A criminosa política de austeridade imposta pela Alemanha e seguida
pela Comissão Europeia tem vindo sucessivamente a arrasar Estados e Povos. A
tal ponto que, depois dos sitos periféricos do sul – Grécia, Irlanda, Portugal
e Espanha – chegou a vez das economias pujantes do centro da Europa, como
surpreendentemente aconteceu com a Holanda onde “no curto espaço de três semanas, tudo parece desmoronar-se. Quem o diz
é a imprensa internacional, de matriz neoliberal, como, por exemplo, o “The
Economist”. Num artigo recente, a revista escreve que as dívidas das famílias
atingem os 250 por cento do rendimento disponível, o dobro da Espanha. O
crédito malparado disparou e os preços do imobiliário desceram 16,6%, em cinco
anos, prevendo-se que esta queda aumente em sete por cento, até ao final do
ano.
Os alarmes já soaram, nos
bancos, que têm investidos mais de 650 mil milhões de euro, no sector
imobiliário. Os investidores só conseguem as remunerações acordadas com os
fundos para investimentos anteriores a 1999. Nos mais recentes, os juros de
rendimento caíram a tal ponto que já se compara a situação, com o Subprime,
iniciado nos Estados Unidos, em 2007. Todos os dias aumenta o número de
hipotecas imobiliárias que ficam por pagar. O Estado já teve de resgatar um
banco.
A colecta fiscal deu também um
enorme trambolhão, fruto do encolhimento da economia. Para 2013, prevê-se mais
uma queda que o FMI prevê que seja da ordem dos 0,5 por cento. Mas outros
analistas dizem que será maior.
Como principal consequência, o
desemprego já subiu para 8,1 por cento, com tendência a aumentar, como
reconhece o primeiro-ministro Mark Rutte.
Ele tinha um plano de
austeridade, avaliado em 16 mil milhões de euros, que pretendia aplicar em
quatro anos. Mas perante o mau desempenho da economia, parece desorientado,
receando que a receita não seja a mais apropriada.
Rutte atribui o crescimento do
desemprego á crise no sector imobiliário que, praticamente travou a construção.
Mas os analistas, mesmo os holandeses, dizem que há outras causas, incluindo os
incentivos fiscais dados por este Governo ao sector financeiro que reduziram o
investimento na economia produtiva, para valores que já não se viam há 18 anos.
Em 2012, a Holanda registava um
saldo positivo da balança comercial de 67 mil milhões de dólares. Mas os dados
do primeiro trimestre deste ano apontam para uma quebra acentuada, porque os
seus principais clientes pertencem à zona euro e estão também em retracção. A
crise, afinal, também existe no Norte, para desespero da senhora Merkel. E não
há uma Senhora de Fátima que valha aos holandeses” (*).
Como se percebe, no fundo, as causas da austeridade vão sempre dar, em
última instância, ao capital financeiro cujas mordomias não podem ser tocadas –
o Estado holandês já teve de resgatar um banco, obviamente, com o dinheiro dos
contribuintes. É em todo o lado a mesma coisa – as populações a servirem de
carne para canhão do capital financeiro. Ainda são poucos os exemplos? Até
quando irá esta situação durar?
(*) Sérgio Ferreira Borges, Diário de Coimbra (19/5/2013)
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