e dos imigrantes (os mais abusados de todos), conseguirão articular-se todos estes grupos e produzir/provocar uma alternativa política? Ou, pelo contrário, conseguirá quem hoje detém o poder político impor esta transferência brutal de riqueza do trabalho e impostos para um capital que vê as suas margens de lucro internacional descer perante competidores que pagam ainda menos salário aos seus trabalhadores? É a autoridade do Estado português ainda suficientemente consistente para impor esta espécie de liberalismo autoritário, primeiro cancelando direitos sociais para depois, em caso de resistência bem sucedida, cancelar direitos políticos?

(*) Crise e mudança

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